Mylene Santiago, coordenadora do Núcleo de Atendimento à Inclusão, recepcionou candidatos na Faculdade de Farmácia (Foto: Carolina de Paula)

Neste final de semana, os candidatos que necessitam de condições especiais e que se inscreveram para as provas do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) fizeram seus exames nas Faculdades de Enfermagem, Farmácia e Odontologia no campus sede da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e na Escola Estadual Julio Soares, em Governador Valadares. De acordo com o Núcleo de Atendimento à Inclusão (NAI), no total, cerca de 200 alunos fizeram as provas dos módulos I, II e III em Juiz de Fora e em torno de 50 no campus GV.

Além de candidatos que declararam ter algum tipo de deficiência, pessoas transtorno de espectro autista ou com outras dificuldades motoras, recém operadas ou com doenças crônicas, como diabetes, também tiveram acesso ao atendimento especial. Os estudantes com necessidades de leitura ou transcrição foram atendidos em salas individuais, enquanto outros tipos de suportes foram fornecidos em espaços coletivos. Mais de 160 fiscais ficaram responsáveis por conduzir os candidatos às suas respectivas salas e a atendê-los em seus espaços de aplicação das provas.

“Privilegiamos fiscais que já haviam trabalhado no atendimento especial em outras edições do Pism e também aqueles que são bolsistas do NAI ou de grupos de pesquisa que trabalham com inclusão. Como ledores e transcritores, por exemplo, convocamos aqueles que já prestam atendimento aos estudantes da UFJF”, informa a pedagoga do NAI Nádia Ferreira.

Tranquilidade de pais e filhos

Milena com seus pais, que puderam acompanhá-la até a porta da sala (Foto: Carolina de Paula)

Uma das responsáveis pela orientação de pais e alunos foi a psicóloga e coordenadora da Faculdade de Medicina Cacilda Andrade de Sá, que estava presente na Faculdade de Farmácia para receber os candidatos do Pism 1. “O atendimento especial é de extrema importância. Por se tratar do módulo 1, os candidatos chegam muito ansiosos, devido à sua inexperiência com a prova. Nosso papel é acolher esses adolescentes e os próprios pais. Apresentamos a equipe que irá cuidar dos seus filhos e todos acabam ficando mais tranquilos, os pais e os filhos”, ressalta a professora.

A jovem Milena Rodrigues da Costa Santos possui déficit de atenção e veio à UFJF acompanhada do pai e da mãe. A mãe, Aline, pôde levar a filha até a porta da sala onde a prova foi aplicada, o que a deixou mais tranquila. “Foi excelente o trabalho feito, desde a acolhida na portaria, trazendo informação e deixando os pais acompanharem até a sala. Isso traz segurança, deixou a Milena mais tranquila e segura”, destaca Aline, cujo depoimento é complementado por Jefferson Augusto dos Santos, pai de Milena. “Adotar essas medidas faz com que haja democratização no acesso, dá mais chance para todas as pessoas. Isso demonstra a atenção da Universidade com essa geração nova e com as suas demandas”, acredita ele.

Maria Clara, estudante com deficiência motora, está fazendo o Pism II (Foto: Carolina de Paula)

A estudante Maria Clara Moreira Pereira também chegou à UFJF acompanhada pela mãe para fazer as provas de química, matemática, geografia e português do primeiro dia do Pism 2. O sonho de Maria Clara, de Dom Viçoso (MG), a 257km de Juiz de Fora, é fazer jornalismo. Maria Clara tem deficiência motora e suas necessidades são uma sala acessível e uma mesa maior do que o padrão. O atendimento às necessidades da filha deixa a mãe da jovem satisfeita. “Ficamos sabendo do atendimento especial através da escola onde ela estuda e dos médicos que cuidam dela. Eles orientaram a gente, disseram que ela poderia buscar seus direitos para fazer a prova com mais tranquilidade. E isso representa mais oportunidade para minha filha”, observa Claudia Aparecida Moreira.

Acolher para um melhor desempenho

Isaac Araújo não sabia do atendimento especial quando fez o módulo I, agora no segundo ano, recorreu do benefício (Foto: Carolina de Paula)

Isaac de Jesus Araújo tem transtorno global de desenvolvimento (TGD) e dificuldade motora. Ele conta que precisa de apoio para leitura, para escrita, por conta da dificuldade de coordenação, e também de estímulos para não perder a noção de tempo. Ele ficou sabendo do atendimento especial neste ano, quando realiza a prova do segundo módulo do Pism. “Não cheguei a tomar conhecimento do atendimento na prova passada porque era minha primeira vez. Para o Pism II, acessei as informações pela internet e outros alunos, que estudam na minha escola, me contaram a respeito”, comenta Isaac, que é do município de Descoberto e veio, junto a outros candidatos, de transporte público da prefeitura de sua cidade.

Quem também veio de outra cidade foi Maria Eduarda de Lima Mazzei, candidata ao Pism I, que é diabética do tipo 1. Ela é de Araruama, da Região dos Lagos do Rio de Janeiro, e pediu atendimento especial para caso tivesse aumento de glicemia ou precisasse comer algo durante a prova. “Cheguei ontem à noite em Juiz de Fora. Vim com minha mãe e minha prima. O único ponto negativo é que eu gostaria de fazer a prova em um local mais próximo à minha cidade. Como requeri o atendimento especial, só poderia vir para Juiz de Fora ou ir para Governador Valadares. Se houvesse mais cidades disponíveis, seria ainda mais acessível”, destaca Maria Eduarda, que faz uso de insulina, do aparelho glicosímetro e do sensor de monitoramento da glicemia.

Maria Eduarda, portadora de diabetes, solicitou o atendimento pela condição de alimentação durante a prova (Foto: Carolina de Paula)

Maria Eduarda fez questão de chegar cedo em sua sala, assim como vários outros estudantes. Tudo para garantir a tranquilidade para realização da prova. “Observamos que a maioria dos candidatos chegou uma hora antes da aplicação dos exames, conforme orientação. Nosso balanço é positivo e, mais uma vez, percebemos que o acolhimento oferecido no atendimento especializado promove mais inclusão para os candidatos e familiares que necessitam dessas condições especiais”, reforça a coordenadora do NAI e professora da Faculdade de Educação (Faced) Mylene Santiago, que recebeu, na Faculdade de Farmácia, alunos como Maycon Monteiro da Silva, que possui deficiência auditiva.

Maycon com deficiência auditiva, teve o auxílio de profissional com experiência em libras (Foto: Carolina de Paula)

Maycon pretende ser contador e soube através da escola que seria possível fazer o exame do Pism I com atendimento especial. “Acredito que vou bem, estudei bastante e tive muita ajuda na escola. Minha expectativa é melhorar cada vez mais, evoluir a cada ano, a cada prova. Esse é apenas o meu primeiro passo”. O primeiro passo de Maycon e de muitos outros jovens candidatos.

Como fazer solicitação para atendimento especial

A requisição de atendimento especial deve ser feita no ato da inscrição do candidato aos três módulos do Pism. Para além daqueles que possuem algum tipo de deficiência ou doença enquadrada no Código Internacional de Doenças (CID), ainda podem fazer solicitação de tempo adicional aqueles que comprovem a necessidade prevista e avaliada pela banca de atendimento especial. 

No caso das candidatas lactantes, durante o ato de inscrição, poderá ser solicitado atendimento especial para amamentação durante o horário das provas. A lactante deve vir acompanhada, obrigatoriamente, de um maior de 18 anos que será responsável pela guarda da criança e ter ciência de que o tempo gasto na amamentação será acrescido ao tempo total destinado para realização das provas. 

Religião

Já os candidatos que por questão cultural ou religiosa necessitem usar adereços que cubram a cabeça ou o rosto deverão solicitar condição especializada de realização da prova, segundo as instruções que estão explícitas no edital. Os sabatistas, que, por motivo de convicção religiosa, não podem realizar as provas aos sábados, antes do pôr do sol, devem assinalar tal condição no ato de inscrição e devem se atentar para as regras destinadas a essa especificidade. 

Nome social

Por fim, de acordo com o edital, é facultado ao candidato travesti, transexual, não binário ou transgênero, a inscrição com o uso do nome social (prenome pelo qual travestis, transexuais, não binários e transgêneros se identificam e são identificados em suas relações sociais, mantendo inalterados os sobrenomes) em contraste com o seu nome oficialmente registrado na certidão de nascimento. O candidato deverá no período destinado às inscrições, marcar os campos indicando solicitação do uso do nome social e submeter no sistema de inscrição cópia digitalizada devidamente preenchida do formulário próprio disponibilizado no site da Coordenação Geral de Processos Seletivos (Copese) da UFJF.