Professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participaram dos debates da III Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, realizada com o objetivo de atualizar as diretrizes da agenda específica para Juiz de Fora e atuar no combate a todas as formas de discriminação e preconceito. O evento foi uma das etapas locais preparatórias da 4ª Conferência Nacional LGBTQIA+, que será realizada em maio de 2025, em Brasília (DF). A iniciativa é do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ (CNLGBTQIA+) em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). 

Com o tema “Construindo a Política Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”, o evento contou com quatro eixos temáticos. Um deles, com o mote “Enfrentamento à Violência”, foi ministrado pelo professor Anderson Ferrari, do Departamento de Educação da UFJF. Outro eixo, sobre “Interseccionalidade e internacionalização”, foi presidido pelo diretor de Relações Internacionais da UFJF, Alexandre Cadilhe.

Enfrentamento à Violência 

O Brasil é um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+. De acordo com o Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, em 2023, 230 LGBTs morreram de forma violenta no país – 184 assassinatos, 18 suicídios e as outras 28 mortes tiveram relação com outras causas. 

Para Ferrari, educação machista justifica violência contra comunidade LGBTQIA+. “Os homens podem ser sensíveis, delicados sem que isso ameace suas masculinidades, seu gênero” (Foto: Giulia Vaz/UFJF)

Na avaliação de Anderson Ferrari, o combate à violência à comunidade LGBTQIA+ é relacionado à educação. Segundo o docente, esse processo educativo não se limita à escola e se expande por todos os espaços sociais. 

“Quando nascemos, já viemos em um mundo discursivamente organizado, de tal forma que somos mais resultado de discurso do que propriamente produtores deles. Minha aposta é que para combater a violência, temos que colocar sob suspeita nossas formas de pensar e agir. A questão é fazer as pessoas se inquietarem com as seguintes questões: por que eu penso o que penso? Por que faço o que faço?”

Para Ferrari, os números de violência contra a comunidade LGBTQIA+ no Brasil têm relação com a existência de uma educação machista e LGBTQIA+fóbica. “Isso diz respeito a uma educação dos gêneros em que, para ser homem, é preciso negar a mulher e o homossexual. Os homens são afastados de tudo que se aproxima do que é feminino. Isso precisa ser melhorado. Temos que educar os homens numa perspectiva da pluralidade. Os homens podem ser sensíveis, delicados sem que isso ameace suas masculinidades, seu gênero”, destaca. 

Diversidade de gênero, sexualidade e imigração

Alexandre Cadilhe aponta que LGBTQIA+fobia é fator que motiva migrações entre países (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Para Alexandre Cadilhe, condutor dos debates sobre interseccionalidade e internacionalização, quando se pensa em diversidade de gênero e sexualidade, é preciso levar em consideração outros marcadores sociais, como raça, etnia, classe social e localidade. Ainda de acordo com o professor, parte dos fluxos migratórios que acontecem no mundo atualmente são marcados pela discriminação contra a população LGBTQIA+. 

“A gente tem hoje cerca de 70 países em que a homossexualidade é considerada um crime e, por conta disso, temos o fluxo migratório de toda uma população LGBTQIA+. Quando nós temos uma conferência nacional que, pela primeira vez na história, traz o tema da internacionalização, significa que, de alguma forma, ela está atenta aos fluxos de imigração e refúgio que são gerados por uma demanda de diversidade de gênero e sexualidade”, reflete.

Ainda de acordo com Cadilhe, existe um grande desafio em obter registros de como acontece esse fluxo migratório. Isso porque, quando uma pessoa LGBTQIA+ migra, há omissão em admitir que está em um fluxo de imigração por uma demanda LGBTQIA+. O motivo é o medo do preconceito. “Muitos dos que migram para cá, vem com esse receio de trazer essa justificativa diante do poder público. Isso se torna extremamente dificultoso, o que acaba por trazer um desafio de registrar esses casos.” 

Para o professor, a conferência municipal também é importante por promover uma interlocução com o poder público. “Sobretudo é um compromisso de justiça social. Participar dessa conferência foi uma oportunidade de saber como a população de Juiz de Fora vem pensando nas questões de gênero, sexualidade, diversidade e tudo aquilo que envolve a pauta LGBTQIA + nas suas demandas e necessidades. E com essa oportunidade é uma forma também de pensarmos o lugar da Universidade.”

A III Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ foi realizada no último mês de maio.