A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi uma das organizadoras do 1º Congresso da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), cujo tema foi “Realidade e futuro da universidade federal”. Inteiramente virtual, o evento, que pode ser acompanhado pelo Youtube, teve início nesta quarta-feira, 17, e vai até a quinta, 18, respeitando a orientação de isolamento social da Organização Mundial da Saúde.
Após algumas colocações institucionais, o diretor do Colégio de Gestores de Comunicação das Universidades Federais (Cogecom) e da Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra, iniciou a programação da tarde apresentando a pesquisadora da Unicamp, colunista da Folha e coordenadora da Agência Bori, Sabine Righetti. A jornalista fez a apresentação cujo tema era: “Desafios da comunicação das universidades para divulgação científica”.
Sabine iniciou sua fala destacando o cenário científico brasileiro antes da pandemia de Covid-19. Segundo ela, é importante lembrar o que estava acontecendo com as instituições públicas neste período. “Estávamos em um momento anticiência em que cientistas tinham que vir a público falar que a terra não é plana e que vacinas são importantes”, lembra. A pesquisadora também citou a baixa formação científica da população brasileira. De acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), 90% da população não sabem nomear um cientista ou instituição de pesquisa.
A comunicação entre pesquisadores e jornalistas
Segundo a pesquisadora, os cientistas são pouco familiarizados na relação com a imprensa e normalmente não são treinados para falar sobre suas pesquisas com jornalistas ou com qualquer pessoa que não sejam pares. Em um cenário pandêmico, quando a população busca sobre notícias a respeito da doença e informações sobre pesquisas para o tratamento e desenvolvimento de uma vacina, a conversa entre cientistas e jornalistas é, mais do que nunca, indispensável. “Todos os jornalistas viraram da noite para o dia jornalistas de ciência. Jornalistas de outras áreas tiveram que pegar estudos científicos, descobrir como foram feitos, conversar com os autores. De repente a ciência virou o maior foco. Várias instituições de pesquisa e cientistas estão sendo mencionadas em jornais. Isso é histórico”, aponta Sabine.
A produção científica cresceu significativamente. Sete estudos sobre Covid-19 são aprovados por hora. “Como fato raro na ciência, pesquisadores de todas as áreas do conhecimento estão olhando para a mesma questão. O Brasil está entre os 15 países do mundo que mais publicam sobre coronavírus, temos cientistas produzindo em um ritmos acelerado como nunca aconteceu”, revela a pesquisadora. Por isso, os jornalistas precisam de ajuda em todas as áreas de conhecimento.
Sabine é uma das desenvolvedoras da Agência Bori, uma iniciativa criada para conectar o conhecimento inédito produzido por pesquisadores brasileiros a jornalistas de todos os tipos de veículos de comunicação do país. “Hoje temos 977 jornalistas cadastrados que podem entrar na ferramenta e buscar estudos e fontes novas. A agência virou um hub para jornalistas. Como já temos a tecnologia para compilar todos os estudos brasileiros, também compilamos todos os estudos nacionais sobre o coronavírus”, esclarece. A agência também organiza webinars para que jornalistas possam tirar dúvidas com pesquisadores.
Ao final da fala de Sabine, o presidente da Andifes, João Carlos Salles Pires da Silva (UFBA), destacou a importância de as universidades focarem em mostrar para a população em geral todo o conhecimento desenvolvido em pesquisa, ensino e extensão. “Nesse momento, as universidades devem mostrar sua natureza e fazer com que seja bem conhecida no volume das pesquisas, na sofisticação, que é própria das universidades. Precisamos apresentar uma proposta robusta porque o que está em jogo é o futuro da universidade pública no país.”
Márcio Guerra completou dizendo que o tripé ensino-pesquisa-extensão precisa incorporar mais um enfoque: a comunicação. “essa pandemia vem reforçar algo que nós, comunicadores, temos como muito claro na nossa forma de pensar a respeito do futuro das universidades, nós entendemos que a mesa tem que ter um quarto pé: a comunicação, sem ela eu acho que não temos condição de sobrevivência.”