Vespa social Polistes ferreri predando uma lagarta de Borboleta (Lepidoptera)- Foto: Bruno Corrêa Barbosa.

Um dos grandes desafios enfrentados na agricultura é o controle de pragas. Para isso, pesticidas tóxicos são utilizados de forma excessiva. Pesquisadores do Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica do Departamento de Zoologia do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apontam uma alternativa: o uso de vespas sociais. Predadoras de larvas de moscas e de pernilongos, além de percevejos, lagartas de borboletas, pulgões, besouros, as vespas são agentes naturais de controle biológico de pragas, podendo substituir o uso de pesticidas. Um dos artigos do grupo, “Pest Control Potential of Social Wasps in Small Farms and Urban Gardens”, foi publicado na revista científica internacional “Insects”, uma das mais relevantes da área.

Uma alternativa natural para agrotóxicos

Entre 2000 e 2010, o uso de pesticidas no Brasil cresceu em 200%. De acordo com o Atlas Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, cerca de 20% de todo agrotóxico comercializado no mundo é consumido no Brasil. Pesquisa financiada pelo Greenpeace mostra que o Brasil é o principal mercado de agrotóxicos altamente perigosos. O uso desenfreado desses pesticidas causa sérios danos ao solo e a corpos de água contaminando esses ambientes e colocando diversos ecossistemas em risco. Além disso, oferecem danos diretos à saúde humana. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) alerta para o efeito carcinogênico de algumas substâncias utilizadas.

Segundo o artigo, o uso de vespas como agentes de controle oferece vantagens como a praticidade do método, o baixo custo operacional, a ausência de resistência das presas e a diminuição do uso de inseticidas. “As vespas são insetos sociais e constroem um ninho, onde vivem por vários meses, sendo necessário a busca diária de alimento para sua prole. Nessa atividade elas mostram seu potencial como predadores de insetos desfolhadores, aqueles que atacam plantações”, explica Fábio Prezoto, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. De acordo com a publicação, o  manejo de colônias de vespas sociais em abrigos artificiais é uma técnica viável, simples e econômica. O método é mais adequado para pequenas fazendas e jardins urbanos, uma vez que as vespas requerem alguma complexidade ambiental para manter suas colônias, como fontes de água e acesso a açúcares e proteínas.

Redução de pragas, aumento de lucro

Durante a pesquisa, alguns ninhos de vespa foram removidos de localidades onde eram abundantes. Então foram realocados em abrigos artificiais que protegem o ninho da chuva, mudanças de temperatura, vento e luminosidade excessiva. “No dia seguinte, nós retiramos o envoltório protetor e as vespas dão início às atividades já no novo local. No período de uma semana a 10 dias, elas já estão perfeitamente habituadas ao novo ambiente e já estão fazendo suas atividades de forma bastante natural”, esclarece. 

Depois da ambientação das vespas ao novo local a produtividade da lavoura de pequenas fazendas aumentou de 15% a 30%. “Isso significa, para o produtor, um acréscimo de 15% a 30% na lucratividade que essa lavoura vai oferecer, e uma redução significativa – de 70 a 90% das principais pragas desfolhadoras da lavoura”, revela Prezoto. Uma vez que as vespas são transferidas, a tendência é que os ninhos continuem a prosperar e dar origem a novos ninhos na mesma localidade, promovendo a manutenção constante de uma população ativa de predadores e sempre mantendo a população de pragas indesejáveis em um nível mais baixo.