O concerto “Dois mares: música entre dois mundos”, com apresentação neste sábado, 29, às 20h, com entrada franca, na Igreja do Rosário, transita entre Velho e Novo Mundo, de forma a apresentar um repertório variado da música ibero-americana do século XV à modernidade. O programa é interpretado de forma original pelo Grupo 1500, dirigido pelo guitarrista espanhol Andrés Diaz, que, na ocasião, colabora com a flautista e cantora argentina Diana Baroni. Músicos de Espanha, Cuba, Argentina e Brasil compõem o “ensemble”, que realiza essa união através da música, na apresentação integrante da programação do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga.

Dirigido por Andrés Díaz, o grupo Música Antiga 1500 é uma formação vocal e instrumental dedicada à interpretação da música antiga (Foto: Divulgação)

O cravista Marco Orsini-Brescia (ITA-BRA) é um dos músicos que se apresentam. Segundo ele, ao promover uma mescla entre o período colonial e o moderno, entre a música erudita e a popular, o concerto assume “uma proposta crossover sólida, de notável coerência e fundamentação musicológica”. No programa, Brescia interpreta ao cravo obras do compositor italiano Domenico Zipoli (Prato, 1688 – Córdoba, 1726), que publicou uma edição de referência para a música de tecla barroca italiana, as “Sonate d’intavolatura per organo e címbalo” (Roma, 1716), e, após um período de noviciado junto dos jesuítas de Sevilha, emigrou para as missões jesuíticas da Argentina, onde veio a falecer. 

“A obra de Zipoli composta na América foi recolhida pelo jesuíta suíço Martin Schmidt e levada por ele para as missões de Chiquitos, na Bolívia, onde foi recopilada, em 1746, em manuscritos que, afortunadamente, chegaram aos nossos dias”, informa Brescia. “Zipoli é, nesse sentido, um compositor entre dois mundos, que, ao deixar o prestigiosíssimo posto de organista do Gesù de Roma e, seguindo as suas inquietudes religiosas, ruma ao Novo Mundo, onde influencia e se deixa influenciar pelo mundo colonial iberoamericano, representando um nexo perfeito entre Velho e Novo Mundo, duas margens distantes, opostas, unidas pelo mar da música”, conclui o cravista. 

A Igreja do Rosário fica à Rua Santos Dumont, nº 215 – Granbery, Juiz de Fora, MG. A entrada é franca e não há distribuição de ingressos. Todos os concertos são precedidos de palestras ministradas pelo professor do Departamento de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, uma hora antes, nos mesmos locais das apresentações.

Programa
Toccata in re minore – Domenico Zipoli (1688-1726)
Dezid flor resplandeciente –  Anônimo, s. XV
Señora del mundo – Anônimo, s. XVI
Canción Nahuatl – Tradicional, México
Pues mi Dios – Tradicional, México

Tocada – Domenico Zipoli
Al Post Comunio in fa maggiore – Domenico Zipoli
Xochipilzahuatl (Flor menudita) – Canto devocional tradicional, México
Hanacpachap Juan Pérez Bocanegra? (c.1560-1645)
Xicochi , xicochi – Gaspar Fernandez (1566-1629)

Retirada del Emperador de los dominios de España – Domenico Zipoli
Primavera – Domenico Zipoli
Allá se me ponga el sol – Juan Ponce (c.1480-1521?)
El fandanguito – Tradicional, México
Las Olas del Mar – Tradicional, México
Que he o que vejo – Anônimo, s XVI
Nao tragais borzeguis pretos – Anônimo, s XVI
La Petenera Huasteco – tradicional, México

Folías – Domenico Zipoli
Señora de hermosura – Juan del Encina (1468-1529)
Folías – Antonio Martin i Coll (c.1660-c.1734)
Dos estrellas le siguen – Manuel Machado (c.1585-1646) 

Diana Baroni, voz e traverso
Belén Bermejo, voz e percusão
Luane Voigan, voz
Rafael Guel, violões, flautas e percussão
Roberto Santamarina, fídula e violino barroco
José Manuel Díaz, contrabaixo
Andrés Díaz, flautas, vihuela e direção
Marco Orsini-Brescia, cravo

 Diana Baroni (ARG/FRA) – canto e flauta 

Natural de Rosario, Argentina, Diana Baroni tornou-se uma artista que nunca se sente confortável com fronteiras (Foto: Divulgação)

Natural de Rosario, Argentina, Diana Baroni iniciou seus estudos com diversos instrumentos musicais: violão, piano, canto e flauta. Aos 14 anos, decidiu-se definitivamente pela flauta, que, mais tarde, a levou à Yehudi Menuhin Academy in Gstaad, Suíça. De volta a Buenos Aires, desenvolveu uma intensa carreira com o repertório contemporâneo e em produções teatrais do CETC – Centro Experimental del Teatro Colón. Entre a música contemporânea e clássica tem início a sua eclética jornada. 

Em 1997 transferiu-se para a Europa para estudar a interpretação histórica da música antiga em Basiléia, Suíça, na prestigiosa Schola Cantorum, prosseguindo os seus estudos de flauta em Amsterdam, com Wilbert Hazelzet e Ied Wentz. A partir de então, passa a colaborar ativamente com os ensembles The Rare Fruits Council, Ensemble Vedado, Musiciens du Louvre, Ensemble Stravaganza, Orchestra Svizzera Italiana, sendo membro fundador do renomado grupo Café Zimmermann, onde foi flautista solista por mais de 12 anos, tendo gravados álbuns dedicados à obra de J. S. Bach, que, além de terem recebido os mais importantes prêmios da crítica especializada, são hoje uma referência para a interpretação historicamente informada da obra do compositor alemão.  Seus projetos de música barroca foram gravados com o cravista Dirk Boerner, tais como as sonatas de Johannes Mattheson e Johann Sebastian Bach, aclamados pela imprensa europeia. Criou o I LUDI MUSICI com Sarah van Cornewal, com o intuito de revisitar o repertório de Câmara do século XVIII em torno da flauta barroca. 

Como professora, Diana é frequentemente convidada pelo Centre de Musique Barroque de Versailles, Dartington International Summer School e a Académie International de Sablé sur Sarthe. Sua curiosidade musical a levou a explorar outros horizontes musicais, criando discos únicos, revisitando o repertório latino-americano, afirmando a sua sensualidade, inovação e criatividade, tanto como performer quanto como musicista. Colaborando com o Brodsky Quartet, Tunde Jegede ou o Alter Quintet, seu talento lhe permitiu integrar a inventividade da música contemporânea com a riqueza da música ameríndia e folclórica da América do Sul. Numa busca constante pela fusão musical, Diana se tornou uma artista que nunca se sente confortável com fronteiras, o que lhe permite explorar a música, os seus tesouros e questionar os seus limites. www.dianabaroni.com 

Rafael Guel (MEX/HOL) – violões, flautas, percussão
Nascido em Zacatecas, México, em uma família de músicos, Rafael Guel começou muito cedo a se interessar e estudar as músicas e os instrumentos de música tradicional da América Latina, ingressando na escola de música Ollin Yoliztlia, do México. Em 1977, funda o grupo Coihue e, a partir de 1981, passa a integrar o grupo Mapu, que alcançou grande popularidade. Começa a desenvolver um trabalho de campo com os povos de Chiapas e Oaxaca. Através dessas viagens e estadias em terras indígenas da região, Rafael adquire um grande conhecimento e compreensão da música tradicional mexicana. Esses intercâmbios permitem que o músico se converta em artesão e construtor de flautas tradicionais, ocarinas e pequenos instrumentos de percussão. 

Radicado em Amsterdam desde os anos 1990, colabora com diversos conjuntos de música tradicional até que, em 1999, conhece Diana Baroni, com quem inicia uma colaboração ininterrupta em torno da música colonial afro-peruana, que gerou frutos como o disco “Son de los Diablos”. Além da sua carreira como músico, desenvolve um frutífero trabalho como artesão e construtor de instrumentos de corda pulsada, como guitarras tradicionais, renascentistas e barrocas, fornecendo também rosetas de papel por encomenda a diferentes e prestigiosos construtores europeus. 

 Grupo 1500 (ESP)
Dirigido por Andrés Díaz, o grupo Música Antiga 1500 é uma formação vocal e instrumental dedicada à interpretação da música antiga. Seu repertório abrange desde a música composta nos séculos centrais e finais da Idade Média até a música do Renascimento e do primeiro barroco, tomando como referência central o ano 1500, que dá nome ao grupo. Os seus membros contam com uma ampla trajetória concertistica, colaborando assiduamente com outras formações de âmbito nacional e internacional, tais como Martin Codax, Resonet, Malandança, Vox Stellae, Il Combattimento, Fia na Roca, Vai Trío, Favola d’Argo, Cuarteto Alicerce, Pres de Cambrai, Silva de Sons, Ensemble Rosarum Flores Áustria, VIVID Consort ou BAUBO Collective. 

Para a interpretação e elaboração dos diferentes programas, o grupo busca o máximo de rigor histórico e conceitual, empregando nas suas interpretações uma ampla gama de instrumentos medievais e renascentistas. Além da atividade concertistica, o Música Antiga 1500 desenvolve outros projetos relacionados à música, desde sua concepção e criação até a execução: trilhas sonoras para projetos audiovisuais, concertos, oficinas e materiais didáticos para centros de ensino, conservatórios e escolas de música e atividades formadoras e de divulgação para adultos. Desde a sua fundação em 2005, o grupo tem-se apresentado em diversos festivais pela Europa, destacando sua participação nas celebrações do VIII centenário da peregrinação de São Francisco de Assis a Santiago de Compostela, uma tournée pela Áustria em 2017 junto do grupo Rosarum Flores, e a gravação do CD para o livro Venecia Abandonada, do poeta Eduardo Estévez. www.grupo1500.es 

Marco Orsini-Brescia (BRA/ITA) – cravo

Orsini-Brescia interpreta ao cravo obras do compositor italiano Domenico Zipoli (Foto: Divulgação)

Pianista, organista, cravista e clavicordista ítalo-brasileiro, Marco Orsini-Brescia iniciou sua formação musical em casa. Sua mãe, Denise Orsini, foi quem conformou as mãos da criança de seis anos ao piano, dando-lhe uma sólida técnica. Mais tarde, Orsini-Brescia estudou com Clotilde Lobo de Rezende e Sergio Magnani. O encontro com Vera Nardelli foi decisivo para o jovem de 20 anos, resultando, em 1997, no primeiro lugar no X Concurso Nacional de Piano Arnaldo Estrella. 

Em 2000, Marco Orsini-Brescia mudou-se para a Espanha, após receber uma bolsa do governo espanhol para o renomado curso internacional de piano da Escuela Superior de Música Reina Sofia, ministrado em Santander pelo pianista norte-americano Russel Sherman. No ano seguinte, Orsini-Brescia participou do Curso Internacional de Música Antiga de Daroca, também na Espanha, sob a orientação do grande mestre da tecla ibérica José Luis González Uriol, que foi uma influência decisiva na sua trajetória musical, descortinando-lhe o mundo da música antiga e impulsionando a sua paixão pelos instrumentos de tecla histórica e o seu repertório. 

De 2014 a 2018, Orsini-Brescia realizou o seu pós-doutorado em Musicologia Histórica na Universidade Nova, de Lisboa, como bolsista da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de Portugal. Em 2013, concluiu o seu doutorado conjunto em Musicologia Histórica nas Universidades Paris IV–Sorbonne e Nova, de Lisboa, recebendo a menção máxima, très honorable à l’unanimité. No mesmo ano, obteve, sob a orientação do organista Javier Artigas, o mestrado em Música Antiga / Órgão Histórico conferido conjuntamente pela Escola Superior de Música de Catalunya e Universitat Autònoma de Barcelona, sendo agraciado com a prestigiosa matrícula de honor. 

Marco Orsini-Brescia apresenta-se regularmente em concertos nas mais ilustres salas e festivais internacionais da Europa, América Central e América do Sul. Desde 2006 forma um aclamado duo com a sua mulher, a soprano Rosana Orsini, com quem gravou o reconhecido álbum “Angels and Mermaids: religious Music in Oporto and Santiago de Compostela (18th / 19th century)” (Arkhé Music, Portugal, 2016). O seu disco solo “Zipoli in Diamantina: complete organ works” (Paraty, França, 2020) foi uma das gravações destacadas da revista espanhola Scherzo e disco recomendado pela francesa Diapason, tendo sido entusiasticamente recebido pela crítica internacional especializada e transmitido pela Bayerischer Rundfunk, Alemanha. O seu trabalho em prol da restituição do órgão histórico de Diamantina (1787) foi reconhecido pelo Governo do Estado de Minas Gerais com a Medalha de Honra do Presidente Juscelino Kubitshek. 

Paralelamente à sua intensa atividade artística, Orsini-Brescia é também um dos mais reconhecidos musicólogos no campo da organologia do órgão ibérico, ministrando conferências nos mais reputados congressos musicológicos internacionais e publicando trabalhos científicos de impacto na matéria. Desde 2019, é pesquisador da Faculdade de Ciências Humanas / Universidade Nova, de Lisboa, onde atualmente é coordenador do grupo Música no Período Moderno / Cesem – Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. www.marcobrescia.com   

Outras informações
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