A tragédia humana e ambiental de Brumadinho, causada pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale, em 25 de janeiro de 2019, é o foco de “Brumadinho – Memória dos Esquecidos”, mostra fotográfica que chega em versão ampliada à Galeria Espaço Reitoria, no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), nesta sexta-feira, 3 de junho, com visitação aberta ao público das 8h às 18h. As imagens são o testemunho de Gabriel Brandão, fotógrafo, desenhista, professor de desenho e diretor de fotografia, para quem o registro fotográfico é uma forma de impedir que um desastre de tal proporção seja esquecido.

Mostra reúne imagens do fotógrafo Gabriel Brandão e testemunham a maior tragédia da mineração no Brasil (Foto: Gabriel Brandão/Divulgação)

Com quase três centenas de vítimas – três anos depois, seis pessoas ainda permanecem desaparecidas –, a tragédia é considerada a maior já ocorrida por rompimento de barragens de mineração no Brasil e uma das maiores do mundo. A avalanche de rejeitos da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, com um volume de quase 12 milhões de metros cúbicos, destruiu uma comunidade próxima, além de instalações da própria Vale, causando perdas humanas entre moradores de Brumadinho e funcionários da empresa. 

O desastre também devastou uma grande área de vegetação remanescente de mata atlântica e contaminou o rio Paraopeba, provocando a morte de diversas espécies animais. Para Gabriel Brandão, Brumadinho morreu no dia 25 de janeiro, soterrada pela lama de rejeitos. O fotógrafo chegou ao local pouco depois, na madrugada do dia 27 e, durante oito dias, teve a oportunidade de acompanhar as primeiras movimentações em busca de sobreviventes e identificação dos mortos. 

Foram momentos de muita dor, indignação e revolta, entremeados pela esperança de familiares e amigos no trabalho realizado pelos bombeiros. “Como testemunha do que aconteceu na cidade de Brumadinho, posso afirmar: nem os piores pesadelos se aproximam do que vi lá. A vida não tem valor, a ganância sim”, afirma Brandão. “A fotografia é minha maneira de gritar, de protestar contra a barbárie humana. De lutar pela mudança desse sistema desumano em que se encontra nossa sociedade. A vida não é assim, ela está assim. Um outro mundo é possível e urgente.”

Exposição está dividida em quatro áreas: Vida, Terra, Água e Bombeiros, que retratam drama humano, destruição da natureza, contaminação do Rio Paraopeba e trabalho incansável da equipe de busca e salvamento (Foto: Gabriel Brandão/Divulgação)

A mostra
A versão completa de “Brumadinho – Memória dos Esquecidos” apresenta 56 fotografias de tamanhos diversos. O fotógrafo dividiu a mostra em quatro áreas – “Vida”, focada no drama humano; “Terra”, que mostra a destruição da natureza; “Água”, sobre o Rio Paraopeba, e “Bombeiros”, em que se destaca o trabalho do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que realizou em Brumadinho a maior operação de busca e salvamento de sua história – ainda não encerrada, mais de três anos depois. 

A exposição se apresenta como uma homenagem à atuação incansável dos bombeiros nessa imensa tragédia. Por esse motivo, a mostra vai circular por Minas Gerais, com temporadas em seis Comandos Operacionais de Bombeiros, a começar por Montes Claros, passando por Governador Valadares, Poços de Caldas, Belo Horizonte, Uberlândia e Juiz de Fora.

O fotógrafo
Gabriel Brandão nasceu no Rio de Janeiro e vive em Juiz de Fora, onde foi criado. Estudou desenho e pintura no Ateliê Marcelo Casali, em Juiz de Fora, e fotografia, na antiga Escola Ateliê da Imagem Espaço Cultural, no Rio de Janeiro. Como fotógrafo com passagens pela SSPress e pelo Clube de Botafogo de Futebol e Regata, especializou-se na fotografia de esporte, embora tenha interesse também pela fotografia de rua. Atualmente trabalha como fotógrafo independente, com trabalhos voltados à expressão pessoal.