Rodrigo Stephani, do Departamento de Química da UFJF, instigou os alunos da Escola Estadual Maria Elba Braga a pensarem como a química é aplicada no dia a dia (Foto: Marcella Victer)

Bebês não precisam de água? Por que tem bicarbonato de sódio no doce de leite? Os insetos são a comida do futuro? Muitas perguntas rodearam o encontro conduzido pelo pesquisador Rodrigo Stephani do Departamento de Química da UFJF, na última sexta-feira, 17, na Escola Estadual Maria Elba Braga.

O cientista foi à escola para conversar com os estudantes sobre a química dos alimentos no cotidiano. O encontro faz parte do projeto de extensão “A ciência que fazemos” da UFJF, que aproxima a pesquisa científica das escolas públicas de Juiz de Fora e busca desconstruir a imagem estereotipada do cientista.

O primeiro – e mais completo – alimento

“Você sabia que quando uma criança nasce, ela não precisa de água?” Essa foi uma das primeiras perguntas feitas por Rodrigo Stephani para dar início ao bate-papo. Ele, que estuda a química dos alimentos, explicou a curiosidade de maneira simples: “os bebês só precisam do leite materno por um longo período da vida deles porque ele tem todos os nutrientes necessários para suprir todas as demandas daquele recém nascido, inclusive a água”, desenvolve o professor. 

Mas, a partir de um certo ponto, explana Stephani, o leite materno deixa de ser suficiente para formar um humano saudável, e as necessidades nutricionais passam a ser outras. “Depois disso, são as suas escolhas que vão suprir a sua necessidade”, comenta o professor.

“Tudo tem química” 

De forma descontraída e com uso de vários exemplos, Stephani conduzia os alunos a conhecer melhor alguns ingredientes inusitados presentes em alguns alimentos. “Conhecem o bicarbonato de sódio?”, questiona o professor. Depois de algumas respostas positivas e justificativas como “tomamos quando estamos com azia!”, Stephani continua: “sabe onde mais encontramos bicarbonato de sódio? No doce de leite. A mesma molécula que consumimos para a azia, também usamos para dar a cor característica do doce de leite”, relata. 

Ao pensar nos mais variados alimentos que conhecemos, o professor justifica que a química está em tudo. “Se você analisar a composição de uma banana, vão aparecer várias substâncias químicas. Tudo tem química. A questão é que você deve fazer a escolha daquilo que você consome de acordo com a sua necessidade”, pontua Stephani. O pesquisador destaca que a comida está relacionada ao prazer, e que ficamos satisfeitos quando estamos bem alimentados.

“As pessoas são felizes quando estão com o estômago cheio, mas ficam aborrecidas e frias quando estão com fome. Isso acontece porque a comida muda completamente a percepção das coisas”, reflete o pesquisador. Para provar seu ponto, Stephani tira uma caixa de balas de goma de seu material e distribui pacotes para os alunos. Em seguida, o professor pede que cada um mastigue a bala de goma enquanto tampam os narizes e, logo depois, pede para destampar. As expressões mudam de imediato: o aroma das balas interfere no gosto delas e, ao destampar o nariz enquanto mastigavam, o sabor se intensificou no paladar dos alunos.  “Quando você está com o nariz tampado, você não consegue perceber tudo o que o alimento está te entregando”, esclarece o cientista. 

Insetos: o alimento do futuro?

Alunas ficaram curiosas diante dos insetos comestíveis (Foto: Marcella Victer)

Stephani então mostra algo conhecido entre os alunos: o “Danoninho”. Comentando sobre os ingredientes que compõem o produto, o cientista mostra um saquinho com um pó cor-de-rosa. Trata-se do corante natural carmim cochonilla, retirado do inseto cochonilla, originário do México. “Se você já comeu danoninho, você já comeu parte de um inseto”, comenta Stephani, espontâneo. 

Natália Maria Alves é doutoranda no Departamento de Química da UFJF e pesquisadora parceira da universidade. Alves apresentou à turma mais alguns diferentes saquinhos, com larvas e insetos, e tomou a palavra: “essas espécies têm muita proteína. Cada uma delas tem mais de 60% de proteína. Vários alimentos que a gente consome no nosso dia a dia não chegam nem à metade desse percentual”, avalia a pesquisadora. “Então, por que não estamos usando isso para o nosso benefício?”, questiona.

A pesquisadora alega a mudança no mercado, que está se voltando para produtos que contêm alto teor de proteína e aponta as vantagens do consumo de insetos não só para a alimentação, mas também para a produção e criação de animais. “Se compararmos a criação de animais de grande porte com a de insetos, é muito benéfico investir nesse tipo de alimentação. Não precisa ser uma substituição total, mas a introdução desse alimento é importante não só para nós, consumidores finais, mas para o mundo em geral, pois o gasto em ração, água e território é bem menor”, justifica Alves.

A UFJF como próximo passo

“A UFJF é a porta inicial para vocês. Você pode estudar ciência lá. Eu já estive no lugar de vocês e, no futuro, quem vai fazer ciência são vocês”, incentivou Stephani, ao fim do encontro, convidando os alunos a conhecer o Departamento de Química e visitar o campus.

Lucas Portela, estudante do terceiro ano, relata que costumava pensar em cientistas como “pessoas de jaleco branco olhando em microscópios”, mas o encontro o ajudou a pensar na ciência como um campo mais abrangente. “Foi muito interessante, o professor trouxe muito conteúdo e várias informações que eu não sabia. Eu sei hoje que a ciência é mais complexa e tem várias nuances”, comenta o estudante.

“O encontro foi muito proveitoso. Os alunos ficaram muito satisfeitos e interessados inclusive em visitar o departamento de química”, avaliou Beatriz Jabour, professora de biologia da escola. 

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