Com 3.300 alunos matriculados nos 46 programas de pós-graduação, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) luta para manter o apoio às atividades de pesquisa dentro dos programas e continuar atraindo estudantes. Apesar dos cortes orçamentários, a instituição ainda mantém as 252 bolsas de pós-graduação, entre elas, 21 de residência, 144 de mestrado e 87 de doutorado. Além do apoio com recursos próprios, os discentes podem concorrer a editais das agências de fomento.

Entre os beneficiados, Paulo Vitor Freitas, foi aprovado em segundo lugar no mestrado em Ciência da Computação, e só conseguiu finalizar a pós-graduação com o apoio de uma das bolsas oferecidas. “Um mestrado consome muito tempo, exige dedicação para realizar-se a pesquisa e desenvolver o trabalho. Via que muitos colegas tinham – e têm – dificuldade para conciliar trabalho e pós-graduação. Ter uma bolsa de pesquisa não é só um facilitador, é também uma garantia maior de trazer um retorno à sociedade”, conta Freitas.

Fabrício Viana acredita no poder transformador da educação e conta como a bolsa foi importante para manter os estudos no mestrado

O apoio também foi fundamental para garantir tranquilidade durante o curso de Fabrício Viana. “Pude focar no que realmente importava: minha formação e aperfeiçoamento acadêmico-profissional. Além disso, possibilitou que me dedicasse exclusivamente ao mestrado já que o seu valor permitia pagar minhas contas de estadia, alimentação e transporte”, diz o arquiteto.

Viana conta que a bagagem adquirida Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído (PROAC) foi importante para a aprovação no concurso para a vaga de arquiteto na prefeitura de Sapucaia. “O conhecimento que adquiri no mestrado, através da pesquisa do espaço público – com ênfase na relação entre praças e seus monumentos e artes públicas – também me auxiliou em atividades desempenhadas pelo meu cargo. Acredito muito no poder transformador da educação e o quanto as bolsas de estudo são importantes para garantirem a permanência e constância dos alunos até concluírem seus cursos”, comenta.

Desafios diante dos cortes
A UFJF conseguiu manter os valores das bolsas de mestrado e doutorado: R$ 1.500 e R$ 2.200, respectivamente. O montante ofertado em residência em Economia e Gestão Hospitalar, Farmácia e Docência também permanece em R$ 3.996,52. Em contrapartida, houve corte de 75% nos recursos do programa de Apoio à Pós-graduação (APG), utilizados na compra de insumos, inscrições em congressos, tradução de artigos e outros fins. Ainda vale considerar que as bolsas de pós-graduação também já vêm sofrendo cortes sucessivos por entidades de fomento à pós-graduação e pesquisa.

Estamos preocupados com a manutenção dos equipamentos, aquisição de insumos e material de consumo tão necessários para o suporte às pesquisas – Mônica Ribeiro

“Os impactos na pesquisa se realizam no Brasil, em grande parte associada às ações dos Programas de Pós-graduação (PPGs). Como nossos cortes incidiram sobre os recursos de financiamento, estamos preocupados com a manutenção dos equipamentos, aquisição de insumos e material de consumo tão necessários para o suporte às pesquisas”, explica a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Monica Ribeiro.

A UFJF faz, continuamente, uma importante defesa do setor de pós-graduação e da importância estratégica dentro da Instituição. Monica reitera que, conscientes de uma graduação de excelência, há a clareza que a instituição precisa alcançar notas mais altas nas duras avaliações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e que esta avaliação depende muito de suporte. “Houve um esforço para a  manutenção do número e valor das bolsas do Programa de Bolsas, pois aumentar o acesso às pessoas de menor renda está sendo motivo de grande preocupação da Propp”, destaca Mônica.

Mulheres na pesquisa
A egressa do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom), Graciela Bechara, passou por dois grandes desafios para concluir o curso: a pandemia e a maternidade. “A falta de apoio financeiro, por parte do governo federal, trouxe uma carga de gastos e investimentos muito alta. Cheguei a participar de alguns congressos, com apresentação de trabalhos, mas eu tinha que arcar com todos os custos. A bolsa de estudos teria me ajudado a aprimorar ainda mais o meu currículo, pois me daria a oportunidade de participar de uma quantidade maior de eventos e de apresentar outros trabalhos.”

Eugene Franklin (sentada ao centro de casaco branco) com alunos na disciplina de Jornalismo on-line

Amiga de Graciela, Eugene Franklin, também egressa do PPGCom, teve essa oportunidade. Ela conquistou o título de mestre sendo apoiada pelas bolsas e ressalta que isso abriu portas na carreira acadêmica como, por exemplo, se tornar professora substituta na Universidade Federal de Viçosa (UFV). “Elas são essenciais para que pesquisadores possam desenvolver seus trabalhos e contribuir para o desenvolvimento do país.”

O apoio é fundamental para as mulheres pesquisadoras, considerando  obstáculos como o machismo, o sexismo e a falta de incentivo. “Muitas também precisam conciliar a maternidade com a carreira, outro fator que impede muitas de nós a continuar na pesquisa, e as bolsas, nesse caso, também são de grande suporte. Foi essencial recebê-las para desenvolver a minha pesquisa e me firmar enquanto pesquisadora, ganhando meu espaço em uma área predominantemente masculina como é a carreira científica”, reforça Eugene.

“Pela primeira vez meus relatos de experiência enquanto homem trans foram valorizados” 

A UFJF já oferece entradas por meio de cotas nos Programas em Serviço Social, Educação, História, Geografia, Psicologia, e Ciências Sociais, e está em curso a homologação de uma resolução de cotas para toda a pós-graduação da instituição.  “A Política de Ações Afirmativas, que está sendo homologada nos próximos meses, possibilitará o acesso aos grupos de pessoas pretas, pardas, indígenas, quilombolas, ciganos pessoas trans, em situação de refúgio e com deficiência a 50% das vagas de acesso. Esta política de acesso será acompanhada por uma outra de acompanhamento e permanência dos mesmos, visando dar condições de êxito ao processo formativo”, explica a pró-reitora Mônica Ribeiro.

A iniciativa impacta fortemente na valorização das diferenças, como aconteceu com o formado em Direito, Julio Mota. Graduado em uma instituição privada, ele descobriu novas oportunidades quando cursou a Especialização de Gênero e Sexualidades: perspectivas interdisciplinares. “Pela primeira vez meus relatos de experiência enquanto homem trans foram valorizados, principalmente enquanto contribuição para nossas discussões durante as aulas. Também pela primeira vez dividi turma com uma pessoa transexual e/ou travesti, a Bruna Rocha, que com sua história de vida e superação me ensinou que ser transexual no Brasil é um exercício de resistência diário”, explica Mota.

No final de 2020, Júlio se inscreveu no processo seletivo de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Serviço Social (PPGSS), pela cota destinada à transexuais e travestis, e ressalta que a existência dessa reserva de vagas o motivou a concorrer ao processo seletivo. “Após a divulgação do resultado geral, pude perceber que os oito primeiros lugares da seleção para o mestrado foram ocupados por pessoas pretas, pardas ou indígenas e por mim, todos cotistas. Além de buscar corrigir as desigualdades históricas de grupos marginalizados, as cotas também possuem o papel de publicizar que a Universidade pública também é destinada às ditas minorias.”

Panoramas futuros

Para a pró-reitora Mônica Ribeiro, é indispensável que neste momento pesquisadores se mobilizem na busca por editais de apoio e financiamento das agências (Foto: Luiz Carlos Lima)

Mônica afirma que as bolsas do Programa de Bolsas de Pós-graduação da UFJF constituem um importante apoio aos PPGs, principalmente aqueles mais novos ou com notas 3 e 4. Elas se juntam às bolsas Capes e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e abrem importantes oportunidades para o êxito das dissertações e teses de mestrado e doutorado.

Para minimizar as perdas, a Propp incentiva os pesquisadores na busca por recursos de agências de fomento em editais públicos e irá continuar na luta pela defesa de maiores recursos para a ciência, tendo em vista sua centralidade na resolução de muitos problemas que hoje afligem a humanidade.

“Para a Propp, a preservação do número de bolsas e de seu valor representa um importante estímulo à continuação da política de excelência que estamos desenvolvendo. Uma vez que o setor deveria contribuir com sua cota de ‘sacrifício’,  o corte dos recursos financeiros constituiu a melhor saída. Para diminuir esse impacto, recomendamos fortemente aos pesquisadores, que busquem a submissão aos editais das agências de fomento. Por meio deles é possível angariar apoio para aquisição de insumos, material de consumo ou mesmo recursos para manutenção de equipamentos”, finaliza a pró-reitora.

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