Estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) lançam, nesta quinta-feira, 1º de outubro, a websérie “Entre Corpos”. A produção gira em torno da mostra homônima, do grupo de dança urbana de Juiz de Fora, Remiwl Street Crew, apresentada em 2019. O primeiro, de 12 episódios, será divulgado no canal do YouTube do grupo.   

Produção retrata dificuldades e conquistas para montagem do espetáculo Entre Corpos, do grupo Remiwl Street Crew (Foto: Caique Cahon/UFJF)

A série busca trazer uma visão documental dos bastidores do evento. “Entre Corpos” buscou representar na dança as diversas faces e corpos existentes dentro do Remiwl. A ideia para a Mostra partiu do diretor criativo, Thiago Mourão, que idealizou uma dança que passaria por temas específicos, como infância na periferia, masculinidade, solidão da mulher negra, e homofobia, entre outros. 

“Sempre levamos nossa vivência para as apresentações, só que dessa vez de uma forma diferente. Não apenas colocando elementos que mostram nossa força e empoderamento, mas mostrando nossa vulnerabilidade, de forma mais intimista, em uma temática que representa muito, pois expõe um outro lado da gente que as pessoas precisam ver: Como realmente é nossa história.”  

Mourão também reforça a importância da divulgação do processo criativo do grupo. “As pessoas sempre veem o produto final, mas elas não acompanham os seis meses de produção. Somos um grupo periférico de dança urbana, no qual a maioria das pessoas são negras, pobres e não tem acesso às coisas. É complicado construir cultura em Juiz de Fora. Não temos apoio financeiro, nada além dos espaços que a gente ensaia. Temos que trabalhar muito, e quem vê a gente em São Paulo ou no Rio não tem ideia disso.”  

Formato
Após examinar o material bruto, contendo mais de duas horas de gravação, a professora do curso de Cinema da UFJF, Marília Lima, sugeriu transformar o que antes seria um filme documental em uma websérie. A ideia surgiu em função da complexidade do material que as alunas dispunham e de um melhor aproveitamento dele em razão da divulgação.

“Como se trata de um trabalho voltado para um grupo de dança importante na cidade e, portanto, um trabalho que pode ajudar na visibilidade do grupo, o formato de série para a internet se encaixou bem nesse intuito de promoção. Se fosse um documentário, provavelmente ficaria com o formato de um média ou longa-metragem, o que restringiria sua exibição a festivais de cinema. O intuito principal da série é apresentar o grupo e sua realidade; por isso, achamos que a internet seria o melhor lugar para sua divulgação”, explica.

Marília também ressalta o tamanho aprendizado fornecido pela confecção da websérie. “Acredito que a produção coloca em prática diversas fases criativas e técnicas do audiovisual. A experiência de uma realização desta forma é fundamental para desenvolver as possibilidades de linguagem, assim como o funcionamento de um organograma de trabalho que demanda um grande tipo de planejamento, desde a pré-produção até sua distribuição.”

Bastidores
A equipe responsável pela elaboração da websérie conta com alunos dos cursos de Bacharelado Interdisciplinar de Artes e Design; Cinema e Audiovisual; Design; Rádio TV e Internet; Artes Visuais; Jornalismo; Pedagogia; e Arquitetura e Urbanismo.  As gravações aconteceram nos últimos quatro meses de 2019, e tiveram sua etapa final de pós-produção concluída durante o período de quarentena e recesso das aulas. 

Uma das produtoras, a estudante de Artes e Design, Eduarda Soares, afirma que o principal intuito era mostrar além do evento, os caminhos percorridos até chegarem ao palco. “Aprendemos muito, principalmente sobre como sabemos tão pouco da correria que os artistas passam. Horas e horas seguidas ensaiando, fazendo ‘sinal’ e vendendo bombom para arrecadar dinheiro para a produção. O que mais ficou presente para mim foi a quantidade de coisas que eles têm que fazer para conseguir fazer a apresentação e como esse espetáculo é importante para o grupo.” 

A estudante de Cinema e Audiovisual, e também produtora da série, Beatriz Guarido, destaca o grande aprendizado. “Eu tenho zero experiência em produção e por ter sido uma experimentação em relação a tudo, aprendemos muito. Na produção em geral, acrescentou muito ter contato com as pessoas, tanto do Remiwl, pessoas com histórias de vida diferentes, quanto com a equipe nesse momento pós-produção. Acredito que isso seja o principal e tem me motivado muito.”

Remiwl Street Crew
O grupo surgiu em 2005, disposto a usar dança e expressão cultural como formas de atrair jovens de Juiz de Fora. Os ensaios ocorriam na Escola Estadual Antônio Carlos, no Bairro Francisco Bernardino. Com sua grandiosidade, expandiu-se para Remiwl Base, em 2014, tornando-se um projeto social que usa das danças urbanas como ferramenta de aprendizado e socialização de jovens e adolescentes.  

Em todo final de ano, o grupo desenvolve uma mostra de dança, repleta de coreografias desenvolvidas pelos professores. Estes eventos contam com temáticas específicas variadas. Em 2019, foi “Entre Corpos”, que deu origem à websérie. Os interessados em participar do projeto podem procurar pelo grupo nas redes sociais Facebook e Youtube.  

Vaquinha
Os alunos começaram uma ‘vaquinha’ on-line no site www.benfeitoria.com/entrecorpos, a fim de arrecadar dinheiro para pagar os artistas envolvidos no processo.  O projeto é totalmente experimental e pode ser acompanhado pelo Instagram 
@webserie_entrecorpos.