Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lideraram uma pesquisa que descobriu uma nova e rara espécie de planta do gênero Lippia, da família Verbenacea. O artigo foi publicado na última quarta-feira, dia 5, em uma edição virtual da revista científica Phytotaxa. A nova espécie foi batizada de Lippia krenakiana, em homenagem ao líder indígena Ailton Krenak, professor Honoris Causa pela UFJF.
As pesquisas fazem parte de um amplo estudo, ancorado pelo projeto Flora do Brasil 2020, no qual trabalham pesquisadores e especialistas, com o objetivo de catalogar uma nova flora para o país.
Segundo o grupo de pesquisadores, a Lippia krenakiana é um pequeno subarbusto aromático, com flores rosas reunidas em pequenas inflorescências, que desenvolvem um sistema subterrâneo que as protegem do fogo em seu habitat natural, os campos rupestres.
A iniciativa contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Alexander von Humboldt Foundation, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Programa Reflora, do CNPq.
Ameaça de extinção
A nova espécie descoberta para a flora brasileira e mineira é ameaçada de extinção, frágil, mas possui adaptações que se desenvolveram ao longo de uma história evolutiva que permitem sua sobrevivência em ambientes hostis, em solos arenosos, conforme explica a professora do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, Fátima Salimena, que participou do projeto.
“Entendemos que as diversas nações indígenas também vêm sofrendo graves ameaças de serem extintas do território brasileiro por falta de proteção e políticas que possam assegurar sua sobrevivência, de sua cultura, patrimônios que foram se perdendo com a invasão do território brasileiro e exploração dos povos originais de nossas florestas”, acrescenta.
De acordo com a pesquisadora da UFJF, a nova espécie é bem característica do gênero. “É uma espécie endêmica da região do Planalto Diamantina, na Cadeia do Espinhaço, em Minas Gerais, onde é encontrada em apenas três localidades; por isso, é criticamente ameaçada”, explica.
Homenagem a Krenak
Ailton Krenak é uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro e vem trabalhando junto à UFJF desde 2014 em diversas atividades, com destaque para o Curso de Especialização “Cultura e História dos Povos Indígenas” e a disciplina “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”. O líder recebeu o título de professor Honoris Causa da Instituição, em 2016.
Um dos autores do estudo é Pedro Henrique Cardoso, que se graduou em Ciências Biológicas e cumpriu mestrado em Ecologia pela UFJF. Segundo Cardoso, que atualmente é estudante de doutorado na UFRJ, a luta de Krenak em defesa da biodiversidade brasileira e dos povos originários do Brasil ratifica a importância da homenagem. “No contexto atual, os povos indígenas têm sofrido constantes ataques. A homenagem é um reconhecimento da valorização desses povos, donos dessa terra, detentores de grandes conhecimentos, que cuidam e preservam a nossa flora”.
Faltando pouco mais de quatro meses para a finalização dos trabalhos da Flora do Brasil 2020, que está sendo realizado on-line, ainda estão sendo encontradas novas espécies para a ciência e em condições de grande ameaça de desaparecimento. Segundo professora Fátima Salimena, é um alerta. “Isso é preocupante, nos leva a refletir sobre nossa presença no planeta, pelo desequilíbrio que estamos causando, pelo massacre aos povos indígenas no país e pela incompetência na gestão de problemas sócio-ambientais no atual Governo”.
O trabalho acadêmico inédito também contou com a participação dos pesquisadores Vanessa Valério (UFJF), Luiz Menini Neto (UFJF) e Marcelo Trovó (UFRJ). Leia aqui o artigo, na íntegra (em inglês).