A universidade, enquanto espaço de construção do conhecimento, deve pautar suas ações a favor da pluralidade – de raças, crenças, comunidades, entre tantas outras. Na Universidade Federal de Juiz de Fora, as políticas que visam à garantia da diversidade são definidas na Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf); entre as iniciativas desenvolvidas no campus Governador Valadares (UFJF-GV), estudantes, docentes e técnico-administrativos debatem questões raciais e aplicação de políticas coletivas no Grupo de Estudos Relações Raciais, Estado e Sociedade (Gerres).
“Graças à luta histórica dos movimentos negros, o universo acadêmico hoje é cada vez mais plural, tendo mudado principalmente nas últimas décadas, com as políticas de ações afirmativas. Com muitos desafios e importantes embates, os grupos racializados como não-brancos, que sempre estiveram à margem, estão conquistando mais espaço. E é nossa missão, através das ferramentas que temos, fortalecer e garantir a continuidade desse importante movimento”. Esse é um dos princípios que regem a atuação da servidora Flávia Carvalho no grupo. Em sua fala, ela enfatiza a missão da universidade, que “deve ser, por essência, um espaço capaz de contribuir no desenvolvimento social, interferindo e recebendo interferências positivas de seu entorno e dos movimentos que estruturam a sociedade”.
Para a estudante Ana Carolina Fernandes, o debate sobre as relações raciais toma ainda mais importância em um campus novo, como o de Governador Valadares – que completou oito anos nessa semana. “Temos que colaborar com a comunidade, acolher os alunos, planejar intervenções. Desenvolver esse assunto no ambiente estudantil é importante para que os alunos negros que entrarem se sintam pertencentes, consigam se integrar ao meio de uma melhor forma”, relata a discente do curso de Ciências Econômicas. As ações do grupo, segundo ela, fazem com que a discussão da temática racial se estenda para além do dia da Consciência Negra, comemorado neste 20 de novembro.
Iniciativa surgiu de anseios por diálogos sobre raça
Composto por estudantes, docentes e servidores técnico-administrativos da UFJF-GV, o Gerres surgiu em 2019, e, mesmo durante a paralisação das atividades presenciais pela pandemia, continua promovendo encontros virtuais. A cada reunião, o grupo analisa um material e contextualiza o tema na realidade da Universidade. “No primeiro encontro de 2020, por exemplo, conversamos com os responsáveis por um projeto que diagnosticou o perfil socioeconômico dos estudantes que ingressam em nossa universidade. Para o Gerres, conhecer o perfil da instituição e da cidade é muito importante para se pensar propostas que sejam realmente efetivas e duradouras”, relata Flávia.
“Com muitos desafios e importantes embates, os grupos racializados como não-brancos, que sempre estiveram à margem, estão conquistando mais espaço” Flávia Carvalho, servidora
Segundo o docente Bráulio Magalhães, a proposta do grupo é discutir as relações raciais em diferentes perspectivas: “essa discussão alcança, e deve alcançar, todos, os negros e não negros. Temos a perspectiva do Estado, sobre as políticas públicas, as que existem e as não satisfatórias, como potencializá-las; e ainda a sociedade, que são os afetados e as pessoas não afetadas diretamente, mas quando se fala de diferenciação por classe e raça, falamos de questões estruturais e institucionais. Toda a sociedade precisa estar engajada”.
Embora o Gerres conte, atualmente, com integrantes vinculados à UFJF-GV, Bráulio destaca que toda a comunidade valadarense pode participar. “Queremos levar as atividades para além da universidade; além de pautar um tema e ter uma estruturação formal, é mais do que uma obrigação para a universidade pública que isso seja levado para a comunidade. Outras pessoas querem e precisam discutir: coletivos, movimentos sociais, negros, não negros, todos precisam participar disso”.
Para participar do Gerres, ou conhecer mais sobre o trabalho do grupo, basta enviar um email para flavia.carvalho@ufjf.edu.br.
Eventos reforçam a relevância do tema no Mês da Consciência Negra
A programação do Mês da Consciência Negra em Governador Valadares teve início nesta semana, com o lançamento da 17ª edição do Vamos Ler!, que traz produções de escritores afro-latinos. Para a próxima semana, estão programadas oficinas, ações nas mídias sociais da Universidade, e ainda a sexta reunião do Gerres, que será aberta à comunidade e transmitida online. Confira a programação.
“Num mundo pautado por um ideal eurocêntrico de beleza e estética, falar da estética negra é necessário e urgente” – Mariana Lage, docente
A reunião aberta do Gerres acontece na terça, 24, a partir das 17h. Na sequência, será realizada a oficina ‘Raça, subcidadania e isolamento social em tempos de Covid-19’, com participação do mestrando em Ciências da Universidade de São Paulo, Ronan da Silva Gaia. Ronan é autor do artigo “Subcidadania, raça e isolamento social nas periferias brasileiras: reflexões em tempos de Covid-19” , que demonstrou a diferença no enfrentamento à pandemia no Brasil, levando em consideração as desigualdades sociais e raciais. Na ocasião, ocorre também o lançamento da marca do grupo, estruturada pelo setor de Comunicação, Cultura e Eventos da UFJF-GV. Para se inscrever, acesse este link.
Na quinta, 26, o tema da atividade será a estética negra. A partir das 17h, acontece a oficina ‘Estética negra em espaços universitários e organizacionais’, ministrada pela mestranda em Administração da Universidade Federal do Espírito Santo, Juliana Schneider Mesquita. “Num mundo pautado por um ideal eurocêntrico de beleza e estética, falar da estética negra, da identidade negra, da beleza dos corpos negros, da aceitação desses corpos nos ambientes organizacionais é necessário e urgente”, destaca a organizadora do evento, professora Mariana Lage. Clique aqui para se inscrever.