*Reportagem retificada em 6 de janeiro

Com a divulgação do resultado preliminar da chamada 4/2021 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Universidade Federal de Juiz de Fora terá um aumento no número de bolsistas de produtividade a partir de 2022, ainda que o quantitativo disponível de bolsas de produtividade em pesquisa (PQ) venha praticamente se mantendo estável nos últimos anos. 

Atualmente, a UFJF conta com 118 bolsistas de produtividade em pesquisa, distribuídos nos cinco níveis do CNPq, em ordem decrescente: 1A, 1B, 1C, 1D e 2. Neste ano, serão 127, uma vez que 14 novos pesquisadores serão contemplados com a bolsa em PQ, cinco devem perder e seis, subir de nível. 

Distribuição dos 50 pesquisadores da UFJF contemplados com a bolsa de produtividade PQ na chamada 4/2021 (Arte: Gian Rezende)

O professor da Faculdade de Engenharia do Departamento de Mecânica Aplicada Computacional, Afonso Celso de Castro Lemonge, é um dos bolsistas que conseguiram subir de nível, passando de 1D para 1B. “Esse resultado é fruto do empenho de toda a equipe. Tenho que dar o crédito para o grupo com o qual trabalho e tenho muito orgulho”, expressa o pesquisador que atua na otimização estrutural, buscando soluções para minimização de custos ou maximização de desempenho.

Como docente permanente dos programas de pós-graduação em Engenharia Civil e de Modelagem Computacional, Lemonge afirma que a bolsa vai refletir positivamente para a continuidade das pesquisas desenvolvidas em parceria com os alunos da iniciação científica, mestrado, doutorado, assim como a partir de cooperação científica com outras universidades.  

Para a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), Mônica Ribeiro, essa modalidade de bolsas é concedida a “pesquisadores de todas as áreas do conhecimento com o objetivo de distinguir e valorizar o trabalho por meio de sua produção; e resultam de uma avaliação por pares bastante exigente”. No entanto, a pesquisadora, que também é bolsista do CNPq, considera que, embora seja um fator de reconhecimento da comunidade científica de uma instituição, esse número não deve ser superestimado, uma vez que existem áreas muito consolidadas que não oferecem nenhuma flexibilidade para a incorporação de novos pesquisadores.

Atualmente, estão disponíveis 15.110 bolsas de PQ em todo o país. Lembrando que existe também a modalidade de bolsista de produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT), na qual a UFJF possui oito bolsistas. Com isso, a Universidade terá 135 bolsas de PQ e DT. “A oferta de bolsas não é atualizada há muitos anos pelo CNPQ e a demanda tende a crescer com a melhoria dos níveis da pesquisa e pós-graduação no país. Então, a pequena expansão é compreensível. Geralmente novos pesquisadores entram no sistema ocupando vagas daqueles que por algum motivo perderam suas vagas ou faleceram”, informa.

Comparação da distribuição dos bolsistas de produtividade PQ da UFJF em 2021 e 2022 (Arte: Gian Rezende)

Destaque feminino

Entre os 14 novos pesquisadores da Universidade contemplados na listagem do CNPq estão apenas três mulheres: as professoras Alessandra Lamas Granero Lucchetti, da Faculdade de Medicina, Edneia Alves de Oliveirada Faculdade de Serviço Social, e Michele Munk Pereira, do Departamento de Biologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Chama muito atenção que apenas 15% desses novos pesquisadores sejam mulheres. Nós sabemos que a representatividade feminina entre os graduandos, mestrandos e doutorandos, muitas vezes, ultrapassa os 50%, dependendo do curso. No entanto, quanto aos cargos de chefia, aprovação de projetos, recebimento de premiações e bolsas de produtividade, esse índice cai consideravelmente. Assim, há uma nítida dificuldade na progressão da carreira e reconhecimento para as mulheres na ciência”, reflete Michele Munk que cita algumas medidas para superar esses desafios, como o Adas Tech organizado pelo Critt que visa fomentar o Empreendedorismo Tecnológico Feminino no âmbito da UFJF.

Para Michele Munk, a bolsa é um incentivo para realizar mais pesquisas inovadoras e contribuir na formação de recursos humanos qualificados (Foto: Arquivo pessoal)

A pesquisadora do ICB acredita que seu trabalho é importante para que a nanotecnologia se desenvolva de forma segura e sustentável. “Atualmente venho desenvolvendo pesquisas relacionadas à segurança do uso de nanomateriais para fins biotecnológicos. Estudo os efeitos citogenotóxicos de nanomateriais utilizando modelos biológicos in vitro”, menciona.

Para Edneia Oliveira, a bolsa do CNPq vem coroar sua trajetória como intelectual e pesquisadora. “O fato de ser mulher entre tantos outros me faz sentir ainda mais lisonjeada porque o meio acadêmico ainda privilegia muito os homens”, lamenta. Ela espera desenvolver investigações de maior qualidade, contando com bolsistas e também realizando convênios nacionais e internacionais, de modo a fortalecer os estudos sobre emprego, desemprego e pobreza no Brasil.

Pioneirismo na Saúde

Como um feito histórico, o professor Ricardo Bezerra Cavalcante será o primeiro docente da Faculdade de Enfermagem a conquistar uma bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq desde a sua criação. Ele reforça que esse resultado é mérito de todo o quadro docente, principalmente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem: “é um esforço coletivo para avançar no sistema de avaliação da Capes, no sentido de ter um programa mais robusto”. 

Um dos projetos em andamento, divulgado recentemente no portal da Universidade, é o Observatório de Pesquisas, Inovações e Tecnologias de combate a infodemias (Obinfo), uma iniciativa multicêntrica, coordenada pelo pesquisador da UFJF. “Essa bolsa está atrelada ao Obinfo e pretendemos fortalecer essa rede de pesquisa nacional e internacional que o Observatório irá articular, envolvendo dez universidades brasileiras e mais quatro países: Peru, México, Portugal e Chile”, complementa. 

José Murillo comemora o resultado com a expectativa de expandir a pesquisa que vem sendo desenvolvida na Faculdade de Medicina (Foto: Arquivo pessoal)

Atuando no único grupo de pesquisa em Cirurgia da Faculdade de Medicina, José Murillo Bastos Netto passará do nível 2 para 1D, mudança importante para endossar a qualidade da pesquisa. “Apesar de todas as dificuldades, na pandemia foi possível publicar trabalhos científicos, ainda que com pouca pesquisa clínica envolvendo paciente”, celebra.

José Murillo também conquistou recentemente os títulos de professor titular da UFJF e de Livre Docência pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), instituição na qual realizou residência em Urologia. O pesquisador reconhece a importância da bolsa de PQ para a Universidade, mas especialmente para a Faculdade de Medicina, onde desenvolve no Programa de Pós-Graduação em Saúde estudos sobre trato urinário inferior em crianças.