O 6º Simpósio Científico do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios/Brasil (Icomos/Brasil) recebeu, nesta segunda-feira, 11, no Cine-Theatro Central, o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak. Doutor Honoris Causa pelas universidades federais de Juiz de Fora (UFJF) e de Brasília (UnB), Krenak também foi eleito imortal da Academia  Brasileira de Letras (ABL), em outubro deste ano. 

Líder indígena criticou o colonialismo e suas principais características: exploração, controle cultural e doutrinação política, militar e econômica (Foto: Carolina de Paula/UFJF)_

Durante a solenidade de abertura, Krenak abordou assuntos como desmatamento, invasão de territórios e produção de cultura. Para o líder indigena, o patrimônio sempre foi algo que devemos proteger. Ele contou que, desde a juventude, sempre aprendeu que deveria proteger seu território, como florestas e rios. Krenak criticou o colonialismo e suas características principais: exploração, controle cultural e doutrinação política, militar e econômica.

“Eu desconfiava da ideia de patrimônio cultural porque, durante muito tempo, ele foi um instrumento de diferenciação de privilégio daqueles que poderiam acessar os bens culturais e os lugares onde, nós, periferias humanas, não poderíamos chegar. Eu olhava isso com desconfiança e, de certa maneira, foi se constituindo para mim uma observação crítica de que isso é colonialismo, tem a marca forte do poder instituído pela ganância e pelo status social.”

Dentro desse contexto, Krenak também falou sobre a extinção das línguas indígenas no Brasil. Apesar de o país ter a língua portuguesa como idioma oficial, o Brasil possui mais de 200 línguas indígenas, sendo que, no passado, chegou a ter mais de 900, entre meados do século XVIII e XIX. “O extermínio dessas línguas é a erosão cultural do que poderia ser a nação brasileira. A gente empobrece a possibilidade plural quando impedimos que essas línguas minoritárias sejam relacionadas ou inseridas na nossa sociedade, assim como as nossas expressões de cantar, falar e contar histórias e de se comunicar de modo geral. Centenas de línguas foram e estão sendo silenciadas pelo racismo cultural.” 

Acerto de contas
Para o diretor geral de projetos do Icomos – Brasil e do Centro de Conservação da Memória (Cecom) da UFJF, Marcos Olender, Juiz de Fora precisa acertar as contas com o passado e trazer o tema sobre patrimônio cultural e direitos humanos com a presença do ambientalista e líder indigena Ailton Krenak, considerado um dos maiores pensadores do Brasil, é um presente que a cidade recebe.

“Juiz de Fora precisa resolver o seu passado. A cidade quase exterminou povos indígenas. Após o ciclo do ouro, foi uma das regiões do Brasil que concentrou muitos escravos por conta do café. Infelizmente também teve grande participação na época da ditadura militar. O simpósio se faz muito necessário com esse tema cada vez mais fundamental, quando o patrimônio e a democracia brasileira estiveram ameaçados nos últimos anos”.

Valores contemporâneos
O reitor da UFJF, Marcus David, ressaltou que sediar o Simpósio no Cine-Theatro Central, que possui 94 anos, é uma honra para a Universidade. Segundo ele, o patrimônio cultural é um reflexo da sociedade, e, além de preservar a história, espelha os valores contemporâneos de democracia e de justiça. 

“A promoção e a proteção do patrimônio é um dever essencial para o fortalecimento da democracia. Estamos reunidos aqui não apenas para discutir o patrimônio cultural, mas para refletir como ele se entrelaça com a luta pela democracia, pela justiça e pela valorização da diversidade cultural em nosso país, especialmente em um momento tão conturbado como o atual no âmbito do Brasil e do mundo.”

A cerimônia de abertura contou também com apresentações musicais do Coral da UFJF e da oficina de samba Paticumbum, e com uma homenagem à Krenak pelo diretor do local, Luiz Cláudio Ribeiro, que compôs uma canção com a parceria do cancioneiro e letrista Kadu Mauad.

Programação e inscrições
O 6º Icomos/Brasil se estende até esta quinta-feira, 14. A programação conta com palestras e oficinas, cujas temáticas variam entre questões como o respeito aos direitos e à cultura dos povos originários, escravidão transatlântica, ditaduras civis-militares, violações aos direitos humanos e conflitos socioambientais. 

As atividades acontecem no anfiteatro do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF e também têm transmissão on-line. Interessados podem se inscrever no site oficial do evento, onde também é possível encontrar a programação completa. 

O Simpósio é promovido pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult) e pelo Cecom da UFJF, entre outras entidades.