Em visita à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) na última sexta-feira, 21, a deputada estadual Beatriz Cerqueira reuniu-se com a administração superior da Universidade para uma conversa sobre o Fórum Técnico “Minas Gerais pela Ciência: por um desenvolvimento inclusivo e sustentável”. Realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o evento é dividido em etapas regionais pelo estado, recolhendo sugestões da população para o desenvolvimento do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.

A UFJF será a realizadora do primeiro encontro regional do Fórum Técnico, marcado para o dia 9 de março, às 8h, no Centro de Ciências. As inscrições gratuitas e abertas ao público já estão disponíveis on-line. Em entrevista para o portal oficial da UFJF, o reitor Marcus David e a deputada estadual Beatriz Cerqueira discorrem sobre como funcionam os debates para a construção do Plano Estadual, que setores devem participar e qual a importância, tanto para o estado quanto para as universidades, de fortalecer políticas públicas voltadas para a ciência e a tecnologia.

Reitor explicou a importância de receber o Fórum Técnico (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

UFJF: Qual a importância de discutir e elaborar de um Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação?
MARCUS DAVID: Minas Gerais, como todo nosso país, tem o grande desafio de estabelecer um projeto de desenvolvimento econômico que seja sustentável, capaz de superar desigualdades sociais e de colocar o Brasil efetivamente em condições de competição global. Para isso, é absolutamente fundamental o caminho do desenvolvimento de políticas de ciência e tecnologia dentro de instituições de pesquisa, que possam se transformar em inovações de produtos e processos para empresas brasileiras, especialmente as empresas mineiras. Então, esse esforço de estabelecer um plano consistente, debatido com ampla participação, para estabelecer essa política de ciência, tecnologia e inovação para o estado é a forma de garantir condições consistentes e sustentáveis de desenvolvimento econômico para Minas. 

Um ponto importante a se destacar é que Minas Gerais tem uma matriz de produção para exportação muito baseada em commodities. E nós precisamos ter capacidade de produzir e exportar produtos de maior valor agregado. Isso depende fundamentalmente de uma política de ciência e tecnologia. E Minas tem uma rede de ciência e tecnologia muito forte – o que nós precisamos é de uma política que seja capaz de pegar todo esse conhecimento instalado dentro das universidades e aproximá-lo do setor produtivo para gerar inovações.

UFJF: Qual o papel da UFJF nessa elaboração?
MARCUS DAVID: A política de ciência e tecnologia depende fundamentalmente de instituições de pesquisa qualificadas, independentes. Minas tem uma importante rede de universidades públicas e de outras instituições de pesquisa. Para a UFJF, como uma dessas universidades mineiras, pública e de qualidade, participar desse esforço de elaboração de uma política para o estado é muito importante, porque estimula internamente o desenvolvimento de pesquisas básicas e aplicadas, que nos permite desenvolver ciência e tecnologia e nos aproximar do setor produtivo, permitindo condições para que essa pesquisa seja apropriada para as empresas mineiras e, dessa forma, gere capacidade de crescimento. Além disso, temos o fato de que o primeiro encontro regional se dá em Juiz de Fora, se dá na UFJF, e isso é muito importante para a nossa instituição.

UFJF: De que maneira a participação dos diversos setores de Juiz de Fora e região nessas discussões podem contribuir para a melhora das políticas públicas de ciência e tecnologia na Zona da Mata?
MARCUS DAVID: Uma política de ciência e tecnologia deve ser capaz de unir o poder público, o setor empresarial e as instituições de pesquisa. Então, a universidade receber esse evento envolvendo outras instituições de pesquisa e, principalmente, estar aberta a receber o setor produtivo e ter a parceria do poder público local – criando essa união que certamente gera muita sinergia entre esses três grupos de atores – é uma condição fundamental para o desenvolvimento de uma política consistente. 

UFJF: Como um maior investimento em ciência e tecnologia pode contribuir para as pesquisas desenvolvidas na UFJF
MARCUS DAVID: A política de ciência e tecnologia, sem dúvida nenhuma, demanda investimento. Os países que encontraram o caminho de desenvolvimento econômico tiveram investimento relativo ao seu produto interno bruto (PIB) sempre muito elevado em ciência e tecnologia. O Brasil está muito abaixo da média global de investimento nessa área. É importante que essa política procure identificar fontes para esse financiamento, que necessariamente terão que ter uma parcela significativa do estado. Você não faz política de ciência e tecnologia dependendo exclusivamente do investimento privado – você depende do investimento público. 

Deputada estadual frisou importância de participação ampla e heterogênea (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

UFJF: Por que podemos considerar importante a elaboração do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação?
BEATRIZ CERQUEIRA: É uma agenda fundamental para o desenvolvimento de um país. Nós vivemos uma crise nessa área, com retrocessos e cortes de recursos, e são áreas geracionais; o que você começa agora, você não termina daqui a seis meses ou no ano que vem: os resultados vêm no desenvolvimento da sociedade. Portanto, é fundamental que o estado proteja e tenha diretrizes e metas sobre ciência, pesquisa e tecnologia. Minas Gerais ainda não possui, então, por isso a importância da elaboração de um plano que vem exatamente neste momento da necessidade de ser propositivo e disputar essa pauta na sociedade.

UFJF: Por que foi escolhido estabelecer um Fórum Técnico para discutir a composição do plano?
BEATRIZ CERQUEIRA: A Assembleia Legislativa tem vários instrumentos de participação da sociedade: audiências públicas, debates públicos, seminários, legislativos… E aquele que possibilita a melhor interiorização – ou seja, sair de Belo Horizonte, ou vir às pessoas mais próximo de onde elas estão – é o Fórum Técnico. Nós conseguimos, graças ao empenho do presidente da Casa, o deputado Agostinho Patrus, ampliar essa participação para nove regionais. Então, teremos condições de ouvir muita gente em sua região; é a Assembleia indo ao território onde as pessoas, as universidades, as escolas, as instituições de pesquisa estão, para a construção desse processo.

UFJF: Por que motivo Juiz de Fora foi escolhida para receber a primeira dessas etapas?
BEATRIZ CERQUEIRA: Nós temos aqui uma tradição importante com a UFJF e a Zona da Mata tem um papel importantíssimo no desenvolvimento do estado. A própria proposta do Fórum é “Minas Gerais pela ciência – por um desenvolvimento sustentável e inclusivo”. Por isso estamos aqui: o protagonismo da Universidade e da região falam por si. Também foi muito importante a acolhida que a UFJF teve com a pauta da elaboração do plano.

UFJF: Durante as reuniões, qual a importância da participação de um grupo heterogêneo, ou seja, formado por representantes de diversos setores, nas discussões?
BEATRIZ CERQUEIRA: Nós estamos fazendo uma atividade do poder legislativo – e ele pressupõe essa diversidade. Não pode ser um lugar de pensamento único, que a gente omite ou amordaça o pensamento do outro, muito pelo contrário. Então, é fundamental que nós tenhamos as instituições de pesquisa, as universidades, a educação básica… O cientista e a proteção da ciência e da pesquisa começa na educação básica; não é uma exclusividade da universidade, é uma questão de sociedade. Se nós não tivermos a continuidade de pesquisa, inovação, desenvolvimento tecnológico, a sociedade não se desenvolve. E quem vai cuidar disso é a própria. Nós precisamos, cada vez mais, conversar sobre isso, e o lugar dessa conversa e desse aprendizado é na educação básica. Então, por isso, quero muito reforçar a importância da educação básica estar conosco. 

Quem serão nossos próximos cientistas? Quem se dedicará à pesquisa – um processo longo, geracional, que precisa de grande dedicação, que demora a receber reconhecimento? São aqueles jovens que, hoje, estão na educação básica. Então, ela é fundamental.

Os órgãos de governo – tanto o municipal, quanto os regionais e do estado – também são fundamentais, porque é preciso a participação do poder executivo. E a própria sociedade: todos que queiram contribuir com essa pauta são bem-vindos, porque o retorno é para todos nós. Por isso que a pesquisa, a ciência, a tecnologia e a inovação precisam ser protegidas pela sociedade. E é a isso que se dispõe a Assembleia ao realizar esse fórum técnico.

UFJF: Constituído o plano, de que maneira suas proposições deverão ser colocadas em prática?
BEATRIZ CERQUEIRA:  Esse processo da construção do Plano já nos traz um acúmulo coletivo muito grande. Nós conseguimos reunir instituições que pensam e defendem a pesquisa e a ciência, mas que não se encontravam. Então, o próprio Fórum possibilitou esse encontro, essas ações conjuntas e a construção de um diagnóstico sobre o tema no estado. Só isso já é muita coisa, porque reunimos muita gente bacana, com disposição de constituir esse processo. Quanto mais participação popular, mais força terá o relatório final do Fórum Técnico; e mais força teremos para transformar o relatório final dele em dispositivos – sejam leis, sejam outros instrumentos legislativos – para colocá-lo em prática.

UFJF: Você considera que essa iniciativa possa servir como exemplo para outros estados do país?
BEATRIZ CERQUEIRA: Espero que sim. A melhor forma de você responder uma agenda regressiva é com proposições. Então, esse foi o nosso esforço na comissão de educação. Nós temos nos dedicado muito à agenda da pesquisa, ciência e tecnologia. Em geral, comissões de educação de assembleias legislativas focam na educação básica – o que é correto, mas nós estamos nesse exercício de ampliar para a educação superior, o diálogo com a universidade, os institutos federais, as instituições de pesquisa. Por isso, conseguimos construir esse Fórum Técnico. Deixamos, então, essa iniciativa de exemplo para que possamos fazer essa construção pelo país afora.