“O prêmio confirmou que estamos no caminho certo, mas ainda há um trabalho importante pela frente. Seguimos com o compromisso de transformar essa tecnologia em um suplemento inovador, sustentável e acessível”, diz a professora Elita Scio

A startup “FitoFit: Pesquisa e Desenvolvimento” conquistou o segundo lugar do Prêmio Péter Murányi, que reconhece trabalhos com foco na melhoria da qualidade de vida das populações de países em desenvolvimento. A iniciativa empreendedora surgiu no Laboratório de Produtos Naturais Bioativos (LPNB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sob coordenação da professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Elita Scio Fontes, hoje conselheira científica da empresa. 

O trabalho premiado com R$30 mil, de autoria de Elita e da pesquisadora doutora e Mara Lucia de Campos Resende, trata-se da criação de um suplemento alimentar para controle de alterações metabólicas. Produzido a partir de folhas da embaúba, planta medicinal da espécie Cecropia pachystachya, o suplemento possui propriedades diuréticas, anti-inflamatórias e hipoglicemiantes. 

No Laboratório, os compostos bioativos da embaúba foram analisados e caracterizados, com destaque para os polifenóis, conhecidos por suas atividades antioxidantes. Em seguida, foram realizados estudos pré-clínicos, que avaliaram a capacidade do suplemento de atuar no controle do peso e nas alterações metabólicas associadas à obesidade, conforme explica a professora.

“Os resultados mostraram que o suplemento pode ser um importante aliado na prevenção do ganho de peso e na manutenção do equilíbrio metabólico. Entre os achados, destacam-se a melhora da tolerância à glicose, redução da gordura subcutânea, diminuição do estresse oxidativo no tecido adiposo e impacto positivo na esteatose hepática [também conhecida como gordura no fígado].”

Esta é 23ª edição do prêmio, que este ano teve como tema “Alimentação”. A classificação reconheceu os três melhores trabalhos avaliado pelo painel de jurados, composto por 68 especialistas. “O Prêmio Péter Murányi confirmou que estamos no caminho certo, mas ainda há um trabalho importante pela frente. Seguimos com o compromisso de transformar essa tecnologia em um suplemento inovador, sustentável e acessível, valorizando a biodiversidade brasileira e trazendo benefícios concretos para a saúde metabólica da população.”

De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, lançado em março, 68% da população brasileira tem excesso de peso. Dessas, 31% têm obesidade e 37%, sobrepeso. A doença é um dos principais problemas de saúde pública mundial.

Escala de produção

Segundo a diretora científica da FitoFit, Mara Lúcia de Campos Resende, com os resultados promissores, a empresa está agora em fase final de testes regulatórios antes de chegar ao mercado. Os próximos passos incluem a finalização das análises de toxicidade, testes clínicos em humanos, para a validação da eficácia e segurança do produto, e a aprovação regulatória para a comercialização como suplemento alimentar.

Produto é resultado de pesquisa de doutorado de Mara Lucia Resende, orientada por Elita Scio, no  Laboratório de Produtos Naturais Bioativos (Foto: Vitor Ramos)

“Uma das preocupações do projeto foi garantir que o extrato produzido em laboratório pudesse ser reproduzido em escala industrial. Para isso, foi firmada uma parceria com uma indústria especializada, que confirmou a viabilidade do escalonamento. A transição do processo de bancada para escala industrial foi altamente satisfatória, validando a produção contínua e em larga escala do extrato bioativo. Isso assegura que o insumo possa ser fabricado em quantidades suficientes para atender à demanda comercial, sem comprometer sua qualidade e eficácia.”

Para Mara, o reconhecimento reforça a importância da pesquisa científica aplicada à prevenção de doenças metabólicas e destaca o papel da inovação no desenvolvimento de soluções acessíveis à população. “Além da visibilidade para o empreendedorismo científico, o prêmio viabiliza etapas regulatórias essenciais, aproximando a pesquisa acadêmica do mercado e atraindo potenciais parceiros interessados em levar as descobertas científicas ao mercado nacional e internacional.”

Da esquerda para direita: Mara Resende, Elita Scio e Martha Bessa, responsáveis pela startup (Foto: arquivo pessoal)

Reconhecimento para além dos muros da Universidade

A FitoFit é dirigida pelas egressas do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas, que realizaram o doutorado sob orientação de Elita Scio.  A professora explica que a empresa nasceu da vontade de levar a pesquisa científica além dos muros da Universidade e transformá-la em uma solução real para a saúde. 

Fundada em 2021, a ideia surgiu a partir da tese de doutorado da Mara, que investigou compostos bioativos da embaúba e suas aplicações na saúde metabólica. A pesquisa evoluiu, alcançou resultados promissores e a tecnologia foi patenteada pela UFJF. 

Antes do prêmio Péter Murányi, a FitoFit já tinha obtido reconhecimento nacional, sendo uma das tecnologias identificadas no projeto Emerge Amazônia. Para a diretora de desenvolvimento, Martha Eunice de Bessa, a equipe segue comprometida “em desenvolver produtos inovadores, aproveitando os ativos presentes em plantas da nossa biodiversidade para promover a saúde, impulsionar a bioeconomia e fortalecer a indústria nacional.”

Outras informações:

Fundação Péter Murányi

FitoFit

Laboratório de Produtos Naturais Bioativos

Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia