Evento será realizado em 25 de maio e programação inclui seminário, exposição de imagens e textos, desfile de vestimentas representativas, além de degustação de pratos típicos (Foto: João Guilherme)

“A África não é um país!”. O óbvio ganha caráter de informação oportuna e necessária no universo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), para que a comunidade acadêmica e a sociedade em geral sejam conscientizadas sobre a diversidade de um continente que abriga 54 países com características próprias no tocante a povos, costumes, cultura, arte e religiosidade. Trata-se de explorar aspectos fundamentais – ainda pouco conhecidos entre os brasileiros –, que propiciam diferenças fundamentais na construção histórica, política, econômica e social de cada nação. 

Para a plenitude dessa compreensão, alunos incluídos em projetos como o do Programa de Estudantes/Convênio de Graduação (PEC-G), o de Pós-Graduação (PEC-PG), o do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB), juntamente com a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e a Pró-Reitoria de Cultura (Procult), se reuniram para comemorar o 25 de maio, Dia Internacional da África. A programação inclui seminário, exposição de imagens e textos, desfile de vestimentas representativas, além de degustação de pratos típicos. 

Dez dos estudantes oriundos da África estão na UFJF por conta própria, e outros quatro fazem parte da plataforma on-line disponibilizada pelo Centro de Educação a Distância (Cead). No total, a UFJF tem 43 alunos representantes de 13 países: Angola, Benim, Cabo Verde, Camarões, Gabão, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Namíbia, Nigéria, República do Congo, São Tomé e Príncipe, e Senegal. 

A universitária Elfy Deguenon e o professor da faculdade de Economia da UFJF, Eudésio Eduím da Silva, se empenharam na organização do evento, a fim de trazer os alunos africanos para um convívio mais próximo com os demais discentes. “O encontro traz a oportunidade de uma ampla confraternização, ao mesmo tempo em que oferece subsídios para despertar a reflexão e ampliar a consciência da importância de se aumentar o conhecimento sobre um universo complexo em todos os sentidos, especialmente o da linguística, que compreende uma diversidade genial”, diz Eduím, oriundo da Guiné Bissau e participante do PEC-G nos anos 2000.

Conhecendo a África

Celebração visa apresentar belezas da África e suas peculiaridades, que vão muito além dos desertos, das selvas e das savanas popularizados em publicidades e filmes ocidentais. (Foto: João Guilherme)

Elfy, que é a responsável pela produção culinária para o 25 de Maio, traz pratos típicos a título de degustação. A ideia de uma feira mais ampla para venda de produtos originais acabou sendo descartada em função da dificuldade de realização em escala de alimentos que requerem uma fermentação adequada. Ela também é entusiasta do desfile de vestimentas tradicionais e autênticas, que ficou sob responsabilidade do professor Luiz Fernando Ribeiro, diretor do Museu da Moda Social e professor do bacharelado em Moda do Instituto de Artes e Design da UFJF.

No tocante à mostra “A África não é um país”, que conta com curadoria da pró-reitora Valéria Faria e expografia de Paulo Alvarez, a ideia é trazer imagens de sítios turísticos representativos de diferentes países africanos, acompanhados de breves textos explicativos para que o público conheça um pouco mais das belezas da África e suas peculiaridades, que vão muito além dos desertos, das selvas e das savanas popularizados em publicidades e filmes ocidentais. Desta forma, entram também fotografias de pratos presentes no dia a dia dessas nações. 

A ideia de apresentar os estudantes africanos em fotografias ambientadas no Campus, sob as lentes de Nina Cristofaro e João Guilherme dos Santos, com uma pequena apresentação de suas histórias de vida, sob a própria ótica dos retratados, entra na exposição como forma de produzir um diálogo imagético e afetivo com o público, tanto de universitários quanto de visitantes, muitos dos quais sequer conhecem a existência dos programas de formação educacional para estrangeiros.

A pró-reitora de Cultura anuncia também um livro/catálogo que dá ênfase a fotografias e textos dos próprios discentes, lembrando o quão oportuno é o momento de se ampliar as discussões e as reflexões sobre os desafios que o continente enfrenta ainda hoje. O Dia da África é também uma referência ao encontro de 32 chefes de estado africanos, na Etiópia, em 1963, resultando na Organização de Unidade Africana (OUA), desde 2002 intitulada União Africana (UI).

Vozes fundamentais 

Mostra “A África não é um país” traz imagens de sítios turísticos representativos de diferentes países africanos. (Foto: João Guilherme)

À frente da DRI, o professor Anderson Bastos Martins abre o Seminário de 25 de Maio com uma avaliação sobre a importância de projetos como o PEC-G, recepcionando formalmente, a partir das 14h, no anfiteatro das Pró-reitorias, no Campus, os estudantes africanos matriculados na UFJF. “Com a presença desses alunos na programação, é possível aproximar todas as vozes universitárias, ao mesmo tempo em que se tem um relato de suas experiências dentro e fora do Brasil”. 

Em seguida, o professor Eduím faz considerações sobre a importância da ancestralidade na vida dos povos africanos, a evolução desta vivência para além da religiosidade, trazendo informações sobre as iniciações em grupos familiares e comunidades, que introduzem normas de conduta e ética, buscando, de acordo com a evolução, crescimento e maturidade do indivíduo, a força necessária para não transgredir os protocolos de existência social. “Nessas iniciações, que têm certa semelhança com um ‘batismo’, busca-se a sabedoria ancestral para a tomada de decisões e aceitação de responsabilidades”.

O artista plástico Cipriano, mestrando da UFJF, cuja obra chegou ao Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), se aprofunda nas relações entre Brasil e África a partir de um diálogo sobre a desconstrução do conceito pejorativo que permeia as cantigas dos terreiros de Umbanda. Sua ideia é instigar a reflexão a respeito da “gira”, elemento que representa a união de vários espíritos incorporados em médiuns. “Minha ideia é descolonizar a mente, promover a cultura afrodescendente e escrever uma história que revisita nossos antepassados a partir da criação artística”, antecipa.

O encerramento fica a cargo do reitor Marcus Vinicius David, que reitera a importância de se dar visibilidade aos estudantes africanos na UFJF, assinalando a necessidade de se retomar o Dia da África como uma data a ser evidenciada no calendário acadêmico de modo a se tornar uma tradição. Logo em seguida, o público deve se dirigir à Galeria Espaço Reitoria, onde poderá visitar a exposição, assistir ao desfile de modas e participar da degustação.