Cortes atingem todos os setores da Universidade e impactam também nas bolsas, como as de monitoria que sofrerão redução de valor (Foto: acervo/divulgação UFJF)

Ao longo dos 60 anos, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) já entregou o diploma de ensino superior para mais de 70 mil profissionais. Cerca de 35 mil apenas nos últimos 20 anos. No entanto, depois de um período de expansão e investimentos, inclusive com a ampliação do acesso aos grupos historicamente excluídos, as universidades federais do país veem seus orçamentos serem enxugados ano após ano desde 2016 pelo Governo federal.

Com 20.662 estudantes matriculados em 79 cursos em dois campi, a UFJF, assim como boa parte das demais instituições de ensino públicas brasileiras, pode ter seu ensino superior gratuito e de qualidade comprometido. A redução orçamentária acumulada é de 47% – passando de R$157,9 milhões em 2016 para R$82,3 milhões em 2021.

Segundo o pró-reitor de Graduação, Cassiano Caon Amorim, no âmbito das políticas de Graduação, os cortes no orçamento impactam fortemente a área, fragilizando a possibilidade de formação de estudantes por meio dos diferentes programas de bolsas, que estão incluídos no conjunto de elementos curriculares dos cursos. “Ao diminuir o número de bolsas, limitamos as experiências formativas, o desenvolvimento de competências e habilidades específicas para o desempenho profissional dos alunos.”

Na prática, apenas nas políticas da graduação, serão 869 oportunidades a menos, o que equivale a 24% do total antes praticado de 3.607 bolsas. Sem elas, muitas das histórias de superação registradas dentro da educação poderão ter finais diferentes. É o que conta o graduado e mestre em Ciência da Computação, Paulo Vitor de Freitas. 

“Essa bolsa me abriu portas”

Paulo Vitor de Freitas pode ampliar sua formação com as bolsas, dedicando-se inteiramente aos estudos durante o curso de Ciência da Computação

Após finalizar o ensino médio em uma escola pública, Freitas foi aprovado no Bacharelado em Ciência da Computação, em 2010. Na época, trabalhava informalmente, dando aulas de informática, no entanto, nem sempre havia uma turma garantida para que pudesse lecionar. Um ano depois de ingressar na UFJF, conseguiu uma bolsa de Treinamento Profissional (TP) para atuar no gerenciamento dos programas de graduação. “Essa bolsa me abriu portas e me deu conhecimento sobre a universidade que eu não imaginava. Também consegui, um pouco depois, a bolsa de apoio estudantil, que me ajudava principalmente a me locomover, já que eu morava longe e precisava pegar dois ônibus para ida e mais dois para voltar para casa.”

Essa bolsa me abriu portas e me deu conhecimento sobre a universidade que eu não imaginava – Paulo Vitor de Freitas, mestre em Ciência da Computação

A graduação foi cursada no período noturno, o que permitia que, durante o dia, Freitas cumprisse as ações propostas pelo TP. “As aulas costumavam ir até tarde, então muitas vezes acabava chegando em casa depois da meia noite. Essa dinâmica permaneceu nos semestres iniciais, mas dada a distribuição da carga horária do curso e a exigência de disciplinas eletivas e optativas, comecei a me matricular também em disciplinas diurnas, o que aumentou o meu tempo de permanência na universidade. Se não fosse pela bolsa, eu estaria trabalhando durante o dia e estudando somente a noite, período que já era quase totalmente preenchido com as matérias obrigatórias.”

Se não fosse pela bolsa, eu estaria trabalhando durante o dia e estudando somente a noite, período que já era quase totalmente preenchido com as matérias obrigatórias – – Paulo Vitor de Freitas, mestre em Ciência da Computação

Além das oportunidades financeiras, abertas pelas bolsas de graduação, em 2014 iniciou uma bolsa de Iniciação Científica (IC), o que permitiu que o estudante conhecesse o mundo acadêmico e o impulsionasse a ingressar no curso de Mestrado. “Nessa bolsa pude utilizar o laboratório do departamento, recém-inaugurado no Instituto Ciências Exatas  (ICE), com uma boa estrutura para estudos e próximo de outros bolsistas com quem compartilhava experiências. Como o laboratório e as disciplinas já eram no ICE, minha vida acadêmica ficou muito mais fácil”, conta Freitas.

Direitos adquiridos

O corte orçamentário impacta diretamente em todo o funcionamento da Universidade, desde as ações de ensino, pesquisa e extensão à questões como as de infraestrutura e de cultura. Além disso, regride nas políticas de permanência de estudantes oriundos de escolas públicas, em vulnerabilidade social e de pessoas com deficiência, pretas, pardas e indígenas que dependem de investimento em benefícios financeiros para que possam conquistar o diploma do ensino superior.

A Política de Reserva de Vagas para grupos específicos objetiva acolher pessoas que estavam à margem do Ensino Superior Público no Brasil. Segundo o pró-reitor Cassiano Amorim, na UFJF, as políticas, que visam garantir os direitos adquiridos pelo ingresso por cotas, têm permitido que o acesso desses estudantes à Universidade seja mais efetivo e, com isso, aumente o número de discentes que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas e de pessoas em outras vulnerabilidades sociais, raciais e econômicas. 

Para Carolina de Paula ampliação do acesso aliada às bolsas e políticas de permanência foram fundamentais para conclusão do curso

Entre os alunos assegurados pelas políticas de cotas, a graduada em Jornalismo, Carolina de Paula Silva, foi aprovada pela reserva de vagas para pessoas pretas – Cota A. Sempre incentivada pelos professores dos ensinos fundamental e médio do Colégio de Aplicação João XXIII a ingressar na UFJF, encontrou na Universidade uma oportunidade de transformação social. “Sempre tive o apoio da minha família, justamente por ser a primeira a ter ensino superior na minha casa. Eles sempre souberam da qualidade do ensino na universidade federal e me motivaram muito a alcançar este objetivo”.

No entanto, logo que se tornou ingressa da instituição, Carolina conta que a mãe ficou desempregada e, diante deste cenário, algumas dificuldades apareceram, entre elas, o custeio do transporte. “Eu dependia de quatro passagens para ir e voltar da Universidade todos os dias e precisava de uma maneira para conseguir reduzir esses gastos. Participei do programa de Apoio Estudantil que, com certeza, foi o que me permitiu fazer muitas atividades acadêmicas. Além do auxílio, também procurei bolsas de TP na minha área para complementar a minha renda e me proporcionar outros aprendizados.”

As bolsas permitem que o aluno saia preparado de forma profissional e capacitado para encontrar um mercado de trabalho disputado – Carolina de Paula Silva

Mais do que possibilitar a permanência da estudante na Universidade, o Apoio Estudantil e as bolsas de TP trouxeram novas vertentes para a vida da jornalista. “Inicialmente, meu sonho era ser jornalista esportiva, mas durante o TP comecei a me interessar pela área de cerimonial, o que me ajudou muito em trabalhos depois de formada. Além disso, também desenvolvi aptidão para a fotografia, e atuo na área até hoje. As bolsas permitem que o aluno saia preparado de forma profissional e capacitado para encontrar um mercado de trabalho disputado.”

Para o futuro

Para o ano letivo de 2021, no que se refere à política de bolsas em que a gestão é feita pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd), Amorim explica que em breve será iniciada o processo de implementação das bolsas de monitoria – que não sofreram cortes nesse momento – e também será divulgada, nos próximos dias, a classificação final com a destinação de bolsas para os Projetos de Treinamento Profissional Acadêmico. Já o resultado do Treinamento Profissional de Gestão ainda está em análise, considerando as adequações para atender aos cortes que atingiram essas modalidades.

“Os Grupos de Educação Tutorial (GETs) também sofrerão cortes na ordem de 35% de suas bolsas para o próximo edital, o que demandará uma discussão interna na Prograd juntamente ao Comitê Local de Acompanhamento e Avaliação ( CLAA), e à Coordenação de Políticas de Currículo e Ensino de Graduação”, reitera Amorim

Vinda de Caxambu, a estudante do curso de Rádio, TV e Internet, Karla Souza, era bolsista do projeto “Atualização de sites administrativos e de unidades acadêmicas”, na Diretoria de Imagem Institucional, antes que o prazo do edital chegasse ao fim. De acordo com a aluna, os cortes orçamentários representam o sucateamento da educação pública. 

“As bolsas de treinamento profissional nos proporcionam um  conhecimento além da sala de aula e nos permitem conhecer e exercer um trabalho que fará parte de nossa carreira após a graduação. Com a diminuição do número de bolsas, decresce também a possibilidade de mais estudantes terem essa experiência. Além disso, com a redução do valor pago, dificulta a permanência na universidade de alunos, que assim como eu, vêm de outras cidades para estudar”, destaca Karla. 

Além do corte do número de bolsas, o valor das mesmas também foi modificado. No caso das de Treinamento Profissional, passou de R$400 para R$300. O corte afetou praticamente todas as modalidades. Veja aqui.

Para reduzir os impactos, a Universidade estuda uma série de ações para permitir a continuidade dos estudantes no ensino superior e fortalecer o ensino de qualidade, reconhecido em rankings nacionais e internacionais, nos últimos anos. “Destacamos que, em praticamente todos os projetos de formação gerenciados pela Prograd, há possibilidade de participação voluntária de estudantes. Um exemplo é o TP que possui uma grande adesão de alunos que participam de projetos sem percepção de bolsas. Nossa intenção é continuar possibilitando essa participação para que esses componentes formadores possam ser acessados pelos nossos estudantes”, finaliza o pró-reitor.

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