A pandemia de Covid-19 que fechou as portas dos museus mundo afora é a mesma que intensificou dilemas já enfrentados por essas instituições há décadas. No Brasil muitas dessas casas continuam com as portas cerradas, após mais de um ano do início da crise sanitária. Como retomar as atividades e enfrentar velhos dilemas? A programação do Memorial da República Presidente Itamar Franco para a 19ª Semana Nacional de Museus, que começa na próxima segunda-feira, dia 17, e segue até domingo, 23, busca responder à questão. Dois minicursos e dois webinários com especialistas de diferentes cantos do país serão oferecidos de maneira gratuita e aberta ao público, pelo YouTube , com oferta de certificado aos interessados.
No primeiro dia, 17, a professora do curso de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Zita Possamai, ministra o minicurso “Museus e contemporaneidade: construção de uma memória de pertencimento”, das 17h às 18h30, abordando a necessidade de aproximação da comunidade para a formação de público. “Quanto mais diretamente vinculado à vida cotidiana das pessoas, mais o museu se tornará um instrumento a serviço dos grupos ou coletividades”, defende a pesquisadora, autora dos livros “A memória cultural numa cidade democrática” e “Nos bastidores do museu: patrimônio e passado da cidade de Porto Alegre”.
No dia 18, os professores e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia Marcelo Cunha e Jamile Borges da Silva participam do webinar “Reflexões sobre a importância das coleções africanas e afro-brasileiras no processo de representação identitária”. No evento, ambos falam sobre suas atuações à frente de instituições que preservam a memória afro-brasileira e discutem os caminhos para uma maior representação identitária nas instituições nacionais. Cunha é coordenador do Museu Afro-Brasileiro da UFBA e Jamile coordena o Museu AfroDigital.
“Preocupa o fato de que a urgência na discussão acerca das memórias africanas e afro-brasileira esteja relacionada a questões antigas, ancoradas no passado racista da nossa sociedade, traduzidas no presente racista no qual vivemos”, alerta Cunha, ressaltando retrocessos nos últimos anos. “É urgente fazer dos museus espaços de fricção, de disputa, em lugar de ser espaço de consenso sobre o passado atávico colonial. O que pode ajudar nesse processo? Não temos um projeto nacional de política patrimonial, mas, de alguma maneira, as pessoas estão se apropriando das ferramentas de memória”, observa Jamile.
A história do livro
A questão da representatividade também cabe a outro assunto, a história do livro, tema do minicurso ministrado pela biblioteconomista da UFMG Diná Marques Pereira Araújo nos dias 20 e 21, das 9h às 11h. “Em 2021, o livro impresso em papel coexiste com o livro eletrônico e com os múltiplos novos modos de leitura em ambientes digitais. Nesse sentido, e ainda de acordo com o historiador Roger Chartier, cabe a nós refletir sobre as ordens dos discursos na cultura impressa e na cultura digital. Quem lê? Quem não lê? Quem é excluído dos processos de acesso a determinados livros? Quais livros circulam? Quais livros não circulam? Em quais comunidades circulam e deixam de circular?”, indaga Diná, também uma reconhecida restauradora e conservadora de documentos gráficos.
Encerrando a programação do Memorial para a 19ª Semana Nacional de Museus, evento realizado pelo Instituto Brasileiro de Museus, o webinar “Novos caminhos e perspectivas para os arquivos no cenário pós-pandemia” reúne experiências diversas em Juiz de Fora e também no Brasil. Promovido em parceria com o Arquivo Central/UFJF e com o Cecom/UFJF, o evento transmitido pelo canal no YouTube do Laboratório de pesquisa em História e Arquivologia coloca em debate o diretor do Cecom, Marcos Olender, o diretor do Memorial, Tarcísio Greggio, e a professora do curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande Andrea Gonçalves dos Santos, com mediação de Alessandra de Carvalho Germano, diretora do Arquivo Central/UFJF.