Projeto do professor Reinaldo Brasil trabalha a descolonização do pensamento acadêmico por meio do diálogo entre os diversos tipos de conhecimento e a inclusão de saberes tradicionais e mestres populares na universidade. (Foto: Sebastião Junior)

Krenak quer dizer ‘cabeça na terra’, significado que para o professor Reinaldo Duque Brasil representa perfeitamente a principal contribuição dessa e de demais etnias indígenas para a nossa sociedade: habitar o planeta de forma mais harmônica e sustentável. Por isso, aprender com esses povos e lutar por seu protagonismo é tão importante. E é justamente esse o objetivo de uma série de iniciativas que Brasil desenvolve desde a instalação do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV).

Desenvolver ações de extensão e pesquisa(ação) serve como incentivo ao respeito à luta e resistência desses povos pelos mais de 522 anos de colonização, que para muitos deles [povo] constituem anos de guerra, de massacre, violência, preconceito e discriminação – Reinaldo Duque

As ações ligadas ao tema são promovidas pelo projeto Pluriversidade dos Povos e Comunidades Tradicionais do Watu, que é vinculado ao Núcleo de Agroecologia (Nagô), programa de extensão voltado para a descolonização do pensamento acadêmico por meio do diálogo entre os diversos tipos de conhecimento e a inclusão de saberes tradicionais e mestres populares na universidade. Ao longo desses anos, o projeto já realizou inúmeras atividades em parceria com o Centro de Referência em Direitos Humanos e o Instituto Shirley Djukurnã Krenak (responsável pela coordenação pedagógica). O destaque vai para os cursos sobre a história e cultura dos Krenak e de outras etnias de Minas Gerais, e mais recentemente, por conta da pandemia do novo coronavírus, uma sequência de lives com lideranças indígenas de todo o país.

O Núcleo de Agroecologia (Nagô) promove oficinas e cursos voltados para a história e cultura dos povos indígenas. (Foto: Sebastião Junior)

Promover esse espaço de educação intercultural, segundo Brasil, ajuda a corrigir as distorções do nosso processo educacional. “Temos uma formação muito limitada, com várias lacunas de conhecimento e aprendizado sobre história e cultura indígena que a gente carrega desde a escola, passando pelo nível superior, com profissionais formados sem ter esses conhecimentos, muitas vezes ainda reféns de uma visão distorcida, preconceituosa e pejorativa sobre os povos e comunidades tradicionais, originários e indígenas”. O professor ainda acrescenta que “desenvolver ações de extensão e pesquisa(ação) serve como incentivo ao respeito à luta e resistência desses povos pelos mais de 522 anos de colonização, que para muitos deles constituem anos de guerra, de massacre, violência, preconceito e discriminação”.

Uma luta de todos
Embora já habitassem Pindorama [como o Brasil era chamado pelos nativos antes de seu “descobrimento”] quando da chegada dos portugueses, mais de cinco séculos depois os indígenas ainda precisam travar um verdadeiro embate em busca de direitos, principalmente à terra e à preservação de seu valores e costumes. Uma batalha que segundo Reinaldo Brasil “não é só deles, é nossa!”, seja por questões humanitárias, seja pela própria sobrevivência da sociedade:

Reinaldo Brasil (de vermelho) com lideranças indígenas em um dos cursos promovidos pelo Nagô. (Foto: Sebastião Junior)

“Se um ser humano tem seus direitos violados isso atinge a todos, é responsabilidade e dever de todos. E os povos originários do nosso país têm esses direitos violados sistematicamente. Muito além disso, mais de 86% da biodiversidade mundial está em territórios tradicionais ocupados por povos indígenas e originários. Portanto, assegurar a eles a conservação dos territórios, é também assegurar em certa medida a preservação de bens naturais fundamentais para a sobrevivência humana no planeta, como a água, a própria biodiversidade vegetal e o conhecimento acerca dessa biodiversidade sobre diferentes potencialidades de uso dos mais variados, medicinais ou alimentares. Enfim, uma riqueza enorme não só de diversidade biológica mas cultural, conhecimentos que podem ajudar toda a humanidade a repensar seu modo de vida para uma maneira mais sustentável’, explica o professor.

Ao invés de (des)envolver, se envolver com o ambiente, com as pessoas, na forma comunitária, fortalecer a economia local, preservar os recursos naturais e assegurar esses territórios livres da hegemonia dos monopólios das grandes corporações internacionais – Reinaldo Duque

E finaliza destacando como a forma com que os indígenas enxergam o planeta e se relacionam com a Mãe Terra são tão importantes para a humanidade. “Ao invés de pensar em desenvolvimento econômico como algo inquestionável – que explora os recursos naturais de maneira desarrazoada, explora o trabalho humano, viola direitos de milhares de comunidades e povos no mundo inteiro – pensar em modos de bem viver, uma alternativa, uma forma oposta de pensar. Ao invés de (des)envolver, se envolver com o ambiente, com as pessoas, na forma comunitária, fortalecer a economia local, preservar os recursos naturais e assegurar esses territórios livres da hegemonia dos monopólios das grandes corporações internacionais”, frisa Brasil.

E se quiser conhecer mais sobre os Krenak e demais povos indígenas do país, a sugestão do professor Reinaldo Duque Brasil é o Instituto Socioambiental (ISA). Clique aqui par acessar o site.

Leia sobre as ações do campus voltadas para a temática indígena:
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