Grupo de assistidos pelo Trabalharte participaram do seminário com apresentações culturais e relatos de vida (Foto: Carolina de Paula)

Para celebrar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, 18 de maio, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu na terça-feira, 16, representantes envolvidos com a causa para debater o papel da economia solidária na valorização de pacientes de saúde mental. 

O “Seminário de Luta Antimanicomial e Solidária” foi aberto com a apresentação da peça de teatro “Ecos do passado”, da Associação Pró-Saúde Mental Trabalharte, apoiada pela Intecoop. O texto apresenta um panorama da situação das pessoas internadas em manicômios no século 20, chegando à Reforma Psiquiátrica brasileira, inspirada pelas ideias do psiquiatra italiano Franco Basaglia (1924-1980). Na sequência, foi a vez do grupo de canto Cuca Fresca se apresentar, com membros da Trabalharte e demais pessoas atendidas pelo Centro de Atenção Psicossocial Liberdade, do Hospital Universitário. 

Peça de teatro “Ecos do passado” apresentou  um panorama da situação das pessoas internadas em manicômios no século 20(Foto: Carolina de Paula)

De acordo com a pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, a realização do seminário demarca a posição da UFJF na luta a favor dos direitos das pessoas assistidas pelos serviços de saúde mental. “E, ao mesmo tempo, fazer desse momento um dia de protagonismo, como todos os demais devem ser, das pessoas com transtornos mentais. Temos apresentações culturais no evento, justamente para que essas pessoas sejam protagonistas dessa luta junto com a universidade pública. É a Extensão Universitária, por meio do conhecimento produzido, se articulando com os usuários, para fortalecer os direitos desse segmento”, destaca. 

“Sou outra pessoa”

Após as apresentações culturais, houve roda de conversa com a participação do público e convidados. Em depoimento, o presidente da Trabalharte, Sebastião Peres, disse que sua primeira internação em um hospital psiquiátrico aconteceu aos 18 anos, após um forte abalo emocional e, depois disso, várias se seguiram. Membro da associação desde o começo do grupo, ele afirma que estar na Trabalharte mudou sua vida. 

“Eu tinha dificuldade de me expressar, de me relacionar com as pessoas. A Trabalharte veio completar o meu projeto de vida. Hoje eu sou ministro da Eucaristia, irmão do Santíssimo Sacramento na Catedral. Sou outra pessoa, graças ao Caps e à Trabalharte”, confirma. 

Como aponta o psicólogo e colaborador do grupo de canto Cuca Fresca, Rafael de Lima Oliveira, a Trabalharte cumpre com os princípios da desinstitucionalização psiquiátrica.

“Para isso, é preciso trabalhar também com arte e cultura, em uma perspectiva de reestruturação do laço do indivíduo com a sociedade. É importante poder cuidar dos pontos de reparação – por exemplo, o trabalho. Por isso a parceria com a Intecoop e o acesso à arte e à cultura, entendendo que isso também faz parte da nossa subjetividade e crescimento individual. Nós entendemos que até essa falta (de acesso à cultura) produziu muitas das condições de adoecimento que nós vemos hoje”, reflete. 

Caps Liberdade agora é parceiro da Trabalharte

O Caps Liberdade e a Associação Trabalharte irão formalizar a parceria na manhã desta quarta-feira, 17, possibilitando aos pacientes atendidos mais estrutura e instrumentos terapêuticos. “Vejo uma potência para o cuidado em saúde mental, em que teremos uma associação parceira utilizando a mesma estrutura, com uma maior proximidade com a UFJF. Essa parceria é uma potência para o ensino, o cuidado e gera grandes ganhos para os nossos usuários”, enaltece a enfermeira e coordenadora do Caps Liberdade, Ethelanny Panteleão Leite Almeida.