Professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participam do 13º Simpósio Brasil-Alemanha em Fronteiras da Ciência e Tecnologia (Bragfost), que acontece entre esta quinta-feira, 21, e domingo, 24. O encontro é realizado na cidade de Bremen, na Alemanha, com o seguinte tema: “Mudanças climáticas e os desafios para um desenvolvimento sustentável”. Aproximadamente 60 pesquisadores brasileiros e alemães integram as atividades do encontro, organizado em conjunto pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação Alexander von Humboldt, vinculada ao governo alemão.
A UFJF será representada pelos pesquisadores Thiago Nascimento, do Departamento de Enfermagem Básica, e Julliane Dutra Medeiros, do Departamento de Biologia. Eles integram um conjunto de 60 cientistas brasileiros e alemães, que atuam em universidades, instituições de pesquisa e na indústria.
O simpósio é composto por uma série de conferências interdisciplinares. Os pesquisadores têm a oportunidade de apresentar seus trabalhos, o que pode criar uma transferência de conhecimento e métodos, além de futuras colaborações internacionais. Apenas professores convidados participam do evento.
Efeitos das mudanças climáticas na saúde
De acordo com o professor Thiago Nascimento, o convite para participar do simpósio surgiu a partir de sua atuação junto ao Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade de Farmácia. O docente irá apresentar resultados de pesquisa com o tema “Mudanças climáticas e emergência viral: vigilância sobre as infecções por arbovírus em uma cidade brasileira”.
O estudo tem como objetivo avaliar o impacto e a dinâmica da cocirculação dos vírus da dengue, chikungunya e zika vírus e sua relação com as condições climáticas. As análises vêm sendo feitas desde junho de 2023, com o uso de amostras enviadas ao Laboratório de Biologia Molecular.
As três doenças são transmitidas pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Um vetor secundário é o mosquito da espécie Aedes albopictus. As mudanças nos padrões de temperatura e precipitação podem gerar condições mais favoráveis para a transmissão dos vírus e permitir a reemergência das doenças.
“Estudos têm demonstrado que as alterações climáticas estão contribuindo para o aumento das temperaturas globais e padrões alterados de precipitação, ocasionando a expansão tanto dos arbovírus quanto dos mosquitos que os transmitem. Esse fator contribui para um cenário de transmissão do vírus em regiões subtropicais e temperadas e que merece ser estudado para saber quais regiões do mundo estão em risco hoje e também no futuro”, avalia Nascimento.
Já a professora Julliane Medeiros irá apresentar resultados de pesquisa com o título “Explorando genomas bacterianos e resistência antimicrobiana: uma perspectiva de Saúde Única”. Assim como as alterações climáticas, a resistência de bactérias, fungos, vírus e parasitas à antimicrobianos, como os antibióticos, é mais um desafio para a saúde mundial, dificultando o tratamento de infecções.
A resistência antimicrobiana é um fenômeno natural impulsionado pela competição microbiana por recursos dentro dos ecossistemas. Mas a utilização excessiva de antimicrobianos na medicina humana, na veterinária e na cadeia de produção alimentar, aliada à poluição dos solos e das águas, contribui para o fenômeno. Esse contexto faz com que genes de resistência foram transferidos para diversas espécies de microrganismos, especialmente para bactérias.
Ainda de acordo com o texto, estudos sobre o tema têm sido realizados sob a perspectiva de Saúde Única (One Health). Esta abordagem considera que as saúdes humana, animal e do ecossistema estão ligadas e que são necessárias estratégias integradas para compreender e enfrentar os desafios relativos à saúde.
“Nosso grupo de pesquisa, que envolve diversos outros professores da UFJF, da área de microbiologia e ecologia, visa estudar o fenômeno da resistência através de análises do genoma de bactérias multirresistentes isoladas de diferentes fontes – por exemplo, alimentos”, explica a docente.
UFJF com “um passo à frente”
Na avaliação de Julliane Medeiros, a participação no Bragfost é de grande importância para a internacionalização da UFJF, ao conectar pesquisadores de diferentes países e instituições. Para a professora, a possibilidade do estabelecimento de colaborações com pesquisadores brasileiros e alemães que são referências em suas áreas de atuação pode abrir portas para os alunos da Universidade em instituições estrangeiras.
“As mudanças climáticas e os desafios para o desenvolvimento sustentável são assuntos que serão discutidos por pesquisadores de diferentes campos da ciência. A UFJF ter representatividade nesse tipo de discussão nos coloca um passo à frente.”
O professor Thiago Nascimento destaca que o evento atende aos objetivos globais de sustentabilidade previstos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e, além disso, “busca a transversalidade, conectando pesquisadores de diferentes campos da ciência e da tecnologia”.