A eficácia da fluvoxamina na redução de hospitalizações por Covid-19 foi comprovada em artigo publicado no The Lancet Global Health. O ensaio clínico indicou que o medicamento, utilizado comumente no tratamento de doenças mentais como ansiedade e depressão, reduziu em cinco pontos percentuais as hospitalizações em pacientes acometidos pela doença. Em Governador Valadares, o estudo foi conduzido pelo coordenador do curso de Medicina do campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), Adhemar Dias Neto, com participação de estudantes da Instituição.

A pesquisa foi desenvolvida em 11 cidades brasileiras, de janeiro a agosto deste ano, com modelo de estudo duplo cego, onde pesquisador e paciente não sabem quem está usando a medicação a ser estudada ou placebo. “Originariamente essa medicação é utilizada para tratamento de transtornos mentais, tais como depressão e ansiedade, porém também apresenta ação inibitória dos processos inflamatórios, uma das fases mais devastadoras da Covid-19”, explica Adhemar.

Foram acompanhados 1.497 pacientes com diagnóstico positivo para Covid, que apresentavam sintomas da doença e possuíam fator de risco, como obesidade ou diabetes. Durante a pesquisa, 741 receberam a medicação, e 756 receberam placebo. Cada paciente tomou pelo menos um comprimido e recebeu indicação de manter o medicamento por 10 dias.

Dos participantes tratados com a fluvoxamina, 79 precisaram de tratamento médico por mais de seis horas no pronto-socorro ou foram hospitalizados – uma taxa de 10,6% – enquanto no grupo controle, que recebeu o placebo, o número chegou a 119, ou 15,7% das pessoas. Também foi observada redução no índice de mortalidade pela doença: entre os pacientes que tomaram a medicação, houve apenas uma morte, enquanto no grupo que recebeu placebo, ocorreram 12 óbitos. Para Adhemar, o estudo representa “um marco inicial para termos uma referência científica de que uma medicação pode funcionar”.

“Entre os pacientes que tomaram a fluvoxamina, houve apenas uma morte, enquanto no grupo que recebeu placebo, ocorreram 12 óbitos” Adhemar Neto, professor da UFJF-GV

O docente relata que a condução da pesquisa em Governador Valadares contou com participação de quatro acadêmicos do curso de Medicina da UFJF-GV. “Eles tiveram papel essencial, participaram da triagem, do diagnóstico de pacientes e dos acompanhamentos. É extremamente importante a participação dos estudantes da Medicina nos estudos”.

A opinião é compartilhada pela médica Aline do Carmo Rosa, que participou do estudo enquanto discente de Medicina. Segundo ela, fazer parte do ensaio é uma experiência “completamente diferente” para o discente: “Na graduação, não temos muitas oportunidades de entender como funciona um estudo clínico, pegamos um artigo científico já pronto e nem sempre entendemos, de verdade, como se chegou naquilo. Pude acompanhar como funcionam as evidências científicas, o cegamento de estudo e a importância da condução da pesquisa segundo as regras científicas”, relata.

O estudo com a fluvoxamina foi coordenado por pesquisadores de Belo Horizonte, da Universidade McMaster, do Canadá, e da Universidade Washington, do Missouri, nos Estados Unidos.

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