Investigar os fatores de risco para doenças cardiovasculares em profissionais de enfermagem que não possuem uma rotina de sono adequada tem sido o objeto de pesquisa de estudantes do Núcleo de Estudos em Fisioterapia Cardiorrespiratória (NEFIC) do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV).

Orientadas pela professora Vanessa Cardoso, as discentes do 8º período do curso de Fisioterapia da UFJF-GV, Alana Pinel Valério, Aline Monteiro Martins, Ana Caroline Moraes e Jennifer Andrade perceberam, a partir da análise de estudos anteriores, que profissionais que trabalham por turno possuem uma maior tendência de desenvolver riscos cardiovasculares. “Identificar populações que têm o risco aumentado de desenvolver estas doenças e as condições que determinam este risco pode contribuir para a elaboração de estratégias que minimizem o surgimento e a progressão destas. O fisioterapeuta, além de seu papel essencial na reabilitação cardiovascular nos níveis ambulatorial e hospitalar, precisa ampliar sua participação em espaços que promovam a educação em saúde e as ações preventivas”, destacou a orientadora Vanessa Cardoso.

A partir de então, as pesquisadoras decidiram trabalhar junto aos profissionais de enfermagem que atuam na cidade de Governador Valadares, uma vez que são profissionais da saúde constantemente submetidos ao regime de trabalho por turnos. Inicialmente a pesquisa “Trabalho por turnos e fatores de risco cardiovascular em profissionais de enfermagem” buscava realizar entrevistas, aplicação de questionários, coleta de medidas antropométricas, aferição da pressão arterial e dados vitais, bem como testes de força de preensão palmar. Porém, em razão da pandemia de Covid-19, toda a coleta de dados foi adaptada para o formato remoto com perguntas gerais sobre dados demográficos e estado de saúde, além de questionários validados para serem autoaplicáveis. “O prolongamento da pandemia e as diversas situações vivenciadas pelos profissionais de saúde ao longo do tempo tem nos feito refletir sobre a necessidade de incluirmos perguntas relacionadas a este contexto, uma vez que o estresse diário e as preocupações com o trabalho podem também contribuir para o agravamento dos transtornos do sono”, ressaltou a discente Aline Martins.

A adaptação da pesquisa leva em consideração artigos científicos que demonstram o impacto que a pandemia de COVID-19 tem causado entre os profissionais que atuam na linha de frente em hospitais e postos de saúde. “O esgotamento relacionado à pandemia, pesadelos, preocupações com o atendimento dos pacientes, uso de medicamentos para lidar com a pandemia e preocupações com a gravidez e com o cuidado dos filhos foram alguns dos pontos relatados pelos profissionais de saúde, entrevistados nos meses de agosto e setembro de 2020. Ao término do estudo os pesquisadores concluíram que 95,5% dos profissionais de saúde relataram má qualidade do sono, cerca de 50% relataram insônia moderada a grave e mais da metade relataram esgotamento”, afirmou Aline Martins, citando o artigo “Sleep Disturbances in Frontline Health Care Workers During the COVID-19 Pandemic: Social Media Survey Study”, publicado no Journal of Medical Internet Research.

Sobre o NEFIC

Criado em janeiro de 2016, é composto por docentes, fisioterapeutas e estudantes dos cursos de Fisioterapia e de mestrado em Ciências da Reabilitação e Desempenho Físico-Funcional do Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares. O objetivo do grupo é desenvolver projetos de pesquisas relacionados à avaliação e intervenção em fisioterapia cardiorrespiratória e fisioterapia cardiovascular em diferentes populações (desde de recém-nascidos a idosos) e em todos os níveis de atenção à saúde.

Para a professora Vanessa Cardoso, a participação dos discentes no grupo de pesquisa oportuniza a vivência de discussões que abordam desde os métodos de coleta de dados e instrumentos para avaliação das diversas condições clínicas e experimentais, bem como permite o contato com as mais recentes investigações de sua área de interesse. “Isto pode contribuir para o estímulo à pesquisa, quando novas ideias surgem a partir dos questionamentos de trabalhos anteriores e para a formação de profissionais que reflitam sobre sua prática profissional, a qual deve sempre estar embasada na evidência científica”, ressaltou.

Integrante do NEFIC desde 2020, Aline Martins ressalta que o grupo permite o contato com pessoas e profissionais que contribuem com o amadurecimento acadêmico. “Participar das reuniões com graduandos, mestres e doutores nos desperta ainda mais a curiosidade e a vontade de desenvolver pesquisas, temos a oportunidade de aprofundar em temas de nosso interesse, aprendemos a discutir e a sermos críticos”.

Sentimento compartilhado pela colega de 8º período, Alana Valério. “Discutir estudos sobre a especialidade de Fisioterapia Cardiorrespiratória desde a graduação nos possibilita estar sempre em contato com os profissionais atuais e futuros que atuam nestas áreas, e nos possibilita o desenvolvimento como profissionais de saúde mais críticos, estimulados a realizar pesquisas e comprometidos com a Prática Baseada em Evidência (PBE) quando disponível e aplicável, sem esquecer as preferências do paciente e suas condições clínicas. Além de tudo, é uma área que eu gosto e pretendo seguir”.

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