Renata Dorea se formou no primeiro ciclo do BI de Artes e Design, é  bolsista do LabAfrikas, integrante do Descolônia e credita sua aprovação a rica vivência acadêmica e cultural na UFJF

Entre os dez brasileiros aprovados para estudar na Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV) em Cuba está a aluna Renata Dorea. Estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ela irá cursar TV e Novas Mídias na instituição estrangeira em 2021.

A Escuela Internacional de Cine y Televisión, situada no município de San Antonio de los Baños, é considerada uma das melhores escolas de cinema do mundo. Com poucas vagas disponíveis, o processo seletivo é aplicado em cinquenta países e é constituído por cinco fases diferentes. De acordo com Renata, que realizou a prova em Belo Horizonte, “o processo é bem difícil, indo além de análises de portfólios e outras criações autorais.” 

A estudante conta que conheceu a escola ainda no início de sua graduação quando entrou no Bacharelado Interdisciplinar de Artes e Design. “Uma amiga me apresentou e eu fiquei totalmente apaixonada. Nessa época, comecei a ler os livros do Gabriel García Márquez, fundador da escola. Ele virou o meu escritor favorito. A partir daí, fui me encantando com a questão da cultura latino-americana e me envolvendo com a descolonização, meu tema de pesquisa e trabalho, principalmente vinculado ao estudo da diáspora africana e a descolonização do imaginário da questão afro-latina caribenha e também indígena.”

Quero fazer cinema para ser assistida, produzir um audiovisual que circule em todos os países e resgate essas histórias, dando certa dignidade à memória de quem veio antes de mim

Renata explica que a EICTV tem, entre outros, um compromisso com a descolonização e com as narrativas da vivência latino-americana ─ sendo descrita como “a escola de todos os mundos”. Enfatizando criações da América Latina, África e Ásia, a instituição conta com uma rotina rigorosa e com professores renomados. “Acho que vai ser bastante interessante estudar com professores tão reconhecidos em uma área que eu considero tão ampla e presente no cotidiano das pessoas. Eu quero fazer cinema para ser assistida, quero produzir um audiovisual que circule em todos os países e resgate essas histórias, dando certa dignidade à memória de quem veio antes de mim”, completa. 

A respeito do curso de TV e Novas Mídias, a estudante atrela sua decisão ao fato de acreditar muito no poder da Internet de contar e repassar histórias. Com passagem no Observatório, projeto de extensão da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, Renata passou a entender a força da narrativa seriada e de seus episódios como uma forma de comunicação muito potente e presente na juventude.

Mesmo com o corte das bolsas estudantis financiadas pelo Ministério da Cultura, Renata decidiu fazer a seleção. “Vi que alguns brasileiros começaram a criar outras formas de financiar os estudos, através de parceria com instituições, financiamentos coletivos ou individualmente, por exemplo.” Atualmente, a estudante conta com a ajuda de um financiamento coletivo pelo site Benfeitoria, onde recompensa os contribuintes com obras autorais. 

Interdisciplinaridade e vivência

Renata é bolsista do Laboratório Afrikas de Audiovisual (LabAfrikas), que produz vídeos relacionados à tensões raciais, e também é cofundadora do coletivo Descolônia ─ composto por artistas negros que pesquisam e realizam ações voltadas a descolonização do imaginário. Para ela, a formação interdisciplinar na UFJF e a  vivência no coletivo foram fatores decisivos para seu resultado na admissão. 

“No IAD, existem muitos alunos e professores que acreditam na arte como capaz de transformar, e eu acho que isso fez muita diferença. Recebi apoio de muitos amigos e professores que me incentivaram a continuar estudando e a não desistir de meus sonhos, já que a presença de um corpo negro na área acadêmica ainda é difícil. É um lugar que, por mais que tenhamos uma extrema qualidade artística e intelectual, ainda há resistência. Mas encontrei diversos profissionais e pessoas dedicadas a transformar esse lugar em um ambiente mais amplo, acessível e democrático”, diz Renata. 

Quero criar novos pensamentos e novas histórias, consequentemente criando esperança. Isso, pra mim, é uma forma de revolução.

Além das disciplinas em Artes e Design, a estudante também ampliou seus conhecimentos nos cursos de História, Filosofia e Letras. “Isso foi muito importante na minha formação, e acredito que seja um dos motivos pelos quais os estudantes da UFJF tenham tanta potência em processos seletivos ao redor do mundo.” 

Renata finaliza dizendo que, pra ela, estudar na Escuela Internacional de Cine y Televisión é uma chance de consolidar um nome, de se tornar uma realizadora com um alcance maior. A partir da escola de Cuba, ela será impulsionada a dar saltos ainda mais largos.

“Eu conseguiria, além de aprender coisas novas, valorizar o conhecimento que já carrego comigo. Serei a primeira pessoa da minha família a fazer intercâmbio, assim como sou a primeira pessoa da minha família a entrar numa faculdade federal, então acho que é extremamente importante dar continuidade ao trabalho que já vem de outras gerações. Quero criar novos pensamentos e novas histórias, consequentemente criando esperança. Isso, pra mim, é uma forma de revolução. Mostrar pra uma criança preta que ela é importante é uma forma de revolução.