Pesquisa premiada analisa impacto de brincadeiras científicas investigativas na educação básica (Foto: Canva)

Em meio às atividades de uma das edições do curso “Brinca Ciência”, o pesquisador Wagner Eiras comoveu-se com estudantes reagindo a brinquedos científicos e, mediante o fascínio deles, viu-se transportado de volta à própria infância. O encanto causado nele foi a primeira faísca para que, anos mais tarde, Eiras ingressasse como doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), dedicando sua pesquisa para analisar o protagonismo autônomo de crianças por meio de brincadeiras científicas investigativas. Na última quinta-feira, 1°, a tese do pesquisador foi anunciada como vencedora do Prêmio CAPES 2020 na área de Educação. 

A premiação existe desde 2005 e é realizada via parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Fundação Carlos Chagas, o Instituto Serrapilheira e a Comissão Fullbright. Para condecorar uma pesquisa de cada área de conhecimento, é designada uma comissão para avaliar a originalidade, o caráter inovador e a relevância da tese para o desenvolvimento científico, cultural, social e tecnológico do país. Os autores das pesquisas vencedoras ganham bolsas nacionais de estágio pós-doutoral por até um ano, bem como certificados e medalhas. Os orientadores, por sua vez, recebem prêmios no valor de R$ 3 mil para participar em eventos acadêmicos e científicos nacionais.

Inspiração para a tese surgiu durante atividade sediada no Centro de Ciências da UFJF (Foto: Ciro Cavalcanti/UFJF)

A tese premiada da UFJF – desenvolvida pelo pesquisador Wagner Eiras e orientada e co-orientada, respectivamente, pelos professores Cristhiane Flôr e Paulo Menezes – analisa a participação de crianças de uma turma do quinto ano do Ensino Fundamental, estudantes de uma escola pública municipal, em brincadeiras científicas investigativas (BCI). Tratam-se de atividades elaboradas com materiais de baixo custo e de fácil aquisição; por meio delas, é possível investigar os princípios de funcionamento de brinquedos científicos. 

De acordo com Eiras, a pesquisa abordou como se dá constituição do protagonismo autônomo das crianças durante as BCI, ou seja, quando elas exercem o papel principal durante as atividades, independentemente da orientação direta de uma pessoa responsável. A partir dessa análise, a tese aprofunda-se em como incentivar as crianças a exercer esse papel durante seu processo de educação acerca da ciência.

“Os resultados obtidos mostram que as BCI incentivam as crianças a exercerem o protagonismo autônomo nas atividades, por meio de ações autônomas de brincar, investigar, enunciar perguntas, hipóteses ou explicações inusitadas, de idealizar e construir coisas, e de socializar suas ideias com outras pessoas, capacitando-as no enfrentamento de desafios. Este estudo também mostrou que as BCI potencializam a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais, levando-as a exercerem o protagonismo autônomo nas atividades educativas”, explica Eiras.

O pesquisador também explica como os resultados obtidos pela pesquisa evidenciam a importância das brincadeiras científicas investigativas serem uma possibilidade acessível aos professores, para, então, acontecer a promoção de atividades incentivadoras do protagonismo autônomo de crianças. De acordo com Eiras, assumir um papel de autonomia e, consequentemente, de responsabilidade, é “fundamental na formação do cidadão contemporâneo”.

O pesquisador Wagner Eiras ao lado da tese premiada (Foto: Arquivo pessoal)

Alegria, esforço e reconhecimento
“Sinto-me reconhecido como professor e pesquisador e fico muito feliz pela Capes focalizar o seu olhar para a Educação em Ciências das crianças, geração do amanhã em nosso país”, afirma o pesquisador vencedor, Wagner Eiras. Coincidentemente, a orientadora da tese premiada, Cristhiane Flôr, desenvolveu uma tese reconhecida com uma menção honrosa pelo Prêmio CAPES há nove anos. Wagner Eiras foi o primeiro doutorando orientado pela professora; ela compartilha que, como conhecia a ligação profunda entre o pesquisador e seu tema de pesquisa, sempre confiou na realização de um excelente trabalho. “Esse prêmio é fruto também do trabalho e empenho de todos e todas que se dedicam à pós-graduação na UFJF no geral, e no Programa de Pós-graduação em Educação em particular. Cada qualificação, banca, participação em evento viabilizados possibilitaram os estudos que culminaram na tese premiada.”

O professor Paulo Menezes atuou como co-orientador da tese – e esteve literalmente presente desde a ideia inicial da pesquisa, uma vez que ministrou, ao lado de Eiras, o curso “Brinca Ciências”, sediado pelo Centro de Ciências da UFJF. “O sentimento é de pura alegria. Em tempos tão duros, com tantos ataques à educação e à ciência, a premiação de uma pesquisa entrelaçada ao ensino de ciências nos anos iniciais da escola básica é um grande mérito que vem nos mostrar, professoras e professores, que a esperança ainda aflora para lembrar que somos muito mais do querem nos fazer crer.”

Outras informações:
Tese premiada
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Programa de Pós-graduação em Educação