Estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu nova espécie de planta do gênero Stachytarpheta, da família Verbenaceae. Batizada como Stachytarpheta salimenae, o nome é uma homenagem à professora aposentada Fátima Salimena, do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF. O artigo foi publicado em uma edição virtual da revista científica Phytotaxa no mês de outubro.
Pedro Cardoso, um dos autores da pesquisa, é doutorando da UFRJ/Museu Nacional e realizou sua graduação em Ciências Biológicas e mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECOL) na UFJF. Ele explica que o processo de descobrimento de novas espécies requer sempre um estudo minucioso e aprofundado, tendo em vista que os pesquisadores da área tendem a se especializar em grupos específicos, geralmente famílias ou gêneros.
“É necessário um conhecimento muito amplo de todas as espécies já descritas. A partir de estudos em laboratórios, em herbários e com base nas observações de campo, os taxonomistas vão acumulando o conhecimento necessário sobre o grupo – e assim se tornando especialistas. Somos nós, taxonomistas, os responsáveis por batizar a biodiversidade”, completa Cardoso. A equipe responsável pela descoberta também é composta por Luiz Menini Neto, professor do ICB, Marcelo Trovó, professor do Instituto de Botânica da UFRJ e Andressa Cabral, ex-aluna da UFJF atualmente cursando doutorado na Alemanha.
Detalhes sobre a nova espécie
De acordo com Cardoso, “a espécie é um arbusto densamente piloso, conferindo um aspecto verde acinzentado as folhas e inflorescências, apresentando lâmina foliar com margem marcadamente denteada, brácteas florais ovadas e corola preta”. Ele explica que além da raridade de se encontrar flores de cor preta na natureza, foram localizados poucos registros de coleta da nova espécie. A Stachytarpheta salimenae tem ocorrências na Bahia, Minas Gerais, Goiás e Tocantins – principalmente na divisa destes estados. Ela é exclusiva do cerrado, crescendo em campos rupestres e campos cerrados, além de ser avaliada como ameaçada de extinção.
Embora a Stachytarpheta salimenae tenha sido coletada pela primeira vez em 1840, somente com os estudos e avanço dos conhecimentos específicos do gênero foi possível reconhecer a planta como uma espécie inédita para a ciência. Menini, que também é orientador de Cardoso, destaca que é “sempre importante o reconhecimento de novas espécies, tanto do ponto de vista do conhecimento da biodiversidade como um todo, mas também do ponto de vista conservacionista. Esse registro é sobretudo importante em grupos como Stachytarpheta, que tem distribuição muito destacada no domínio fitogeográfico do cerrado, altamente ameaçado pela degradação imposta pelo agronegócio”, conclui.
Desde então, o ex-aluno da UFJF e atual doutorando na UFRJ tem construído seu caminho para se tornar um especialista na família Verbenaceae. Em 2020, Cardoso, Menini e Fátima também descobriram uma nova espécie da mesma família, mas de outro gênero. Batizada pelos autores de Lippia krenakiana, a planta do gênero Lippia teve seu nome escolhido em homenagem a Ailton Krenak, professor Honoris Causa pela UFJF.
Reconhecimento da carreira de Fátima
A trajetória acadêmica de Cardoso coincide com a de Fátima, que contribuiu com grande influência no direcionamento acadêmico do pesquisador. “Conheci a professora Fátima no ano de 2014, quando estava no quarto período da graduação. Como me destaquei em sua disciplina de Botânica, fui convidado pela professora para continuar com seus estudos sobre a família Verbenaceae no Brasil”, explica Cardoso. “Fico muito feliz em poder homenagear uma pesquisadora tão querida e admirada como a Fátima, que marcou a história de muitos alunos na Universidade”, conclui.
Fátima é uma das maiores especialistas da família Verbenaceae no país, tendo contribuído com diversas pesquisas na área. “Foi uma grande prazer ter meu nome em uma espécie de planta tão rara e ameaçada por uma política ambiental desastrosa do atual governo. Qualquer forma de luta contra a devastação sem precedentes dos nossos recursos naturais é motivo para nosso reconhecimento, aplausos e gratidão”, comemora a professora.
Diante da brilhante trajetória da professora aposentada do ICB, Menini acredita que este é um pequeno reconhecimento por todo o trabalho que ela prestou à educação e à ciência ao longo de sua carreira como professora da UFJF e pesquisadora na área da botânica. “Ela foi responsável por uma participação importante na formação de diversos pesquisadores, nos quais me incluo, pois fui seu aluno e monitor já na graduação. Ensinamentos valiosos foram passados por ela durante a minha formação e posteriormente, como colega de trabalho. Ações, como essa homenagem, são uma forma de agradecer todo o empenho que teve ao longo de sua vida acadêmica”, aponta o pesquisador.