O longa aborda a trajetória de Severino Dadá, um dos mestres do cinema brasileiro (Foto: Divulgação)

“É um filme sobre a trajetória de um profissional do cinema brasileiro, mas também sobre um dos muitos brasileiros que saem do interior nordestino e migram para o Rio ou para São Paulo”. Essa é uma das formas como o professor do bacharelado em Cinema e Audiovisual, do Instituto de Artes e Design (IAD/UFJF), Luís Rocha Melo, define o seu documentário “O Cangaceiro da Moviola”, selecionado pela curadoria da 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que será exibido nos dias 24 e 25 de janeiro. 

Obra nascida da amizade e da criatividade
O longa-metragem aborda a trajetória do montador, editor de som e diretor Severino Dadá, um dos mestres do cinema brasileiro. Nascido no município de Pedra, no agreste pernambucano, Dadá é um apaixonado pelos filmes desde a juventude, quando trabalhou no serviço de alto-falantes de um dos cinemas da cidade de Arcoverde, também em Pernambuco. Depois, o artista viajou em direção ao Sudeste, onde trabalhou com nomes fundamentais da história do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos e Rogério Sganzerla. 

As parcerias de Dadá com esses e outros nomes do cinema nacional são documentadas, além do retorno do cineasta à Pedra para as filmagens de seu premiado curta-metragem “A Nave de Mané Socó” (2019). Segundo o diretor e roteirista do documentário, o filme foi gestado ao longo de muitos anos de amizade e convivência criativa com Dadá. A obra também está relacionada com pesquisas do cineasta e professor do IAD no campo da história do cinema nacional, sobre as trajetórias de profissionais e técnicos da área. 

“É um filme sobre o cinema brasileiro, mas também – ou antes de tudo – sobre as pessoas que fazem filmes, quer dizer, gente de carne e osso” (Foto: Divulgação)

“O Cangaceiro da Moviola pode ser entendido de diversas maneiras. É um filme sobre o cinema brasileiro, mas também – ou antes de tudo – sobre as pessoas que fazem filmes, quer dizer, gente de carne e osso. É um filme sobre um veterano montador de cinema, mas também sobre um apaixonado pelo rádio, que começou sua carreira em serviços de alto-falantes anunciando a programação dos cinemas de Arcoverde”, afirma Luís Rocha Melo, que também é coordenador do Grupo de Pesquisa Historiografia Audiovisual, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens e ao Bacharelado em Cinema e Audiovisual do IAD. 

A primeira vez em que Rocha Melo viu o nome de Severino Dadá foi nos créditos do filme “Nem tudo é verdade” (1986), de Rogério Sganzerla, assistindo ao longa no cinema no fim dos anos 1980. “O filme me deixou absolutamente atônito, justamente pela inventividade da montagem”. 

Filme será exibido às 18h do dia 24/01, no Cine-Tenda; e no dia 25/01, às 10h, no Cine-Teatro (Foto: Divulgação)

Já na década de 1990, o professor da UFJF conheceu Dadá pessoalmente por meio de seu filho, André Sampaio, também diretor e montador. “Eu já era amigo do André. De lá para cá trabalhamos em vários projetos e realizações. Por exemplo, eu fiz com o Dadá o roteiro do primeiro filme que ele dirigiu, ‘Geraldo José, o som sem barreira’ (2002). O Dadá fez a montagem final do documentário que dirigi com o Alessandro Gamo, ‘O Galante rei da Boca’ (2004). E acabei tendo a felicidade e a honra de assinar com Severino Dadá a montagem do longa documental ‘Suíte Bahia, reencontro com Agnaldo Siri’ (2007), dirigido pelo querido Roman Stulbach.” 

O Canganceiro da Moviola
“O Cangaceiro da Moviola” estreou em novembro de 2022, como filme convidado a participar da Mostra Reexistência no 55º Festival de Brasília, o que Rocha Melo classifica como “um gesto político que achei muito importante, em um momento em que o Brasil precisa, de fato, reexistir”. 

Na 26ª Mostra de Tiradentes, o filme será exibido dentro da Mostra Olhos Livres, no dia 24 de janeiro, às 18h, no Cine-Tenda. Já no dia 25, a obra será apresentada no seminário Encontro com os filmes,  às 10h, no Cine-Teatro,  na ocasião ainda acontece o debate com críticos e com o público. “Me deixa muito feliz, pois se trata de um evento de grande visibilidade e importância para a produção contemporânea”, afirma Rocha Melo.

Parte dos equipamentos utilizados na filmagem e edição do filme são pertencentes ao grupo de pesquisa e foram adquiridos a partir de financiamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). “O Cangaceiro da Moviola” foi produzido pela Filmes do Instantâneo em coprodução com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio). 

Outras informações: 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes