Mesmo antes da pandemia, a saúde mental já era considerada um dos grandes desafios da contemporaneidade. O aumento exponencial do uso de medicamentos, das drogas lícitas e ilícitas e, de forma geral, do sofrimento mental da população indicam a urgência na abordagem do tema. Um problema de saúde pública, frequentemente negligenciado por políticas governamentais, agora grita de forma contundente.
Para debater esse assunto, os professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Telmo Ronzani e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Isabel Fernandes de Oliveira realizam uma live na próxima segunda-feira, 27. A iniciativa faz parte do “Encontros Possíveis” da Revista A3, com transmissão pelo canal do Youtube às 16h. O tema “Estamos no mesmo barco? Desigualdade e saúde mental na pandemia” será tratado pelos pesquisadores, a partir de suas perspectivas de trabalho dentro da psicologia com foco na questão socioeconômica da população brasileira.
Ronzani tem grande experiência na área de políticas públicas, especialmente ligadas às drogas, e atualmente coordena, junto com outras instituições, um programa virtual de acolhimento de pessoas com sofrimento mental durante a pandemia. Desde abril, mais de 2 mil atendimentos já foram realizados. “Como aconteceu em outras crises sociais e econômicas da nossa história, a área de saúde mental tem sido claramente afetada. Apesar dessa importância e do agravamento ao longo do tempo, esta não é uma área considerada como prioritária e vista apenas como um problema individual”.
Segundo ele, alguns estudiosos têm feito projeções de efeitos crônicos na população tal como aconteceu em outros momentos históricos, entre eles, a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial. Para Isabel de Oliveira, ainda é difícil mensurar os impactos mas há “indícios fortes de que o dano é importante, pois as pessoas se viram privadas dos meios essenciais de garantir sua sobrevivência, da sua rotina, do contato físico e da liberdade”. Na área da psicologia, a pesquisadora tem seus estudos voltados para marxismo, educação e políticas públicas.
O tema da live “Estamos no mesmo barco?” é uma provocação para uma resposta já esperada: não. “Como falar em saúde mental diante de um trabalhador desempregado, que não consegue sustentar sua família, que não tem casa para morar? A saúde mental dele jamais se compara a outro que tem mínimas condições dignas de vida”, argumenta Isabel. Para ela, é importante que a discussão passe pelos modelos produtivos do capital. “A crise econômica paira sobre nossas cabeças e o governo brasileiro, assim como os de outras nações, tem polarizado a questão entre o isolamento (que vai matar as pessoas de fome) e o trabalho (que vai matá-las contaminadas). É preciso que se diga que tal polarização só acrescenta medo, pressão e incerteza num cenário já catastrófico. Eu diria que o normal hoje é não estar normal!”
Segundo Ronzani, a pandemia deixa ainda mais clara e evidente as desigualdades sociais seculares em nosso país. “Isso acontece também na saúde mental, pois o contexto onde vivemos e nossas condições concretas de vida serão fundamentais nas formas de enfrentamento, prevenção e acesso aos cuidados necessários.”
Lives serão disponibilizadas em podcast
As lives do “Encontros Possíveis” irão acontecer quinzenalmente, privilegiando sempre o debate qualificado de pesquisadores da UFJF e convidados. Inscreva-se no canal e ative as notificações para acompanhar todos os encontros.
A mediação do debate é feita pela jornalista Laís Cerqueira, que organiza também as perguntas e comentários dos espectadores. O áudio das lives é disponibilizado posteriormente como podcast e poderá ser encontrado no feed do Encontros A3 nas diversas plataformas como Spotify, Castbox e Anchor.
O podcast da primeira live, com os pesquisadores Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto já está disponível. Professores do Departamento de História da UFJF, eles falaram sobre fascismo e integralismo no Brasil.