Macho, da espécie Bokermannohyla ibitiguara, foi clicado por Rubens Turin na Serra da Canastra em Minas Gerais

Espécie com nome curioso, a “perereca gladiadora”, registrada por Rubens Turin, mestrando do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi destaque em conferência na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

A imagem, feita em 2013 no Parque Nacional da Serra da Canastra em Minas Gerais, recebeu o prêmio Goodson de Arte na Ciência, na 27ª Conferência Virtual Anual de Comportamento Animal na Universidade de Indiana (EUA), realizada no último mês de março. Trata-se de um macho, empoleirado em um tronco de uma árvore com líquens, na mata ciliar de um riacho, habitat comum da espécie. O registro fotográfico foi realizado após a gravação das vocalizações do macho no local.

De acordo com o mestrando, o prêmio homenageia o falecido pesquisador da Universidade de Indiana, Dr. James Lenard Goodson Jr, que também era um entusiasta da beleza na ciência, capturando belas imagens durante seus estudos. Assim, o resultado levou em consideração a estética e o interesse visual da imagem. 

“Além dessa característica de nossa imagem, a espécie Bokermannohyla ibitiguara (nome científico) somente ocorre no estado de Minas Gerais e apresenta um comportamento complexo, o que também pode ter contribuído como fator relevante para sua escolha como uma das vencedoras”, explica Turin. O prêmio foi dividido com Stacey Tecot, da Universidade do Arizona (EUA), por sua fotografia de um mamífero carnívoro endêmico de Madagascar.

Atualmente, o trabalho do mestrando está vinculado ao Laboratório de Ecologia Evolutiva de Anfíbios (Lecean) da UFJF, sob orientação do professor Renato Nali. A foto, no entanto, foi tirada enquanto Turin era bolsista de iniciação científica durante a pesquisa sobre as variações dos cantos da Bokermannohyla ibitiguara. “Por ser um congresso majoritariamente com participantes dos EUA, foi muito gratificante perceber que uma espécie representante da biodiversidade brasileira, e endêmica do estado de Minas Gerais, foi contemplada pelo Prêmio Goodson de Arte na Ciência”, comemorou o orientador.

Diversidade brasileira

Turin explica que o Brasil é conhecido como um país megabiodiverso e abriga em seu território uma grande quantidade e variedade de formas de vida. Dentre os animais vertebrados, os sapos, as rãs e as pererecas (anfíbios anuros) formam um grupo com mais de mil espécies de ocorrência no país, o que faz do Brasil o país campeão quanto à riqueza de espécies deste grupo. Entretanto, ainda é desconhecida boa parte de seus comportamentos e os resultados de seu estudo auxiliam na compreensão sobre essa diversidade. 

“Uma dessas espécies é a perereca gladiadora ou Bokermannohyla ibitiguara. Seu nome popular deriva do comportamento combativo dos machos por território, enquanto seu nome científico (Ibitiguara, ibitiriguara = ybytyriguara) é baseado no Tupi e se refere ao “morador da serra”, ou mais especificamente, ao morador da Serra da Canastra”, destaca o mestrando.

A espécie habita as matas ciliares do entorno dos riachos, tem atividade noturna e se reproduz entre os meses de setembro e maio – quando são encontrados os machos coaxando para atrair as fêmeas. “A beleza da imagem está na postura do macho e seu olhar para a câmera. Parece até que estava posando para a imagem. Além disso, o contraste das cores e do registro no período da noite contribuíram para o resultado final”, reflete Turin.

Pesquisa

Durante a conferência da universidade americana, Turin apresentou um pôster e descreveu brevemente o canto de corte e o primeiro registro dos toques das fêmeas – estímulos táteis – nos machos. Já eram conhecidos diversos tipos de cantos para a espécie, como o canto de anúncio, para atrair as fêmeas; o agressivo, para repelir machos competidores próximos; e de briga, emitido durante combates físicos.

Com a apresentação, Turin pode demonstrar a ocorrência de uma comunicação multimodal durante a corte da espécie, envolvendo sinais acústicos, táteis e possivelmente químicos, contribuindo para futuros estudos com esta e outras espécies de anuros (sapos, rãs e pererecas). O trabalho já foi submetido à publicação e deverá estar disponível em breve.

“Com esta espécie desenvolvi minha Iniciação Científica na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus Jaboticabal, sob orientação da professora Cynthia Prado e coorientação do Renato Nali, meu atual orientador de mestrado. Em 2018, publiquei, junto com eles, a pesquisa sobre as variações do canto de anúncio da espécie na Revista Amphibia-Reptilia”, aponta o mestrando. 

De acordo com Nali, as observações do trabalho foram realizadas em 2013, enquanto ele era aluno de doutorado, e Turin participava de um projeto de Iniciação Científica, ambos na Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Estes dados ficaram parados, e com aprovação de Rubens, como meu aluno de mestrado em Biodiversidade da UFJF, em setembro de 2020, decidimos revisitá-los e redigir o trabalho, que foi apresentado no congresso e também submetido à publicação.”

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