Fazer com que as ideias acadêmicas saiam dos laboratórios, gerem riqueza e solucionem questões importantes para o mundo. Este foi o principal recado passado pelo cientista e empreendedor brasileiro Javier Farago Escobar durante a conferência “Energia de biomassa de madeira: problema ou solução?”, apresentada nesta quarta-feira durante a 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Escobar, que atualmente cursa o pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, recebeu o Prêmio Tese Destaque da Universidade de São Paulo (USP) em 2017 pelo trabalho “A produção sustentável de biomassa florestal para energia no Brasil: o caso dos pellets de madeira”.

A tese, continuada em Harvard, deu origem à fintech “Biomass Trust”, da qual é fundador e CEO. A startup, incubada no Harvard Innovation Labs, usa biomassa para produzir energia sustentável. A técnica consiste na queima de um material chamado pellet de madeira, que vem dos resíduos de eucaliptos. A (ambiciosa) missão é solucionar a questão energética do planeta usando este tipo de tecnologia.

“O Brasil poderia ser um dos maiores produtores de pellets de madeira do mundo”, aponta. O pesquisador, porém, aponta para o principal entrave brasileiro para este mercado: a quantidade de cloro presente no eucalipto nativo, decorrente das chuvas que se formam no oceano e caem no continente, em ambientes tropicais. A porcentagem encontrada na madeira brasileira é superior aos padrões aceitos na União Europeia e em outras partes do mundo, o que inviabiliza sua venda. 

Ciência para mudar o mundo

É aí que entram os estudos desenvolvidos por Escobar na USP e em Harvard. A Biomass Trust desenvolveu um método químico – já patenteado – que retira o cloro dos pellets de madeira, fazendo com que ele possa ser vendido até mesmo nos mercados mais exigentes quanto a este quesito. “Chegando a esse resultado, podemos abrir esse mercado de pellets de madeira de eucalipto, com uma aplicação potencial para o Brasil. Em um raio de 300 quilômetros do porto, apenas com madeira residual, temos um potencial gigantesco quando pensamos em áreas degradadas, expansão de florestas energéticas e florestas já estabelecidas”.

O cientista e empreendedor quer utilizar o projeto, que já está em fase de negociação com os principais mercados do setor, como modelo de negócios não apenas para outras startups, mas também para as universidades ao redor do mundo.

“Abre-se uma possibilidade da gente pensar, na universidade, em alavancar ideias como um negócio. Um dos pilares estratégicos da humanidade na questão de desenvolvimento social é a ciência e a tecnologia. Então, destinando-as para encorajar os alunos a não só se sentir bem com uma bolsa de mestrado ou doutorado de uma empresa que paga alguns equipamentos de laboratório e fica com a tecnologia pra si e que poderia ser explorado de outra maneira pelo grupo de pesquisa, mas gerando riqueza não apenas para o seu entorno, para sua cidade e talvez o mundo inteiro, solucionando questões estratégicas”, finaliza.

Confira a programação completa da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)