Após o Brasil passar pela pior seca dos últimos 91 anos, as hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste – responsáveis por cerca de 70% da capacidade de armazenamento energético do país – finalizaram o mês de abril com um dos menores volumes de armazenamentos registrados na história. Ao mesmo tempo, o país bateu recorde de geração de energia por termelétricas, mais caras e poluentes; nunca antes o Brasil gerou tanta eletricidade a partir dessa fonte, fato que impacta diretamente no aumento das contas de luz dos brasileiros.
Em meio a este cenário de preocupação com a crise energética e os impactos ambientais, também levando em consideração as mudanças climáticas, pesquisadores estão empenhados em desenvolver alternativas adequadas ao desenvolvimento sustentável. “A longo prazo, a energia eólica é bastante constante e complementa a geração hidráulica, principalmente na seca, onde o vento aumenta em relação ao período de chuva”, argumenta o professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Edimar de Oliveira.
Em seguida, o próprio pesquisador explica uma solução para lidar com a imprevisibilidade da fonte de energia eólica: os ventos. “Na operação horária, o vento varia muito e é de difícil previsão, sendo necessário reservar energia nas térmicas e nas hidráulicas para suprir as variações. Uma alternativa promissora a esse arranjo tradicional é a ideia de guardar parte da energia na própria turbina eólica.” É justamente esta alternativa o foco do estudo orientado por Edimar de Oliveira e desenvolvido pelo mestrando Gabriel Schreider da Silva.
Recentemente, um artigo sobre a pesquisa de Oliveira e Silva foi publicado em uma revista com Qualis A1, a “International Journal of Electrical Power and Energy Systems”. Intitulado “Load Frequency Control and Tie-Line Damping Via Virtual Synchronous Generator”, o trabalho é relacionado ao modo de operação de usinas eólicas que permite a participação das mesmas na regulação da frequência do sistema, bem como na redução de oscilações nas linhas de interligação.
“O sistema elétrico brasileiro vem passando por um processo de transição, e o provável é que, daqui a alguns anos, a geração eólica e a solar sejam responsáveis por altos percentuais da geração de eletricidade do país, o que pode levar a uma redução da inércia do sistema. Nesse sentido, as conclusões do artigo contribuem para que se evite a ocorrência de problemas no Brasil semelhantes aos que causaram o blecaute de 2019 no Reino Unido, permitindo que as fontes de energia limpas, como solar e eólica, avancem com mais intensidade”, elucida o mestrando Gabriel Schreider da Silva.
Ainda segundo Silva, o percentual de geração eólica de energia no Brasil já aumentou desde a publicação do trabalho. “Em março de 2021, a geração eólica atingiu 10,4% da capacidade instalada de geração no país, de acordo com dados da plataforma do Operador Nacional do Sistema (ONS). O Brasil é um país com alto potencial eólico, principalmente no Nordeste e no Sul, onde já existem várias usinas eólicas e cada vez mais novas usinas surgem.” O professor Edimar de Oliveira complementa que “o crescimento é exponencial. Para 2024, a previsão é de que a energia eólica atingirá 11% da matriz energética brasileira”.
Outras informações:
“Load Frequency Control and Tie-Line Damping Via Virtual Synchronous Generator”