A exposição “Folia de Reis” foi aberta nesta terça-feira, dia 25 (Foto: Divulgação)

Se no calendário o tempo das folias chegou ao fim em 20 de janeiro, Dia de São Sebastião, quando é comemorada sua folia – a última do ciclo festivo -, no Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) esses festejos populares estão apenas começando. As manifestações culturais e religiosas das folias são formadas por grupos que se estruturam a partir de sua devoção aos santos católicos e a outros elementos, como Reis Magos, Divino Espírito Santo, São Sebastião, São Benedito e  Nossa Senhora da Conceição.

Tema da nova exposição do Museu de Cultura Popular da UFJF, instalado no Forum da Cultura, a festa de Folia de Reis, também chamada de Reisado ou Festa de Santo Reis, entre outras denominações, tem seu início no dia posterior à noite de Natal. A manifestação cultural e festiva é celebrada anualmente para rememorar a jornada dos Reis Magos, a partir do momento em que recebem o aviso do nascimento do Messias, ao avistarem a estrela no céu, até o ponto em que encontram o Deus-menino na manjedoura em Belém. Para os devotos, a jornada de peregrinação se inicia no dia 25 de dezembro, encerrando-se no dia 6 de janeiro, o Dia de Reis, que seria a data do encontro dos Três Reis Magos com Jesus para adorá-lo e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra.

Os participantes dessa festa popular e tradicional brasileira, chamados “foliões”, passam de casa em casa durante a jornada, entoando canções e rezas e são recebidos com comes e bebes típicos e outras oferendas. O dia 6 de janeiro marca a chegada desses foliões às cidades onde as festas de Folia de Reis são celebradas. Encerrando os festejos natalinos, é também nesse dia que são desarmados os presépios, as árvores e os demais enfeites. 

Patrimônio cultural de MG 

 A festa folclórica de Santos Reis é celebrada em diversas regiões do país, sendo Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás os estados nos quais a tradição se faz mais presente. Cada local possui suas particularidades na comemoração, de forma que a festa ganha diversas variações e significados para seus símbolos. De modo geral, no dia 6 as festas costumam vir acompanhadas de peças teatrais, desfiles, danças, apresentações musicais, brincadeiras, comidas e bebidas típicas. 

Fantasia de Palhaço do Grupo  Estrela da Guia de Juiz de Fora (Foto: Divulgação)

Minas Gerais é um dos estados onde a celebração da Folia de Reis mais se faz presente, resguardando uma forte tradição de aproximadamente 300 anos. Um inventário do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), realizado em 2016, cadastrou 1.255 grupos de foliões, distribuídos em 326 municípios mineiros. Em 6 de janeiro de 2017, o Conselho Estadual de Patrimônio de Minas Gerais aprovou o reconhecimento da Folia de Reis como patrimônio cultural imaterial do estado. 

A mostra 

A exposição “Folia de Reis” foi aberta nesta terça-feira, dia 25. Atuando, dentro da experiência de visitação, como uma continuidade da tradicional mostra de presépios do Museu de Cultura Popular, que nesta última edição recebeu o nome de “Cenas da Natividade”, a exposição foi montada na sala ao lado do museu. Assim, permite que os visitantes passem primeiro pela exposição de obras que transmitem diferentes linguagens e perspectivas para narrar o nascimento de Jesus e, ao finalizar a experiência, adentrem a mostra que conta sobre a peregrinação dos Três Reis Magos ao saberem do nascimento do menino-Deus. 

A exposição conta com peças utilizadas pela Companhia de Folia de Reis do Alto de Santa Rita (Caxambu-MG), pela Associação das Folias de Reis de Laranjal (MG) e pelo Grupo A Estrela da Guia, de Juiz de Fora (MG). A primeira é uma das mais antigas companhias de Reisado da cidade do Sul de Minas, com quase 60 anos. A peregrinação da companhia se inicia no dia 25, quando os foliões começam a passar de cidade em cidade, festejando e carregando o estandarte da companhia, que guia a jornada e também passa de uma casa à outra. Na tradição do festejo, ao retornar, após o Dia de Reis, o estandarte não pode passar novamente pelas casas em que passou na ida, fazendo alusão ao retorno dos Reis Magos, que na narrativa bíblica não puderam passar pelo mesmo caminho da ida por conta da perseguição do Rei Herodes. 

O dia 6 marca o encontro, após a peregrinação, dos foliões na cidade de Caxambu, onde ocorre a Festa de Reis, com comidas e bebidas típicas, palhaços, música, danças e outras apresentações. Depois da festa que comemora o encontro dos três reis com o menino Jesus após seu nascimento, os foliões retornam para suas cidades. Na tradição da companhia, os foliões retornam com fantasias de palhaços bem coloridas, contendo flores, máscaras e chapéus, em alusão aos três magos, que teriam voltado disfarçados para não serem reconhecidos e capturados. 

Os cajados também são muito utilizados pelos foliões durante as peregrinações, assim como os instrumentos musicais. Entre eles, destacam-se o tambor, o pandeiro, o violão e a viola. Na mostra Folia de Reis é possível conferir o estandarte da tradicional Companhia de Folia de Reis do Alto Santa Rita, os cajados utilizados pelos foliões nos festejos e as fantasias oriundas do grupo A Estrela da Guia, compostas por máscaras, roupas de palhaços, chapéus, flores e outros adereços. 

Fantasia de Palhaço do Grupo Estrela da Guia de  Juiz de Fora (MG) (Foto: Divulgação)

Além destes objetos, a exposição conta com estandartes informativos oriundos de Laranjal (MG). As Folias de Reis são a tradição cultural mais relevante e resistente ao longo dos tempos do município, que conta com sete grupos de Reisado, em sua maioria centenários: Folia de Reis do Arlindo; Folia de Reis Adão Reis; Folia de Reis de São João; Folia de Reis Seguidores de Jesus; Folia de Reis do Felismino Torquato de Souza; Folia de Reis Mensageiros da Paz; e Folia de Reis Bernardo Carneiro. 

De acordo com documentação escrita, a Folia de Reis Bernardo Montes Carneiro é a mais antiga delas, tendo sido fundada em 24 de dezembro de 1917. No entanto, os relatos orais de membros das Folias de Reis de Laranjal asseguram que as folias do município são ainda mais antigas, tendo sua origem na segunda metade do século XIX. A manifestação cultural e religiosa é patrimônio imaterial de extrema relevância para a comunidade laranjalense. Na busca de um mecanismo de preservação da tradição, foi criada, em agosto de 2019, a Associação das Folias de Reis de Laranjal (Asfrelar). 

Na tradição das associações do município mineiro, durante as visitas das Folias de Reis às residências os palhaços precisam de um toque específico dos instrumentos que os autorizam a começar as rimas. Para montar os versos, os personagens estudam os registros de fatos do cotidiano, romances, casos atípicos e catástrofes noticiados. Aqui os palhaços representam os soldados do Rei Herodes que, ao saber que havia nascido um menino que seria o Rei dos Reis, mandou seus soldados ao vilarejo para matarem todos os meninos recém-nascidos, para que seu reinado não fosse ameaçado. Por isso, usam máscara e porrete, simbolizando o terror que os soldados despertavam no povo. No entanto, de acordo com a tradição, alguns soldados, ao invés de matar os meninos, começaram a pular e a cantar para distrair os outros soldados. Dessa forma, os Reis Magos passam sem serem percebidos, salvando o menino Jesus. 

Em Juiz de Fora

A Folia de Reis realizada pelo grupo A Estrela da Guia tem tradição e simbolismos semelhantes aos de Laranjal. Passada por gerações, teve sua origem em Piau e, ao chegar a Juiz de Fora, teve seu início no bairro Mundo Novo, pelo avô de Pedro Paulo Martinho, conhecido como Pepe. Seu pai, Carmindo Martinho, levou a tradição para o bairro Dom Bosco, onde atualmente acontecem os ensaios e funciona a sede do grupo, formado também por moradores de outros bairros. 

Os membros do grupo de Reisado juiz-forano também começam a peregrinação pelas casas dos devotos, em locais da Zona da Mata e vertentes, no dia 24 de dezembro, levando a bandeira e o menino Jesus, e retornando no dia 6 de janeiro, quando acontece a entrega da bandeira – e sua posterior volta para o altar – e os festejos da chegada dos Três Reis Magos para conhecer o menino Deus e presenteá-lo.  

Tambor da Companhia de Folia de Reis do Alto Santa Rita de Caxambu (Foto: Divulgação)

O encerramento das apresentações das Folias de Laranjal acontece também no dia 6 de janeiro, quando as sete Folias se encontram para a Missa de Santos Reis, na Igreja Matriz de Laranjal. A comemoração é conhecida como “entrega da bandeira”, sendo feito, todo ano, um sorteio para saber qual Folia cantará após a missa. O grupo sorteado entoa de três a quatro estrofes de quatro versos. 

Os estandartes expostos na mostra contam a história, o surgimento e as tradições da celebração no município, além de discorrerem sobre cada um dos Três Reis Magos e seus presentes, assim como outros símbolos e significados da celebração. 

Na mostra Folia de Reis também é exibido o documentário “Folias de Minas”, produzido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), sob direção de Felipe Chimicatti e Pedro Carvalho. No documentário, mestres e foliões de diferentes devoções e de três localidades (São José da Serra, em Jaboticatubas; bairro Aparecida, em Belo Horizonte; e o distrito de Paciência, no município de Porteirinha) narram os rituais que estruturam as folias desde o início da jornada, com a visita da bandeira, até a festa de encerramento. 

A produção audiovisual apresenta ainda elementos como o canto, a reza, os toques de instrumentos musicais, as danças, as comidas e o uso de objetos sagrados, como máscaras, toalhas, fitas e a bandeira com a imagem dos santos de devoção.

Visitação 

O retorno das atividades presenciais da UFJF está sendo realizado de maneira monitorada e gradual, visando a preservar a saúde e a vida das pessoas em meio ao contexto da pandemia de Covid-19. Dessa forma, alguns protocolos estritos que permitam a manutenção da segurança para todos os usuários deverão ser seguidos. Para visitar a exposição é necessário:

  • apresentação do comprovante de vacinação em dia (pode ser o cartão de vacinação físico ou digital, disponível no aplicativo ou site do ConecteSUS), juntamente com o documento de identidade
  • uso obrigatório de máscara
  • poderá ser feito agendamento prévio por meio eletrônico (forumdaculturaufjf@gmail.com) e/ou telefone (32) 3215-3850, a fim de evitar filas e/ou aglomerações. Em casos de grupos, o agendamento é necessário
  • levar consigo a própria garrafa de água. Será disponibilizado nos bebedouros apenas o sistema de enchimento pelas torneiras
  • manter o distanciamento físico de, no mínimo, 1,5m
  • número máximo de quatro pessoas por vez dentro da área expositiva para garantir o distanciamento físico
  • o tempo médio de visitação é de 25 minutos

As visitas mediadas acontecem de segunda a sexta-feira, com entrada franca, das 10h às 18h.

Nas Redes Sociais 

No contexto de retorno gradual, buscando ampliar as possibilidades sensíveis, para que mais pessoas possam ter acesso aos conteúdos, a nova exposição também será levada para o universo digital, com uma versão on-line, que poderá ser acompanhada nos perfis do Forum da Cultura no Instagram e no Facebook.

Os conteúdos referentes à mostra “Folia de Reis” serão postados sempre às segundas-feiras, a partir das 12h. As publicações contarão com fotos das peças e informações sobre as Folias de Caxambu, Laranjal e Juiz de Fora, bem como seus símbolos, suas particularidades e tradições. 

Museu de Cultura Popular

Com mais de três mil peças em acervo, o Museu de Cultura Popular possui estatuárias, peças de crenças religiosas e cerâmicas, brinquedos populares, entre outros artefatos de cultura nacional e estrangeira. A delicadeza e a originalidade das obras e utensílios expostos regularmente nesse espaço despertam interesse, encantam e fazem sonhar adultos e crianças, proporcionando uma janela para tradições populares em transformação.

 Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de quatro décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

O Forum da Cultura fica localizado na Rua Santo Antônio 1.112, no Centro da cidade. 

Outras informações: (32) 3215-3850 (Forum da Cultura-UFJF)

E-mail: forumdaculturaufjf@gmail.com

Instagram: @forumdaculturaufjf

Facebook: /forumdaculturaufjf