“A primeira coisa que temos, antes mesmo do nascimento, é a invisibilidade e um não-lugar”. Assim começa a fala da jornalista e mestranda em comunicação, Maristela Rosa, durante a participação na roda de conversa “Representação e Autoimagem Negra”. A atividade, realizada nesta sexta, no Instituto de Ciências Humanas (ICH), integra a 2ª Calourada Preta da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).   

Atividade, que integra 2ª Calourada Preta, teve a participação de jornalistas e pesquisadores sobre o tema (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

“Estamos lutando por uma coisa básica, que é o direito de ser visto como pessoa. Uma pessoa com sentimentos, com oportunidades. Nós, negros, somos representados na mídia como força braçal, como mulheres sexualizadas ou componentes de um espaço de servitude”, destaca Maristela, que têm o tema como objeto de pesquisa da sua dissertação. A jornalista também diz que a comunicação tem um papel central na construção da autoimagem da mulher negra forte, que tudo suporta e que está feliz com esse retrato. 

Além de Maristela, a jornalista e criadora de conteúdo do canal Papo de Preta, Natália Romualdo, e a graduanda e participante do projeto “Mulheres realmente reais”, Meiriele Barbosa, mediaram as discussões sobre o corpo negro, a estética, e a importância da mídia na construção da autoimagem pessoal e social de negros e negras. A roda de conversa também motivou a troca de experiências e vivências entre os estudantes.    

“Não é só um cabelo”
No que diz respeito ao mercado de trabalho, Natália evidencia os números alarmantes de pesquisas recentes. De acordo com o levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 23% dos profissionais da área são negros e negras, fato que entra em conflito com a própria formação da população brasileira, composta majoritariamente por pretos e pardos, avalia a jornalista. “Quando consideramos grandes veículos, como O Globo, apenas 26% das colunistas são mulheres; e 9% são negras. A sociedade não quer que descubramos nosso potencial. É uma luta diária e não é fácil”, ressalta.

O diálogo sobre o processo de transição capilar e os impactos dessa mudança na autoimagem da mulher negra foram abordados pelas convidadas como um tema central a ser discutido no movimento negro. Natália conta que um colega de profissão só foi efetivado em um empresa após cortar o seu cabelo. “Não é só um cabelo. Nunca nos deixam pensar que é só um cabelo. É ensinado que é ruim, não é adequado, não é bonito. Perder oportunidades por sermos negros e negras é uma violência. A retirada do poder de escolha é desumanizadora”, complementa Maristela. 

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