Na segunda-feira, 8, a líder da unidade de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, em resposta a um questionamento da imprensa, disse que seria rara a transmissão do novo coronavírus por pessoas assintomáticas – ou seja, que estão infectadas e não apresentam sintomas. Horas depois, nesta terça-feira, 9, Van Kerkhove classificou a resposta como um mal entendido e explicou que sua fala foi baseada em um número limitado de estudos feitos em situações específicas. De acordo com ela, alguns modelos apontam que até 40% das transmissões podem estar acontecendo por pessoas assintomáticas. O diretor de operações da OMS, Michael Ryan, afirmou que estão “absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo”.

O primeiro passo para entender que não é simples classificar pacientes como assintomáticos é a existência de indivíduos pré-sintomáticos

A declaração inicial repercutiu mal entre pesquisadores em todo o mundo, além de ser utilizada para justificar o enfraquecimento do isolamento social e do uso de máscaras pela população, dois métodos que, comprovadamente, ajudam diretamente no combate à pandemia. Atualmente, diversos cientistas estão desenvolvendo pesquisas para compreender todas as formas de contaminação do novo coronavírus, sendo que estudos já apontam que indivíduos que não manifestaram sintomas podem infectar outras pessoas. 

O primeiro passo para entender que não é simples classificar pacientes como assintomáticos é a existência de indivíduos pré-sintomáticos: são pessoas que não apresentam sintomas nos primeiros dias de infecção, mas, mesmo nesse início, já transmitem o vírus. O pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Aripuanã Watanabe, explica que, para especialistas afirmarem com certeza quais são os tipos de pacientes que não transmitem a doença, é necessário uma testagem rigorosa e um rastreio complexo. “É preciso seguir um grande número de indivíduos com diagnóstico positivo para o novo coronavírus, confirmado por testes laboratoriais, verificando uma série de elementos, como qual a carga viral de cada um, se as pessoas próximas a eles são contaminadas e, também, como esses próprios pacientes foram infectados.”

Mesmo se a carga viral em algumas pessoas for menor, não significa que quem for contaminado por elas apresentará um quadro menos grave

Mesmo se a carga viral observada em indivíduos for menor, não significa que as pessoas contaminadas por eles apresentarão um quadro menos grave. O pesquisador Aripuanã Watanabe, doutor em virologia clínica, explica que, até o momento, o que parece determinar mais a gravidade da Covid-19 é a presença de fatores de risco em pessoas infectadas, como hipertensão, diabetes, cardiopatia, pneumopatia e obesidade. 

O virologista ressalta a informação divulgada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, sobre a transmissão aérea via aerossol, ou seja, gotículas menores. Elas são geradas principalmente por meio de tosse e espirro. “A recomendação geral do uso da máscara tem valido para diminuir essa transmissão via aerossol, pois são gotículas que permanecem no ar por mais tempo e percorrem uma distância ainda maior do que gotículas maiores, que, normalmente, alcançam até um metro e meio – por isso também a importância de mantermos o distanciamento. Até que se desenvolva um medicamento eficaz ou, principalmente, uma vacina, nós só temos essas armas para lutar contra esse vírus.”