Entre os meses de fevereiro de 2020 e 2021, gestores, pesquisadores e docentes propuseram um conjunto de reflexões que resultaram no livro Novos campi universitários brasileiros: processos e impactos”

A obra reúne experiências de implantação de nove universidades federais criadas ou que passaram por expressiva expansão entre 2004 e 2014. Entre os estudos apresentados, estão as reflexões do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Klaus Chaves Alberto, e da mestra pela mesma Instituição, Mara Medina. 

O professor explica que a obra foi organizada pelos pesquisadores da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Joel Pereira Felipe, e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Elaine Saraiva Calderari, tendo como temática a recente expansão das universidades e, por consequência, dos campi universitários federais no Brasil. “Tais transformações trouxeram para o debate novas experiências sobre pensamento universitário. O espaço físico reflete e, ao mesmo tempo, modela novas formas de pensar o ensino superior”, destaca o professor da UFJF, que assina o epílogo do livro e também o artigo “Os campi da Unilab como uma justaposição de propostas espaciais desenvolvidas no Reuni”, escrito junto com a arquiteta e urbanista Mara Medina.

No trabalho, um traçado histórico sobre a construção dos campi universitários é realizado. O tema, segundo o professor, acompanha as discussões em torno dos espaços do ensino superior. “Podemos dizer que, antes da consolidação das universidades no Brasil, tínhamos várias escolas profissionalizantes, independentes, distribuídas pela malha urbana das cidades. Em reação a este modelo, o governo federal optou pela ideia de universidade que congregasse todos os saberes incentivando pesquisas, relações interdisciplinares, permitindo crescimento futuro e otimizando recursos. Assim, a proposta espacial de um campus único, como um parque verde, foi o modelo adotado nacionalmente nos anos 60 e 70″, informa Alberto, retificando que tal modelo não foi implantado facilmente pois muitas das universidades criadas neste período foram fruto de federalizações de faculdades isoladas, cada qual com uma história independente. “Em muitas universidades, como a USP, a UFMG e a UFRJ, houve resistência e a ideia de unificação em um só campus não foi completamente consolidada. As unidades acadêmicas (faculdades, escolas e institutos) ficaram divididas dentro e fora do campus.”

Ao contrário das universidades citadas por Alberto, a UFJF manteve o ideal de um campus único e, depois de algumas décadas, conseguiu agregar todas as atividades acadêmicas em um só espaço. Enquanto isso, edificações localizadas nas áreas centrais da cidade, como o Forum da Cultura e a Casa de Cultura, que abrigaram, respectivamente, as antigas faculdades de Direito, Filosofia e Letras, passaram a abrigar projetos de caráter mais extensionistas, com o intuito de aproximar o meio acadêmico da sociedade.

Relação entre sociedade e universidade

Os leitores da publicação poderão ter acesso a artigos que abordam as experiências de implantação dos novos campi e as formas de relacionamento desses espaços universitários com a sociedade. No total, foram estudadas as experiências de nove instituições federais de ensino superior agrupadas em três eixos: impactos urbanos e ambientais dos novos campi nas cidades e regiões; universidade e sociedade interagindo nos territórios; e campus universitário e leituras controversas da paisagem urbana e da sustentabilidade.

Mara explica que o interesse pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), presente no título do artigo, foi despertado durante a pesquisa da dissertação de mestrado, na qual a arquiteta e urbanista estudou a implantação de todos os campi de universidades criadas entre 2000 e 2010. “A Unilab, em seu planejamento inicial, definiu que metade dos estudantes seria composto por brasileiros e a outra, por estudantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente africanos, e da Região de Macau. Antes, as universidades eram generalistas. Na recente expansão, muitas delas são ‘especializadas’ como a Unilab, ou seja, com foco não apenas de escopo, mas também linguístico e geopolítico.”

A pesquisadora comenta,ainda, a título de exemplo, que a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto (UFCSPA) foi criada com ênfase na saúde e a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) no atendimento de questões geográficas e regionais.

Para além dessa característica de “instituição especializada”, o que aproxima a Unilab de outras universidades brasileiras tem relação com as diretrizes do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que foi responsável pela implantação de instituições de ensino superior em regiões interioranas. “Assim, ao invés de um campus único, a Unilab adotou um modelo multicampi, através do qual implantou faculdades em três municípios de dois estados brasileiros (Ceará e Bahia)”, finaliza Mara. 

Reuni

A proposta base do Reuni era duplicar a oferta de vagas no ensino superior no Brasil. O programa foi instituído pelo Governo Federal por meio do Decreto 6096, de 24 de abril de 2007, e foi responsável pelos ideais de expansão universitária recentes. 

Conheça a publicação completa em “Novos campi universitários brasileiros: processos e impactos”