Brasil conquistou 57 medalhas em concurso internacional de queijos, perdendo apenas para a França, anfitriã do evento (Foto: Divulgação Seapa)

Se em agosto o Brasil fez sua melhor performance na edição dos Jogos Olímpicos em Tóquio, neste mês o país também foi destaque em outra competição mundial. Dessa vez, os protagonistas não foram os atletas, mas os queijos brasileiros. No “Mondial du Fromage et des Produits Laitiers”, o Brasil ficou com o segundo lugar na classificação geral em uma disputa que reuniu 46 países, só perdendo para a França.

Das 331 medalhas distribuídas, o Brasil conquistou 57, sendo 40 para os queijos produzidos em Minas Gerais. Além disso, quatro produtos brasileiros foram premiados com as medalhas ‘Super Ouro’, classificação que indica alto padrão de qualidade.

“Esse trabalho não aconteceu do dia para a noite. Existem várias ações que vêm melhorando muito a qualidade do queijo nos últimos anos, muito em função da capacidade empreendedora dos produtores envolvidos”, opina o pesquisador do Departamento de Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rodrigo Stephani, especialista em ciência e tecnologia de alimentos.

Integrando a rede Inovaleite, que esteve presente no concurso internacional representada pelo professor Antônio Fernandes de Carvalho da UFV como juiz, Stephani considera que esse tipo de resultado, com o respaldo de comissões e comitês internacionais, só mostra que temos muito potencial para explorar. “O conhecimento na área de laticínios vem melhorando a cada ano, e o leite permite muita inovação e desenvolvimento tecnológico”, enfatiza.

Em função da extensão continental do país e as diferentes realidades da produção primária do leite, a pesquisa tem ajudado a entender as particularidades de determinados locais e com isso melhorar os produtos e processos. Essa troca de conhecimento permite atender “consumidores que têm cada vez mais demandas específicas e diferenciadas, não só do aspecto da alimentação, mas também do meio ambiente e sustentabilidade”.

Registrado no CNPq e com marca registrada no INPI, o grupo Inovaleite desenvolve pesquisa, tecnologia e inovação industrial na área de laticínios (Imagem: Reprodução)

Referência nacional

A UFJF possui a única planta piloto UHT no Brasil dentro de uma instituição pública: “isso é um diferencial da nossa universidade, que se tornou referência para a pesquisa nessa área”. Localizado no Laboratório de Química e Tecnologia (Quimtec) no Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICE), o espaço tem sido utilizado para consolidar diversos projetos de pesquisa e extensão, em parceria com empresas dos setores de leite e derivados.

“Os estudos têm dado muitos resultados, ajudando principalmente a entender a influência da qualidade do leite no processamento UHT, e também gerando novos produtos e inovações para esse mercado”, reforça. O processamento térmico do leite UHT vem da expressão Ultra-High Temperature, que na tradução significa Ultra Alta Temperatura (UAT). De acordo com o docente, é a tecnologia que mais industrializa leite na forma fluida no país.

A UFJF faz parte do grupo de pesquisa interinstitucional Inovaleite, que há mais de uma década integra pesquisadores que trabalham com a ciência e a tecnologia do leite e derivados. Também participam da rede a UFV, a Unicamp, o ILCT e a UFSCar. A proposta é tentar “aproximar a academia, com os dados de pesquisa e todo o conhecimento científico, à realidade industrial, das fábricas de grande, médio e pequeno porte aos pequenos produtores rurais”.

Vale lembrar que a UFJF possui o Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados. “Isso é muito importante porque é uma universidade que está em Minas Gerais, que é o maior produtor de leite do Brasil”, informa Stephani.

InnovaUHT

No último dia 16, foi realizado o evento de extensão InnovaUHT, simpósio internacional que recebeu mais de 600 inscrições, contando com uma média de 350 participantes ao vivo. O encontro integra uma série de eventos temáticos que o Inovaleite vem realizando desde o ano passado.

“Os simpósios conseguem centralizar um tema de interesse para a indústria e academia, e convidamos pesquisadores tanto da iniciativa privada quanto de instituições acadêmicas de ensino e pesquisa do mundo”, afirma. Esta edição contou com cientistas da Alemanha, França, Argentina, assim como participantes de diferentes países.

Na avaliação do professor, o evento foi muito proveitoso e conseguiu reunir diferentes visões sobre o processo UHT, como os aspectos regulatórios, a partir da participação do Ministério da Agricultura.

InnovaWhey

O próximo simpósio, que já tem data marcada para o dia 18 de novembro, terá como foco o processamento do soro do leite e seus derivados. O objetivo do InnovaWhey é discutir alternativas para o uso do soro dentro dos laticínios, focando em usos não convencionais e na agregação de valor aos produtos.

Outras informações: inovaleite.com