A universidade, enquanto espaço de construção do conhecimento, deve pautar suas ações a favor da pluralidade – de raças, crenças, comunidades, entre tantas outras. Na Universidade Federal de Juiz de Fora, as políticas que visam à garantia da diversidade são definidas na Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf); entre as iniciativas desenvolvidas no campus Governador Valadares (UFJF-GV), estudantes, docentes e técnico-administrativos debatem questões raciais e aplicação de políticas coletivas no Grupo de Estudos Relações Raciais, Estado e Sociedade (Gerres).

“Graças à luta histórica dos movimentos negros, o universo acadêmico hoje é cada vez mais plural, tendo mudado principalmente nas últimas décadas, com as políticas de ações afirmativas. Com muitos desafios e importantes embates, os grupos racializados como não-brancos, que sempre estiveram à margem, estão conquistando mais espaço. E é nossa missão, através das ferramentas que temos, fortalecer e garantir a continuidade desse importante movimento”. Esse é um dos princípios que regem a atuação da servidora Flávia Carvalho no grupo. Em sua fala, ela enfatiza a missão da universidade, que “deve ser, por essência, um espaço capaz de contribuir no desenvolvimento social, interferindo e recebendo interferências positivas de seu entorno e dos movimentos que estruturam a sociedade”.

Ana Carolina (à esquerda) na primeira reunião do Gerres, em 2019. (Foto: Pedro Hiago)

Para a estudante Ana Carolina Fernandes, o debate sobre as relações raciais toma ainda mais importância em um campus novo, como o de Governador Valadares – que completou oito anos nessa semana. “Temos que colaborar com a comunidade, acolher os alunos, planejar intervenções. Desenvolver esse assunto no ambiente estudantil é importante para que os alunos negros que entrarem se sintam pertencentes, consigam se integrar ao meio de uma melhor forma”, relata a discente do curso de Ciências Econômicas. As ações do grupo, segundo ela, fazem com que a discussão da temática racial se estenda para além do dia da Consciência Negra, comemorado neste 20 de novembro.

Iniciativa surgiu de anseios por diálogos sobre raça

Reunião online do Gerres, durante a pandemia. (Foto: reprodução)

Composto por estudantes, docentes e servidores técnico-administrativos da UFJF-GV, o Gerres surgiu em 2019, e, mesmo durante a paralisação das atividades presenciais pela pandemia, continua promovendo encontros virtuais. A cada reunião, o grupo analisa um material e contextualiza o tema na realidade da Universidade. “No primeiro encontro de 2020, por exemplo, conversamos com os responsáveis por um projeto que diagnosticou o perfil socioeconômico dos estudantes que ingressam em nossa universidade. Para o Gerres, conhecer o perfil da instituição e da cidade é muito importante para se pensar propostas que sejam realmente efetivas e duradouras”, relata Flávia.

“Com muitos desafios e importantes embates, os grupos racializados como não-brancos, que sempre estiveram à margem, estão conquistando mais espaço” Flávia Carvalho, servidora

Segundo o docente Bráulio Magalhães, a proposta do grupo é discutir as relações raciais em diferentes perspectivas: “essa discussão alcança, e deve alcançar, todos, os negros e não negros. Temos a perspectiva do Estado, sobre as políticas públicas, as que existem e as não satisfatórias, como potencializá-las; e ainda a sociedade, que são os afetados e as pessoas não afetadas diretamente, mas quando se fala de diferenciação por classe e raça, falamos de questões estruturais e institucionais. Toda a sociedade precisa estar engajada”.

Embora o Gerres conte, atualmente, com integrantes vinculados à UFJF-GV, Bráulio destaca que toda a comunidade valadarense pode participar. “Queremos levar as atividades para além da universidade; além de pautar um tema e ter uma estruturação formal, é mais do que uma obrigação para a universidade pública que isso seja levado para a comunidade. Outras pessoas querem e precisam discutir: coletivos, movimentos sociais, negros, não negros, todos precisam participar disso”.

Para participar do Gerres, ou conhecer mais sobre o trabalho do grupo, basta enviar um email para flavia.carvalho@ufjf.edu.br.

Eventos reforçam a relevância do tema no Mês da Consciência Negra

A programação do Mês da Consciência Negra em Governador Valadares teve início nesta semana, com o lançamento da 17ª edição do Vamos Ler!, que traz produções de escritores afro-latinos. Para a próxima semana, estão programadas oficinas, ações nas mídias sociais da Universidade, e ainda a sexta reunião do Gerres, que será aberta à comunidade e transmitida online. Confira a programação.

“Num mundo pautado por um ideal eurocêntrico de beleza e estética, falar da estética negra é necessário e urgente” – Mariana Lage, docente

A reunião aberta do Gerres acontece na terça, 24, a partir das 17h. Na sequência, será realizada a oficina ‘Raça, subcidadania e isolamento social em tempos de Covid-19’, com participação do mestrando em Ciências da Universidade de São Paulo, Ronan da Silva Gaia. Ronan é autor do artigo  “Subcidadania, raça e isolamento social nas periferias brasileiras: reflexões em tempos  de Covid-19” , que demonstrou a diferença no enfrentamento à pandemia no Brasil, levando em consideração as desigualdades sociais e raciais. Na ocasião, ocorre também o lançamento da marca do grupo, estruturada pelo setor de Comunicação, Cultura e Eventos da UFJF-GV. Para se inscrever, acesse este link.

Na quinta, 26, o tema da atividade será a estética negra. A partir das 17h, acontece a oficina ‘Estética negra em espaços universitários e organizacionais’, ministrada pela mestranda em Administração da Universidade Federal do Espírito Santo, Juliana Schneider Mesquita. “Num mundo pautado por um ideal eurocêntrico de beleza e estética, falar da estética negra, da identidade negra, da beleza dos corpos negros, da aceitação desses corpos nos ambientes organizacionais é necessário e urgente”, destaca a organizadora do evento, professora Mariana Lage. Clique aqui para se inscrever.