Uma viagem pelo tempo necessária para entender os dias de hoje: esta é uma das formas de definir o livro “O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo”, escrito pelos pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto. “O livro tem uma escrita fluida, evidentemente baseada nos fatos históricos, mas sem a tradicional roupagem das publicações acadêmicas”, informa Gonçalves. “Inserimos bastante fotos e ilustrações que dialogam com o texto e facilitam a compreensão do leitor que não tem tanta intimidade com os conceitos historiográficos. A ideia é atingir a todos, sem exceção”, reforça Caldeira Neto.
Na segunda-feira, 13 de julho, às 16h, os dois autores participam do “Encontros possíveis”, promovido de forma on-line pela UFJF, com objetivo de despertar novas possibilidades da divulgação da ciência e da troca de saberes no contexto da pandemia. O evento é vinculado à Revista A3, de jornalismo científico e cultural, e será transmitido ao vivo tanto no Facebook oficial da UFJF quanto no canal da A3. Já o evento de lançamento do livro acontece no dia seguinte, terça-feira, 14, às 18h, no canal da FGV Editora.
A obra
“Compreender a atualidade significa mergulhar no nosso passado”, define Odilon Caldeira Neto. Ao longo das páginas do livro, os pesquisadores contam, de forma didática, como foi a construção de parte da história do Brasil sob a influência do fascismo, bem como os reflexos dessa trajetória nos dias atuais – como o ataque à produtora Porta dos Fundos em 2019. “No início, o movimento integralista era organizado sob influência do fascismo original”, explica Leandro Gonçalves. Plínio Salgado (futuro líder dos camisas-verdes, como era conhecido o movimento integralista no Brasil) relacionou-se face a face com Benito Mussolini, líder dos fascistas italianos, os camisas-negras.
Salgado fundou a Ação Integralista Brasileira (AIB) em 1932, por meio do Manifesto de Outubro, com elogios à autoridade, críticas aos partidos políticos e ao “perigo vermelho” do comunismo. Os integralistas faziam denúncias de uma conspiração contra o Brasil, apresentavam propostas de um programa social para defender a família conservadora, bem como um Estado de tipo fascista, o Estado Integral – fazendo uso do lema “Deus, pátria e família” –, e consolidavam, entre os seguidores, gestos, bandeiras, símbolos, vestimentas e saudação própria.
Baseado nesses lemas e posturas, o integralismo arrebatou centenas de milhares de apoiadores e relacionou-se até mesmo com Getúlio Vargas; episódios envolvendo o então presidente também são descritos no livro. A morte de Plínio Salgado, em 1975, parecia ser a pá de cal no movimento, mas acabou dando lugar ao neointegralismo. Atualmente, os movimentos são compostos por diversos grupos que mantêm uma intensa agenda de radicalização política. Os autores comentam que seus temas giram em torno do conservadorismo, da misoginia, do antissemitismo e da crítica aos partidos políticos. “Os grupos são atuantes e têm alcance e força nas redes sociais e nas ruas, ganhando cada vez mais adeptos”, ratificam Gonçalves e Caldeira Neto.