Descoberta há mais de 200 anos, a doença de Parkinson é conhecida especialmente pela rigidez muscular e tremores nas mãos, mas há diversos outros sintomas que devem ser levados em consideração para o diagnóstico. Além dos sinais característicos que afetam os movimentos corporais, há também diversos outros não motores que podem sinalizar a doença.
Para ajudar na identificação mais precoce e consequente assistência aos pacientes com a doença de Parkinson, a Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e Distúrbios de Movimento (MDS) elaborou uma escala não motora já utilizada por diversos países em pesquisas e também no atendimento clínico. Como ainda não há na língua portuguesa, a Universidade Federal de Juiz de Fora integra o projeto de pesquisa multicêntrico e internacional de tradução e validação da escala da MDS. O Hospital Universitário (HU) da UFJF atua como centro coordenador da pesquisa no Brasil.
Ao todo, participam 20 centros de pesquisa, sendo 10 brasileiros e 10 de Portugal, já que o objetivo da tradução da escala para o idioma português é atender os dois países. Será gerado um único documento, válido para se utilizar no Brasil e em Portugal, extensivo a outros países que falam a língua portuguesa. “A tradução conjunta é desafiadora, pois algumas palavras utilizadas por aqui (por exemplo, ‘quadril’) não são muito empregadas em Portugal (por lá, se utiliza ‘anca’). Portanto, esse trabalho envolve várias reuniões para se chegar a um consenso dos vocábulos e sentenças que teriam entendimento mútuo”, explica o coordenador do projeto no HU-UFJF, o professor da Faculdade de Medicina Thiago Cardoso Vale.
Validação
Sendo a segunda doença neurodegenerativa mais comum após os 60 anos de idade, estando atrás apenas da doença de Alzheimer, a doença de Parkinson é caracterizada por sintomas motores como tremor de repouso, rigidez e lentidão dos membros, com dificuldade de caminhar e chances de queda. “No entanto, a prevalência de sintomas não motores é muito frequente e por vezes eles são até mais incapacitantes”, aponta. Dentre esses, estão constipação, depressão, ansiedade, déficits de memória, problemas no sono, disfunções urinárias, diminuição do olfato e dor.
Nesse sentido, para que a escala possa ser largamente utilizada na prática clínica e na pesquisa, o pesquisador informa que é preciso validar sua tradução, comparando-a com a original em inglês. Para isso, a escala será aplicada em 400 pacientes, sendo 200 brasileiros e 200 portugueses.
Para se ter uma diversidade geográfica, no Brasil, além da UFJF, há também outros nove centros: Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; Universidade Federal do Paraná; Universidade Federal de São Paulo; Universidade de São Paulo; Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto; Universidade Federal de Minas Gerais; Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Ciências Cognitivas de Brasília; Universidade Federal do Ceará e Fundação Hospital Adriano Jorge de Manaus.
Perspectivas
O projeto já foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HU-UFJF como centro coordenador e a tradução da escala já foi realizada. Atualmente, a pesquisa está na etapa de validação, aguardando a aprovação em alguns comitês de ética locais para que a documentação seja enviada e a aplicação se inicie nessas instituições. O estudo deve ser finalizado no primeiro semestre de 2023, sendo ainda objeto de dissertação da mestranda Daniela Santos, do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Faculdade de Medicina da UFJF.
“Com esse projeto de pesquisa pretendo aprimorar a minha atuação profissional e, principalmente, contribuir para expandir o conhecimento acerca dessa doença tão relevante. O reconhecimento dos sintomas não motores da doença de Parkinson possibilita o desenvolvimento de um melhor planejamento terapêutico e, consequentemente, proporciona uma maior qualidade de vida para os pacientes”, expressa Daniela, cuja escolha pelo objeto de estudo partiu do interesse pela especialidade de Distúrbios do Movimento.
A pesquisa conta com o fomento da Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e Distúrbios de Movimento, por meio de convênio com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fadepe). Isso será importante para a etapa de validação, distribuindo verba para todos os centros participantes para auxiliar os pesquisadores na condução da investigação localmente.
“Tal fomento é oportuno e chegará exatamente no mês em que se comemora o Dia Mundial de Distúrbios de Movimento, dia 29 de novembro de 2022, data escolhida para honrar o nascimento do neurologista francês, Jean Martin Charcot, considerado por muitos como o ‘pai da neurologia moderna’”, ressalta o pesquisador Thiago Vale.
Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU
As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A iniciativa citada nesta matéria se alinha ao ODS 3 (Saúde e bem-estar).