A matemática da gravidez é, ao primeiro olhar, relativamente simples, como explicam as pesquisadoras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernanda Polisseni e Larissa Milani Coutinho: quanto mais velha é a pessoa que deseja engravidar, mais velhos são os óvulos que ela possui; afinal, o número de óvulos que serão gerados ao longo da vida de cada pessoa que possui órgãos reprodutores femininos já está pré-definido desde o momento que ela nasceu. Mas, na prática, como tudo que envolve o organismo humano, as variáveis envolvidas no processo de concepção de uma nova vida são muitas e, dependendo de cada gestante, os cenários podem ser mais receptivos – ou não. Nos dois casos, a ciência apresenta possíveis caminhos para quem deseja ter filhos após os 35 anos de idade.

O tempo: compositor de destinos

Ministério da Saúde coloca que gestações acima de 40 anos seriam de maior risco; as acima de 35 anos seriam de risco intermediário

Primeiramente, as pesquisadoras justificam o motivo da importância atribuída à idade. “Por exemplo: o óvulo de uma mulher de 40 anos está no ovário dela ‘parado’ há 40 anos. Então, ele sofreu os efeitos da vida que ela teve: foi impactado pelas doenças, pelos remédios, pelo estresse, pela poluição – tudo que ela passou afetou aquelas células”, elucida Fernanda Polisseni. “Então, o comprometimento da qualidade dos óvulos significa a perda da aptidão para gerar uma gravidez saudável. Quanto mais avançada for a idade, além de menor o estoque de óvulos, mais comprometida é a qualidade deles, o que resulta em maiores dificuldades para engravidar e maior risco de aborto.”

Larissa Coutinho pondera que, classicamente, são consideradas tardias as gestações confirmadas em pessoas com mais de 35 anos. No entanto, a profissional frisa que recentemente, em 2022, o Ministério da Saúde lançou um novo manual sobre gestações de alto risco. “Esse documento coloca que gestações acima de 40 anos seriam realmente de maior risco, enquanto as acima de 35 anos seriam de risco intermediário.”

“Acho importante destacar, no entanto, que não é porque é convencionado que uma gestação é de alto risco que a paciente, necessariamente, vai ter algum evento adverso. O que isso significa é que se trata de uma gestação que merece um acompanhamento mais atento e pormenorizado”, destaca Coutinho. Fernanda Polisseni faz coro à colega e descreve: “O risco é maior nas gestações acima de 40 anos porque aumentam-se as chances de hipertensão na gestação, diabete gestacional, partos prematuros e doenças cromossômicas, por exemplo.”

Comorbidades importam – independentemente da idade

Comorbidades em gestantes de todas as idades podem influenciar o risco da gestação; é preciso ficar de olho no estilo de vida

Além do próprio envelhecimento, Polisseni frisa que gestantes de qualquer idade que possuem comorbidades têm gravidezes consideradas como de risco, ou seja, independentemente de terem mais de 40 anos. “Exemplos de comorbidade são doenças cardíacas, de tireóide, pressão alta e trombofilias.”

Possibilidades: tratamento para infertilidade, reprodução assistida e congelamento de óvulos
Fernanda Polisseni, que também é responsável pelo Ambulatório de Infertilidade Feminina do Hospital Universitário (HU-UFJF), explica as opções para quem planeja engravidar após os 35 anos. “Normalmente, a recomendação é que se planeje, antes dessa idade, a preservação da fertilidade com o congelamento dos óvulos.” No caso de suspeita de infertilidade, o Ambulatório oferece os exames necessários para investigar: imagem, ultrassom, ressonância magnética, avaliação das trompas e exames de sangue para avaliação hormonal. O HU-UFJF também conta com um Ambulatório de Infertilidade Masculina. 

Caso a suspeita de infertilidade seja confirmada, o próprio HU-UFJF oferece tratamentos viáveis, como a videolaparoscopia (indicada nas mulheres com alguma alteração tubária, aderência em função de endometriose ou doença inflamatória pélvica anterior) e a histeroscopia (endoscopia do útero para tratar alterações dentro do órgão, como miomas e pólipos). Já se a opção escolhida for a de reprodução assistida, como a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro, os pacientes são encaminhados para o Serviço de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que faz o atendimento pelo Sistema Única de Saúde (SUS).  

“Se as pacientes não sabem quando vão engravidar ou não sabem se querem engravidar, mas querem deixar essa possibilidade em aberto, elas podem usar o único recurso que, hoje, a ciência oferece para preservar a fertilidade: o congelamento de óvulos”, coloca Polisseni. “Quando congelado, o óvulo permanece com a mesma idade e com a mesma qualidade de quando ele foi congelado.”

Um caso de gestação aos 55 anos, como relatado pela atriz Claudia Raia, é extremamente raro e não deve ser tomado como parâmetro

Índice do sucesso da fertilização in vitro
De acordo com Polisseni, o índice de sucesso na fertilização in vitro está diretamente relacionada, mais uma vez, à idade do óvulo. As taxas variam de acordo com a idade: “por tentativa, vai desde uma taxa máxima de 50% a 60% em paciente de 30 anos ou menos; de 10% a 15% em uma paciente entre 40 e 42 anos; e é menor do que 1% em pacientes acima de 44 anos.” Um caso de gestação aos 55 anos, como relatado pela atriz Claudia Raia, é extremamente raro e não deve ser tomado como parâmetro, podendo causar frustração em pacientes.

O poder da informação e da escolha relativa ao próprio corpo
Ambas as pesquisadoras defendem a importância de que cada vez mais pessoas se informem sobre o próprio corpo e, munidas desse conhecimento, tenham autonomia para decidir quando e de que forma desejam engravidar, sempre atentas à rotina ginecológica e às consultas pré-concepcionais. “Para aquelas pacientes que vão postergar a maternidade, é importante que estejam sempre fazendo acompanhamento médico para identificar questões como hipertensão, diabetes, problemas metabólicos que poderão ser tratados antes dessa paciente engravidar, além de ficarem atentas ao estilo de vida, priorizando hábitos saudáveis”, afirma Larissa Coutinho. Fernanda Polisseni concorda com a colega e reitera que o acesso à informação garante o planejamento do futuro, citando a possibilidade de congelamento de óvulos como uma das formas de se ter controle sobre o processo reprodutivo.

Outras informações:
Faculdade de Medicina (UFJF)
Hospital Universitário (UFJF): (32) 4009-5131 (Unidade Santa Catarina) e (32) 4009-5401 (Unidade Dom Bosco)