Prédio do Hospital Universitário, referência em doenças raras

No HU-UFJF, pessoas com hanseníase são atendidas na unidade Dom Bosco toda quarta-feira, no período matutino (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

No Brasil, a Lei nº 12.135/2009 instituiu o último domingo do mês de janeiro como Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase e, desde 2016, por iniciativa do Ministério da Saúde, o mês de janeiro ganha a cor roxa para organizar ações nacionais de conscientização e prevenção contra a doença que, ainda cercada de preconceitos, tem cura e é tratada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Em Juiz de Fora, o Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), oferece tratamento por meio do Ambulatório de Hanseníase, ligado à Unidade de Especialidades Clínicas.

De acordo com a médica dermatologista Annair Freitas do Valle, coordenadora do Ambulatório de Hanseníase do HU-UFJF, a doença é classificada como infecto-contagiosa, apresenta evolução crônica e é causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou “bacilo de Hansen”. É transmitida, principalmente, pelas vias aéreas superiores, por um indivíduo doente com alta carga bacilar, após contato íntimo e prolongado.

“Há diferentes fatores que dificultam o diagnóstico”, ressalta a profissional. “Acredito que seja uma doença negligenciada, estigmatizante e subdiagnosticada, com um período de incubação muito longo, chegando a oito anos ou mais. Sendo assim, continua sendo transmitida de indivíduo para indivíduo. Se não for tratada ou tiver diagnóstico tardio, pode causar sequelas permanentes, como déficits motores e sensoriais, parciais ou totais, dependendo da gravidade.”

Além de quebrar a cadeia de transmissão, o diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações. Logo, é importante identificar os sintomas que devem acender um sinal de alerta. Os principais indicativos de hanseníase são: o aparecimento de manchas na pele, mais claras ou avermelhadas, com perda ou diminuição da sensibilidade; dormência ou formigamento nas mãos ou pés; dor ou sensibilidade nos nervos periféricos; inchaços na face ou nos lóbulos das orelhas; feridas ou queimaduras indolores nas mãos ou pés.

Atualmente, o tratamento medicamentoso disponível para a doença é realizado com poliquimioterapia única (PQT-U), associando três fármacos: rifampicina, dapsona e clofazimina. “Em casos de sensibilidade a qualquer uma dessas drogas, ou resistências terapêuticas, existem esquemas alternativos”, assinala a médica.

No HU-UFJF, pessoas com hanseníase são atendidas na unidade Dom Bosco toda quarta-feira, no período matutino. Dependendo do diagnóstico, o paciente realiza acompanhamento mensal, por um período de seis meses a um ano, e é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, que conta com médicos dermatologistas, fisioterapeutas, técnicos em Enfermagem, assistentes sociais e psicólogos.

Segundo dados do Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase no Brasil, divulgados pelo Ministério da Saúde, quase 20 mil novos casos da doença foram registrados no país entre janeiro e novembro de 2023. Em Minas Gerais, foram 957 – seis deles em Juiz de Fora. 

Para Annair Valle, a conscientização é o caminho para combater o preconceito e promover a saúde. “Esclarecer a população a respeito da hanseníase pode proporcionar um melhor controle sobre essa doença milenar e estigmatizante, evitando o preconceito e incluindo esses indivíduos socialmente”, conclui.