A terceira edição do Encontro de Saberes da UFJF – campus Juiz de Fora foi aberta nesta sexta-feira, 22, com aula do reitor da Universidade Holística Internacional da Paz (UniPaz), Roberto Crema. O professor instigou reflexões sobre, entre outros temas, aspectos de culturas ancestrais do México e do Brasil; valorização do pensamento sintético, integrador e apontou excessos de racionalidade.
Conforme Crema, houve avanços consideráveis de tecnologias, da neurociência e outros campos científicos, mas não se avançou em áreas da alma, em estar-se presente e em comunhão com o mundo interno e externo. “Nos perdemos em conhecimentos. Não é fácil se tornar humano”, destacou o professor, diante de um anfiteatro lotado no Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
Para um avanço, seria necessário se iniciar em outras epistemologias e modos de pensar e viver o mundo e si mesmo. Pensar o mundo, conforme o professor, com base em saberes ancestrais, é silenciar os diálogos internos, o excesso de pensamento sobre o passado e o futuro. É, entre outros modos, estar presente, observar. “Há uma plena atenção e uma plena intenção, lançando a flecha do intento”. Nesse sentido, a ciência não deve ser alienada, mas ser desperta para sua dimensão social, questionando também para quem ela está produzindo.
“Podemos pensar este Encontro também como de não-saberes. O que sabemos é finito. O que não sabemos é infinito. Por isso, quem entra em uma trilha iniciática vai se tornando humilde. É a diferença entre um Buda e um Zé Ninguém. Um Zé Ninguém sabe tudo; um Buda, nada, e, por isso, está sempre sorrindo.”
E como lidar em um tempo de inteligência artificial que aparentemente sabe tudo? Se Gilberto Gil canta limitações do cérebro eletrônico, que faz quase tudo, mas “não me dá socorro no meu caminho inevitável para a morte”, Crema também vai nessa direção. “Os algoritmos não serão capazes do não-saber, do silêncio, de uma dança ao redor da fogueira, do encantamento de um instante.”
Para que o ser humano não se fixe em um modo quase mecânico, “inflacionado pela razão”, o antropólogo e psicólogo valoriza a intuição, o feminino, o saber ancestral, o modo sintético de pensar caracterizado por integrar informações e vivências de várias fontes para uma visão mais ampla e integrada. Esse modo já é empregado por comunidades ancestrais.
Outro aspecto destacado sobre os saberes tradicionais é que a ancestralidade tem apreço por processos, tendo ciência de que um fato, como pandemia ou atentado terrorista, tem desenvolvimento de longa data. Essa conduta se opõe, de certa maneira, à sociedade do espetáculo – conceito desenvolvido pelo pensador francês Guy Debord (1931-1994), que se relaciona à supervalorização de imagens, mídia e representações, culminando em consumo, entretenimento, espetacularização da vida e relações humanas mais superficiais. Nessa visão, eventos históricos ganham conotação espetacular e muitas vezes sem compreensão sociohistórica.
Percepções
Para a estudante de Ciências Biológicas e cozinheira, Marina Ávila de Ávila, um dos pontos que chamaram a atenção na aula foi sobre o aspecto não-dualista da existência, em que bem e mal não são eliminados ou totalmente opostos. “A gente sempre vive em um mundo muito dual, ou é bem ou mal, ou a gente faz isso, ou aquilo. Pode ser que não exista essa dualidade entre ‘ser do bem, ou ser do mal’”. Outro ponto que despertou interesse da estudante foi o respeito a todas as coisas, incluindo não-materiais. “Como cozinheira, a gente tem muito respeito aos alimentos.”
Outro participante, o aluno Hiram Rodrigues, de Cinema e Audiovisual, destaca falas de Roberto Crema sobre o quanto as pessoas não observam uma às outras, não se olham. “Parece algo pequeno, um detalhe, mas influencia em escala maior se prestarmos atenção no outro e no mundo”, aponta o estudante.
Antes da aula, o Encontro foi aberto oficialmente pelos professores Daniel Pimenta, Gustavo Soldati e Carolina Bezerra, e pelo diretor do Jardim Botânico da UFJF, Breno Moreira, que estão coordenando o evento, e pela pró-reitora adjunta de Extensão, Fernanda Cunha. O Encontro é um programa de extensão da UFJF, oferecido como disciplina a seus estudantes de graduação e pós-graduação, e como curso ao público em geral.
Nesta edição, o primeiro módulo “Povos Indígenas: na brisa da cura” prossegue até este domingo, 24, somente para pessoas inscritas. No sábado, 23, a aula será com o pajé Tohõ Pataxó e, no domingo, a condução será da liderança indígena Anuiá Yawalapiti.
Outros dois módulos serão realizados: “Sociobiodiversidade: salvaguarda dos saberes tradicionais”, de 20 a 22 de outubro, e “Cultura quilombola: resistência em festa”, de 24 a 26 de novembro.
No campus Governador Valadares, está sendo realizada a primeira edição do Encontro de Saberes. As atividades começaram no dia 18 de agosto e continuam até 27 de outubro.
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