Paulo Menezes desenvolve “brinquedos científicos” voltados ao ensino de ciências (Foto: Marcella Victer)

“O que é ciência?” perguntou Paulo Menezes, pesquisador da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em encontro com os alunos da Escola Municipal Gilberto de Alencar no bairro Náutico, em Juiz de Fora, na última quarta, 29. Após cochichos, alguns estudantes chegam à conclusão: “ciência é copiar!” No fim da visita, os alunos perceberam que a ciência está muito mais próxima do “brincar” do que da cópia do que está escrito no quadro-negro. 

O encontro é uma iniciativa do projeto de extensão “A ciência que fazemos”, da UFJF, que procura aproximar o conhecimento acadêmico do público e desconstruir a imagem estereotipada do cientista na comunidade.

Curiosidade cria o cientista 

“Sabe o que vocês precisam para fazer ciência?”, provoca Menezes. “O que toda criança tem naturalmente?”. “Eu me tornei cientista por causa da criança curiosa que fui”, responde. Ele conta que quando era pequeno não tinha brinquedos “industrializados”, divertia-se criando seus próprios brinquedos. “Eu aprendi a fazer pipa porque meus primos só me deixavam brincar com as deles quando já estavam destruídas”, lembra. 

De carrinhos a pernas de pau, relógios e rádios desmontados, a trajetória do pesquisador na ciência foi atrelada a brincadeiras desde a infância. Atualmente, Menezes estuda e desenvolve “brinquedos científicos” para auxiliar no ensino de ciências.

Desenvolvendo hipóteses brincando 

Joaninha teimosa foi destaque entre os estudantes (Foto: Marcella Victer)

Entre os muitos brinquedos mostrados pelo cientista, um dos grandes destaques foi a chamada “joaninha teimosa” que, de acordo com Menezes, recusa-se a ficar de cabeça para baixo. Entregou a joaninha aos alunos e desafiou: “tentem colocar ela de cabeça para baixo!”. Várias tentativas; alguns estudantes conseguiram fazer com que ela ficasse de lado, mas nenhum conseguiu mantê-la para baixo. Comparavam a “joaninha teimosa” com a joaninha normal, que ficava de cabeça para baixo se colocada nesta posição.

As observações começaram: “A teimosa é mais pesada que a outra!”, “Tem alguma coisa dentro dela”, “Eu sei! É um imã!”. O pesquisador interrompe e começa uma pequena demonstração de como funciona o método científico: “Vamos fazer uma hipótese: o colega de vocês falou que tem um imã dentro da joaninha teimosa. Essa é a nossa hipótese. Como podemos testá-la?”. Prontamente alguns alunos já concluíram: “encosta em um metal!”. Assim foi feito e nenhuma atividade magnética foi detectada. 

O pesquisador explicou que ao montar a joaninha teimosa ele mudou o centro de gravidade do brinquedo para que ele funcionasse. A joaninha é feita com metade de uma esfera de isopor e, para que ela continue voltando a ficar em pé, o cientista precisou modificá-la um pouco. “Coloquei um pequeno chumbo de pesca em um dos lados da joaninha. Então, quando ela é colocada de cabeça para baixo, o chumbo pesa e ela volta a ficar de pé”, esclarece o professor.

A importância da brincadeira no ensino

Anna Carolynne Alvim Duque ao lado de Paulo Menezes (Foto: Marcela Victer)

“A universidade está sempre de portas abertas. É um espaço público, é de todos nós”, declara o pesquisador, ao final do encontro. “É importante falar para eles que coisas do dia-a-dia, o remédio de pressão que a mãe deles toma, por exemplo, só existe por causa da ciência”, acrescenta Anna Carolynne Alvim Duque, professora de ciências dos estudantes.  Na avaliação de Anna, a sequência de aulas exclusivamente teóricas é sacrificante para os alunos. “Eles têm que chegar às 7 horas, as professoras passam a matéria e eles vão embora. No fim, eles não veem o sabor e a lógica das coisas. Isso vai se perdendo”, destaca. 

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