Bactérias benéficas serão utilizadas para a criação de uma vacina oral contra a Covid-19 (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, coordena  uma rede de pesquisadores para o estudo dos aspectos clínicos e microbiológicos do novo coronavírus. Atuando em três frentes científicas, um dos focos da iniciativa é a produção de uma vacina oral segura e viável para a prevenção da Covid-19. Em conjunto, os pesquisadores também estudam os fatores ecológicos que possam minimizar a gravidade da doença no trato respiratório de pacientes de grupos de risco e investigam quais vírus estão em circulação em Juiz de Fora e na Zona da Mata.

O coordenador do projeto e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, Cláudio Galuppo Diniz, explica a pesquisa para a vacina oral de forma simplificada: inicialmente, bactérias benéficas aos seres humanos serão modificadas em laboratório por meio de métodos de engenharia genética. Depois, pela via oral (ou seja, ao invés de aplicada por injeção, ela será ingerida), a vacina deverá apresentar ao corpo humano as estruturas do novo coronavírus. O sucesso será observado quando, após essa introdução, o corpo desenvolver imunidade à Covid-19. 

“É uma abordagem metodológica diferente de outras estratégias, como atenuação viral ou utilização de outros vírus recombinantes. Mesmo vacinas em pesquisas mais adiantadas usando essas outras estratégias não alcançaram sucesso até o momento, e não temos garantia que funcionarão. Logo, precisamos de muita gente nessa corrida científica e tecnológica, testando diferentes estratégias vacinais porque, em algum momento, um grupo de pesquisadores vai acertar e toda a sociedade ganha”, pondera Diniz. “Assim, a UFJF está na corrida por uma vacina.” 

“Acreditamos que nossa estratégia pode gerar uma vacina desenvolvida em uma universidade pública e com tecnologia nacional, cuja produção em massa é economicamente viável”

Em relação à estimativa para a conclusão do produto, Diniz reforça o respeito ao tempo necessário para soluções científicas de qualidade – e, no caso da atual pesquisa, do desenvolvimento de uma tecnologia nacional. “Mesmo que a gente chegue com atraso, é bom ter diferentes vacinas disponíveis, pois outras variáveis, como transferência de tecnologia, custo e produção em massa também são importantes. Acreditamos que nossa estratégia pode gerar uma vacina desenvolvida em uma universidade pública e com tecnologia nacional, cuja produção em massa é economicamente viável. Há também a possibilidade de a plataforma tecnológica estabelecida poder ajudar na contenção de outras doenças.”

Rede de pesquisa
O pesquisador ainda destaca que o atual projeto foi pensado em momento importante em que a Universidade tem oferecido seu potencial científico e de prestação de serviços em parceria com a rede pública que compõe o Sistema Único de Saúde (SUS). A iniciativa surgiu no Centro de Estudos em Microbiologia (Cemic), localizado no ICB, um dos espaços da Universidade que está habilitado para realizar os testes para diagnóstico molecular da Covid-19. 

A equipe do projeto de pesquisa coordenado por Diniz surge, então, da integração de pesquisadores que trabalhando juntos nos testes de diagnóstico realizados na UFJF, reunindo microbiologistas com formação em fisiologia microbiana e biologia molecular, incluindo conhecimentos em microbiologia médica, genética microbiana e em viroses respiratórias. A proposta conta, ainda, com parceiros vinculados à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), à Universidade de São Paulo (USP) e à Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Na UFJF, integram a equipe os professores Aripuanã Watanabe, Alessandra Machado, Vanessa Dias e Vânia Lúcia da Silva, todos vinculados ao Cemic. 

Outras frentes científicas
Além do desenvolvimento da vacina oral, o grupo trabalha em mais duas frentes científicas. Uma delas é o estudo dos novos coronavírus circulantes em escala local, em busca da compreensão de aspectos epidemiológicos e biológicos virais na região da Zona da Mata. A outra frente é dedicada à comparação da estrutura da microbiota do trato respiratório superior de pacientes diagnosticados com a Covid-19, não apenas para a compreensão sobre a evolução da doença, mas também para a criação de estratégias terapêuticas que resultem em melhores prognósticos em casos graves da doença.

Para informar maiores detalhes sobre todas as frentes do projeto, o portal oficial de notícias da UFJF divulga, nos próximos dias, duas matérias subsequentes a esta. Os links a seguir serão atualizados à medida que a série for atualizada: