Em um de seus momentos de inspiração, em meio às nuvens do Olimpo, Dionísio percebeu que mais lugares do mundo precisavam da magia do teatro. Haveria vinho para uma volta ao mundo espalhando as sementes da atuação? Talvez não. Mas eis que surge uma epifania e o deus da alegria decide escolher alguns fiéis arautos a fim de que espalhassem entre os povos, a beleza e o poder do encenar. Juiz de Fora e o Brasil receberam um deles: José Luiz Ribeiro.

Um mito? Um episódio? Que o próprio mistério do teatro trate de nos envolver nessa jornada. Fato é que, José Luiz Ribeiro, ator, dramaturgo, diretor, cenógrafo, iluminador, compositor, artista plástico e um tanto de outras definições – algumas talvez ainda não catalogadas – completa em novembro de 2023, suas seis décadas nos palcos. Para celebrar esta data, a Galeria de Arte do Forum da Cultura recebe a exposição “José Luiz Ribeiro: 60 anos de Teatro”.

Mostra tem conceito teatral para representar cada um dos campos em que José Luiz Ribeiro já atuou (Foto: Divulgação)

A abertura da mostra ocorre na próxima quarta-feira, dia 15 de novembro, a partir das 19h, e contará com a presença do grande homenageado, compartilhando com todos os presentes, um pouco sobre sua trajetória na vida e em cena. Após abertura, às 20h, ocorre a apresentação do espetáculo “O Golpe”, do Grupo Divulgação (GD), trabalho mais recente com autoria de José Luiz. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.

Na curadoria da exposição encontra-se a atriz, coordenadora dos projetos de extensão do GD e professora da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Márcia Falabella, que ao longo de 37 anos segue como grande parceira de José Luiz Ribeiro. Uma amizade fundida como ferro, sob o calor dos canhões de iluminação, e que pela ocasião da mostra, também é celebrada. De acordo com a docente, “conceber esta exposição foi um desafio tremendo, por que são 60 anos de um extenso trabalho que perpassa as áreas de atuação, direção, dramaturgia, cenografia, iluminação, composição e, inclusive, artes plásticas. Dessa forma, optamos por um conceito de teatralidade para representar cada um desses campos em que José Luiz atuou, com alguns elementos marcantes.”

Exposição também celebra entrada do artista na Academia Brasileira de Cultura (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Os visitantes terão a oportunidade de revisitar e se reencontrar com personagens icônicos que ganharam vida através da arte de Zé Luiz, nome pelo qual é carinhosamente reconhecido por todos à sua volta. São diversas fotografias, um painel que pinça cenas memoráveis de obras e da vida, algumas premiações, além de cartazes criados pela mente e mãos do grande artista, entre eles, o pôster de “Beijo no asfalto”, que compõe o livro “O Cartaz no Teatro”, obra fartamente ilustrada com os cartazes das peças teatrais que brilharam nos palcos brasileiros desde 1917.

Também estão presentes na mostra alguns figurinos confeccionados para peças como “Escola de Mulheres” (1970), “O Mercador de Veneza” (1988), “O Burguês Fidalgo” (1991), entre outros espetáculos. Muitas das indumentárias foram criadas por José Luiz, juntamente com sua esposa, Malu Ribeiro. Um verdadeiro desfile que nos leva ao encontro de universos e enredos que encantaram gerações.

Aos apaixonados por detalhes, serão apresentadas miniaturas de cenários que ficaram eternizados através de espetáculos do Grupo Divulgação. Serão exibidos lustres, candelabros, colunas, mobílias e outros diversos objetos presentes na composição das mais belas cenas, todos elaborados com máximo de cuidado e precisão, a fim de representar a realidade da forma mais fidedigna. As obras foram produzidas ao longo de anos, por alunos do projeto de maquetes cenográficas, e funcionam como uma forma de manter vivas as memórias e um trabalho de extrema importância ao teatro juiz-forano e nacional.

O público também poderá se emocionar e descobrir um pouco mais sobre a história, trabalho e desafios de José Luiz ao longo de sua carreira, através de uma entrevista exibida em telão no espaço da exposição.

Um imortal imortal

Ser imortal é viver para sempre. Mas não um viver carnal. É um viver nas mentes e corações. É ser presente. José Luiz Ribeiro já alcançou este patamar há anos. Colegas de palco, estudantes, amigos de faculdade, atores, professores, o grande público… Todos, de alguma forma, já foram tocados pela arte do grande mestre.

E eis que agora, tal título é reforçado com sua consagração como o mais novo imortal da Academia Brasileira de Cultura. A cerimônia será realizada no dia 14 de novembro, na sede da instituição, localizada no Rio de Janeiro. Ribeiro ocupará a cadeira de número 53, cujo patrono é o poeta juiz-forano Murilo Mendes (1901-1975).

Figurinos de personagens encarnados por Ribeiro estão presentes na mostra (Foto: Divulgação)

Nesse ínterim, a nova mostra também chega como uma forma de celebrar este merecido reconhecimento por parte da cultura nacional.

“José Luiz é um visionário por ter resistido esses anos todos. São seis décadas de uma intensa e volumosa produção capitaneada por ele. Esse quadro é ainda mais impressionante, quando pensamos que com seus 81 anos, ele segue realizando este trabalho com uma vitalidade invejável. Ele é um verdadeiro multiplicador da arte teatral, por isso, merece todos os aplausos”, destaca Márcia Falabella.

Seja vencendo a censura com o silêncio questionador que nasce de uma faixa branca na boca, seja mantendo-se de pé, mesmo diante de muros de incompreensões que ameaçam cair, seja ainda lutando contra quimeras modernas que tentam afastar o povo dos espaços teatrais… José Luiz Ribeiro segue demonstrando que a sua arte é a permanência. É a fidelidade a um ideal maior, o qual o moveu anos atrás e que continua sendo sua força motriz. Sua arte é manter as cortinas abertas e as luzes acessas. Vida longa ao teatro. Vida longa a José Luiz Ribeiro!

Forum da Cultura e Extensão Universitária

Em 1971, a Faculdade de Direito, que funcionava em um casarão na rua Santo Antônio, centro de Juiz de Fora, estava de mudança para o campus universitário, localizado no bairro São Pedro. José Luiz propõe ao então reitor da UFJF, Gílson Salomão, adaptar o anfiteatro da faculdade para um teatro e transformar a antiga casa em um ponto de cultura: proposta aceita, nasce o Forum da Cultura da UFJF, inaugurado em 1972.

Trajetória de Ribeiro pode ser conferida em painéis e em entrevista exibida em telão (Foto: Divulgação)

É nesse espaço que a companhia teatral passa a fazer Extensão Universitária – em 1985 tem início o projeto Escola de Espectador, que oferece convites a estudantes de escolas públicas e integrantes de associações de Juiz de Fora e região, o que contribui para a formação e a diversificação do público de teatro.

A relação entre José Luiz Ribeiro e o Forum da Cultura é tamanha que, dos seus 60 anos de teatro, 51 deles foram intensamente vividos entre as paredes do imponente casarão. Neste espaço, ele já entregou mais de 250 montagens ao público, além de também ter atuado na direção do próprio equipamento cultural, entre os anos de 1998 e 2012. Presença e trabalho que conferiram ao Forum da Cultura uma aura diferenciada, encantada, motivo pelo qual, não poderia deixar de ser o local a receber uma mostra que homenageia Ribeiro.

Para a diretora do Forum da Cultura da UFJF, Marise Mendes, a ocasião é sinônimo de comemoração e muita honra. “Celebrar 60 anos de teatro é para poucos. E que orgulho de a maior parte dessa trajetória ter sido vivenciada no Forum da Cultura. José Luiz Ribeiro optou fazer arte para sua aldeia, e foi mesclando com ensino, pesquisa e extensão que proporcionou cultura para comunidades e escolas de periferia. Nessa profissão de fé, ele expandiu seu trabalho para todas as idades, da adolescência à terceira idade. Obrigada, José Luiz, por se doar para a arte, a cultura, a cidadania, o coletivo”, finaliza ela.

 Galeria de Arte

O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos.

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Endereço e outras informações

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306

Convite da exposição