Um trabalho iniciado durante a pandemia agora se torna um novo serviço oferecido aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS): é o Ambulatório de Luto. O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF/Ebserh) está com inscrições abertas, disponibilizando 40 vagas para este semestre a pessoas enlutadas que necessitam de apoio psicológico.

O objetivo do ambulatório é ofertar um serviço qualificado e especializado em saúde mental voltado para o suporte ao luto, visando à prevenção do luto prolongado e ao surgimento de transtornos psicológicos e psiquiátricos, explica a residente da Atenção Hospitalar Letícia Swerts. A estrutura tem uma equipe multidisciplinar, envolvendo psicólogos residentes, psiquiatras residentes, estagiários de Psicologia e bolsistas do projeto de extensão em interface com a pesquisa, sob coordenação da psicóloga hospitalar Priscilla Noé, juntamente com Fabiane Rossi, professora do Departamento de Psicologia da UFJF, e o psiquiatra Alexandre Rezende.

O luto é uma reação normal e esperada diante de uma situação de perda e, de modo geral, é uma situação circunscrita, não dura por tempo prolongado, descreve Alexandre Rezende. Assim, o fenômeno possui uma duração, sendo muito importante que, durante esse período, o luto e as fases dessa reação sejam vivenciados. Nesse sentido, não há necessidade de medicar o luto considerado “normal” ou fisiológico, mas sim proporcionar acolhimento e suporte psicológico por meio de abordagens psicoterápicas.

Para acessar o serviço, é necessário fazer uma inscrição online para as vagas que serão ofertadas semestralmente. Este semestre, são 40 vagas para grupos presenciais, que vão se reunir às sextas-feiras, pela manhã, no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS-HU). Após realizada a inscrição, a equipe vai entrar em contato para agendar a avaliação inicial. Acesse o link: https://forms.gle/fH5YVpqnK6a4y72n9. Para os interessados, também será avaliada a necessidade de atendimentos individuais e com a Psiquiatria.

Projeto Enlutar 

A ideia de criar o Ambulatório de Luto surgiu a partir do Projeto de Extensão Enlutar, iniciado em 2020. O Enlutar ofertou vagas para grupos online de suporte psicológico para pessoas enlutadas no período da pandemia. Foram realizados oito grupos com dez integrantes, totalizando 80 pessoas atendidas ao longo dos últimos dois anos. “Tivemos um êxito muito grande e sempre recebemos uma demanda significativa quando as inscrições são abertas, o que nos motivou a ampliar as possibilidades assistenciais para esse público. Coincidentemente, a realidade da pandemia de Covid-19 também contribuiu para que percebêssemos a urgente necessidade de ações de cuidado voltadas para o luto”, acrescenta Priscilla Noé.

Para o médico Alexandre Rezende, a integração da Psiquiatria no ambulatório também vai contribuir extremamente para o Programa de Residência Médica Psiquiátrica. “O residente vai se deparar no seu dia a dia de trabalho com situações de luto e/ou diagnósticos diferenciais de depressão ou outros transtornos mentais. Para a formação, o trabalho no Ambulatório de Luto será fundamental, tanto para aprimorar as abordagens farmacológicas nestas condições de perda, quanto para ampliar o conhecimento com relação às abordagens psicoterápicas e a participação em grupos”, enfatiza.

Compartilha da mesma opinião a professora Fabiane Rossi. Segundo ela, para o ensino, a pesquisa e a extensão, a iniciativa “será um rico espaço de aprendizado para estudantes e residentes em uma área ainda pouco estudada nos cursos de saúde, proporcionando a articulação teórico-prática sobre a temática da finitude e do luto. Além disso, o trabalho articulado em equipe, com integração entre Psicologia e Psiquiatria, desenvolverá habilidades e competências importantes para a formação interprofissional dos discentes”, assegura.