Como parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), a Diretoria de Imagem da UFJF está promovendo o encontro virtual “Entre lacunas e excessos: entenda os efeitos da infodemia”. O evento será no dia 7 de outubro, às 16h, e não é necessária inscrição.
Com transmissão ao vivo pelo canal da Revista A3 UFJF no YouTube, os participantes poderão interagir enviando perguntas pela plataforma. Inscreva-se e ative as notificações. Também haverá transmissão pelo perfil da UFJF no Facebook (UFJFoficial). A iniciativa integra a série Encontros possíveis, que tem como objetivo despertar novas possibilidades da divulgação da ciência e da troca de saberes no contexto de isolamento social.
Com experiência de pesquisa na área de Comunicação e Discursos com ênfase na Saúde, o professor Wedencley Alves é um dos convidados a discutir os efeitos da infodemia. Ele irá apresentar sua reflexão ao lado do professor do Departamento de Estatística do ICE, Marcel Vieira, coordenador da plataforma JF Salvando Todos.
Nossa equipe conversou com o docente da Faculdade de Comunicação (Facom) e coordenador do grupo Sensus, Wedencley Alves, para contextualizar a sua visão que será abordada durante a live. Confira a entrevista na íntegra:
A pandemia de Covid-19 trouxe um boom de informações em plena era digital. O que isso representa?
“É uma crise sanitária de grandiosa repercussão, com dimensão histórica. Há muitas outras, como a própria Aids, o Ebola. A última crise sanitária mundial que tivemos nessa grandeza foi a gripe espanhola, em 1918. Essa pandemia tem um impacto fenomenal de transmissão de informações, que se dá não somente nos espaços tradicionais midiáticos. Em 2009, a H1N1 não teve essa dimensão com tantas incertezas, a web 2.0 ainda estava iniciando. O contexto atual faz coincidir uma crise sanitária de caráter planetário em um mundo interconectado em rede em tempo real. Há um fator sanitário e outro comunicacional para essa repercussão inimaginável 20 anos atrás.”
Como podemos definir infodemia?
“Infodemia é um neologismo, uma pandemia de informações muitas vezes contraditórias, nem sempre na mesma dimensão. Esse é o caráter mais problemático da infodemia, quando se tem, não só uma quantidade inimaginável e astronômica, mas informações que nem sempre orientam. A palavra endemia está associada à doença, e por isso carrega dois aspectos: uma proliferação descontrolada e também problemática de informações. Trata-se de um termo que surgiu popularmente, não é conceitual.”
“É o que se chama na teoria da comunicação de espiral do silêncio: o foco sobre um tipo de informação é também a perda de foco sobre outras” (Wedencley Alves).
Sobre os efeitos da infodemia, por que ainda é crucial debater essas questões?
“Se é uma proliferação problemática, tem que se discutir. A quantidade de boa informação não tem problema; o dilema é quando tem no pacote informações inadequadas, sobretudo quando há uma série de questões ainda não respondidas. ‘Quantos anos vão durar os efeitos dessas vacinas? As vacinas serão efetivas?’ A gente não sabe ainda, isso é um dia após o outro; seria leviano fazer projeções agora. Só vamos saber isso daqui a uns cinco anos. Quando se tem esse nível de imprecisão, abre-se espaço para um oportunismo informacional muito delicado, em que as pessoas simplesmente se aproveitam e espalham mentiras. A infodemia é um problema quando divulga informações que são ruins, inadequadas. É quase uma patologia social. Podemos discutir os modos de mapear e capturar essas informações que não são boas e pensar de que maneiras podemos revertê-las.”
Como a Comunicação e a Análise de Discursos (AD) podem ajudar a compreender o complexo fenômeno da (des)informação na pandemia?
“A AD é uma ciência, uma disciplina específica que trabalha com a interrelação entre produção de sentidos, relações de poder e modos de sujeitação. A corrida das vacinas, para exemplificar, envolve produção de sentidos sobre o que é vacina, cura, probabilidade de cura, doença, morte, ao mesmo tempo em que, claramente, envolve uma luta de poderes, de mercado, geopolítica. Então nós temos dois elementos importantes para olhar discursivamente, relações de sentido e de poder, mas não somos meramente espectadores dessas relações, somos atravessados e constituídos por elas. Todos nós somos seres da linguagem e seres políticos, no sentido amplo do termo. A visão discursiva sobre as vacinas deve considerar, portanto, essas três faces: o simbólico, o político e o sujeito. É importante fazer um diálogo com as teorias da comunicação. Os diálogos interteóricos são necessários para compreender fenômenos complexos.”
Uma abordagem de seus estudos é sobre a invisibilidade de outras doenças em meio à Covid-19. O que pode compartilhar nesse sentido?
“É o que nós chamamos de sindemia. No momento está ocorrendo toda uma discussão sobre tratamentos de câncer interrompidos por conta da pandemia. ‘Você está ouvindo falar sobre dengue?` Sindemia é a conjugação de vários níveis, que podem ser surtos locais, endemias e até outras ameaças globais. Em alguns locais do Brasil, tem-se a simultaneidade entre dengue e Covid-19, uma combinação de pandemia e endemia. Além disso, um evento de grande repercussão como esse acaba tendo efeitos sobre a saúde da população também em outros aspectos, como a depressão. Quero apresentar esse conceito de sindemia que quase não é abordado na mídia e não é bem conhecido do público da comunicação de modo geral. Sob outro aspecto, quando se cobre muito uma coisa, encobre-se outra. É o que se chama na teoria da comunicação de espiral do silêncio: o foco sobre um tipo de informação é também a perda de foco sobre outras. Então você pode articular a espiral do silêncio na comunicação e os processos de silenciamento na AD com as sindemias.”
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