O tradicional Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga chega a sua 33ª edição em 2022 e, após dois anos de realização virtual devido às restrições da pandemia de Covid-19, retoma as atividades presenciais com a ópera “O Engenheiro”, de Tim Rescala, com apresentação no Cine-Theatro Central neste sábado, 2 de julho, às 19h, com entrada franca. A montagem é a atração de abertura desta edição especial do Festival, que prossegue no segundo semestre, no evento promovido pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult), em parceria entre as universidades federais de Juiz de Fora (UFJF) e do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Regência fica a cargo do maestro André Cardoso (em destaque), que terá também no pódio Diana Sosa e Rafael de Miranda, ambos alunos do curso de Regência Orquestral da UFRJ (Foto: Divulgação)

Ópera contemporânea ambientada durante a Proclamação da República, em 1889, retratando o último dia do Império no Brasil e tendo como personagem principal o abolicionista André Rebouças, “O Engenheiro” é uma produção do projeto Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), realizado em parceria pela UFRJ e a Funarte. Juiz de Fora é uma das cidades a receber a produção, que estreou em Porto Alegre, em outubro de 2021, e agora chega à região Sudeste. A ópera, apresentada na última semana no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a presença de Tim Rescala, teve três récitas na Escola de Música da UFRJ e, nesta quinta-feira, 30, chegou ao Teatro Santa Cecília, em Petrópolis (RJ). 

A trama enfoca a trajetória do engenheiro e abolicionista André Rebouças (1838-1898), sua proximidade com a Família Real e atuação nos bastidores de 15 de novembro de 1889, com abordagem da visão do engenheiro sobre a escravidão, das reações conturbadas ao evento da Proclamação até seu exílio na Europa. Como Machado de Assis e José do Patrocínio, Rebouças foi um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes mais importantes em prol do abolicionismo no Brasil. Ao lado de Joaquim Nabuco e outras importantes figuras, ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.

“Nesse ano de 2022, o Brasil chega aos seus 200 anos de Independência e, como toda nação democrática, analisa as questões do passado para que se encontrem soluções que envolvam maior igualdade de direitos, equilíbrio econômico, respeito aos pensamentos e melhoria das condições de vida de toda a população. Importante observarmos que André Rebouças atuou para que tais pontos pudessem ser tratados em sua época. Foi em vida uma figura brilhante e controversa, com ideais e características que nos provocam o pensamento crítico e a profunda investigação do ser humano”, comentam os realizadores do espetáculo. 

Com direção cênica de Inácio Nonno (em destaque), trama enfoca trajetória do engenheiro abolicionista André Rebouças (Foto: Divulgação)

A ópera conta com direção musical de Inácio de Nonno, direção cênica de José Henrique Moreira e direção de movimento, de Marcellus Ferreira. A regência fica a cargo do maestro André Cardoso, e terá também no pódio Diana Sosa e Rafael de Miranda, ambos alunos do curso de Regência Orquestral da UFRJ. A direção geral do projeto é dos professores Andrea Adour, Homero Velho e Lenine Santos. Na apresentação em Juiz de Fora, o protagonista será interpretado por Paulo Maria, encabeçando o elenco da ópera, que conta em sua maioria com alunos e ex-alunos da UFRJ, além de participantes externos à comunidade acadêmica. A produção traz ao Central ainda a Orquestra Sinfônica da UFRJ.

Parcerias culturais
A ópera “O Engenheiro” foi uma encomenda do Projeto Sinos ao compositor Tim Rescala. Sua produção é resultado direto do projeto Ópera na UFRJ – que envolve quatro unidades da instituição – as escolas de Música, de Comunicação, e de Belas Artes, e o Fórum de Ciência e Cultura – em associação com o Projeto Sinos. Atuante há mais de duas décadas, o Ópera na UFRJ conta com o suporte do Programa de Apoio às Artes da UFRJ (Proart), coordenado pelo Fórum de Ciência e Cultura da Instituição, com o objetivo de promover a produção e difusão de artes e cultura por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão.  

A parceria com a UFJF, envolvendo Centro Cultural Pró-Música, realizador do Festival, e o Cine-Theatro Central, órgãos da Procult, foi realizada a partir do Circuito Proart. “Produzir cultura no Brasil, nos últimos anos, tem sido um desafio, ainda que a cultura seja essencial para a constituição de um país. Temos conseguido a partir dos laços de amizade e resistência, das redes de profissionais que permanecem lutando e acreditando no Brasil”, afirma o supervisor do Pró-Música e diretor do Festival, Marcus Medeiros, destacando a importância dessas amizades e redes. 

As parcerias também são destacadas pela pró-reitora de Cultura, Valéria de Faria Cristofaro, que as considera um recurso para viabilizar iniciativas em várias instâncias, seja em contextos normais, seja em circunstâncias excepcionais e dramáticas como as enfrentadas pelo setor no Brasil atual. “Precisamos estimular a cultura da parceria, certamente estratégica quando se trata de produzir e disseminar bens e serviços culturais. O engajamento, a colaboração de diferentes atores nos processos da cultura, proporciona compartilhamento de experiências, suporte e oportunidades únicas, e hoje as parcerias institucionais são ferramentas indispensáveis na política pública de cultura.”

Andrea Adour divide direção geral do projeto com Homero Velho e Lenine Santos (Foto: Divulgação)

No caso da parceria entre UFRJ e Funarte para o Projeto Sinos, a iniciativa viabilizou uma rede composta por centenas de profissionais de música, artes cênicas, artes visuais, do circo e da comunicação, para atuações presenciais, híbridas ou virtuais, em cursos, oficinas, concertos, simpósios, congressos, festivais, shows e palestras. O Sinos atua na capacitação de regentes, instrumentistas, compositores e educadores musicais, com apoio direto aos projetos sociais de música e com foco no desenvolvimento das orquestras-escola em todo o Brasil. 

Oficinas
Para esta edição do Festival, a parceria com a UFRJ inclui a realização de quatro oficinas nessa primeira fase. Três delas acontecem nesta sexta-feira, 1º de julho, no Teatro Pró-Música. Às 17h, o maestro André Cardoso ministra a Oficina de Regência Orquestral, destinada especialmente aos integrantes da Orquestra Acadêmica da UFJF. Antes, às 14h, José Henrique Moreira e Marcellus Ferreira oferecem a Oficina Corpo, Movimento e Cena; e Fábio Adour ministra a Oficina de Violão. No sábado, 2, Andrea Adour e Inácio de Nonno realizam a Oficina de Canto – Do bel canto italiano à música brasileira, a partir das 9h (manhã e tarde), também no Teatro Pró-Música. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas via on-line, por meio de formulário eletrônico.

O compositor
Um dos mais ativos e premiados compositores brasileiros da atualidade, Tim Rescala, estudou na Escola de Música da UFRJ, na Escola de Música Villa-Lobos e no Instituto Villa-Lobos da Unirio. Foi aluno de Hans-Joachim Koellreutter, com quem estudou composição, contraponto e arranjo. Entre os prêmios recebidos, estão Mambembe, Shell, Coca-Cola, APTR e CBTIJ. Com uma ativa carreira em diversos segmentos, atua regularmente como regente convidado, no Brasil e no exterior, com orquestras e festivais de música com ênfase na música contemporânea. Suas composições estão em teatros, parques, filmes, seriados e novelas, sendo hoje um dos grandes nomes das trilhas sonoras para televisão e cinema. 

Convites
Os convites para a apresentação serão distribuídos no Cine-Theatro Central nesta sexta-feira, dia 1º, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Caso ainda haja convites disponíveis, a distribuição continua no sábado, uma hora antes da apresentação, com o máximo de quatro por pessoa.

Outras informações
Centro Cultural Pró-Música/UFJF – (32) 3218-0336
Pró-Reitoria de Cultura/UFJF – (32) 2102-3964