Cerca de 20 adolescentes assistiram ao filme “O Abutre”. A sessão foi resultado de uma parceria entre dois projetos de extensão da UFJF-GV. (Foto: Divulgação/Projeto Ação, Cidadania, Juventude e Comunidade)

Se vivos fossem, Georges Meliès e os irmãos Lumière provavelmente estariam felizes vendo a invenção deles indo além do entretenimento e servindo como um instrumento de aproximação do meio acadêmico com a comunidade, como aconteceu na noite da última quarta-feira, 30.

Cerca de 20 adolescentes em situação de vulnerabilidade participaram da exibição de um filme promovida pelo “Ecos no Cinema”, um projeto de extensão do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV). Esses meninos e meninas do bairro Turmalina assistiram “O Abutre” e, logo após a sessão, participaram do debate contando suas experiências no bairro onde vivem. Questões como a violência e o uso de armas dominaram o debate.

Integrante do “Ecos no Cinema” e responsável por mediar as discussões sobre o filme, a professora da UFJF-GV considerou positiva e desafiadora a participação dos adolescentes. “É uma experiência nova porque normalmente o nosso público já são os alunos da UFJF. A gente está com a ideia de expandir o projeto para todos os cidadãos de Governador Valadares, e estar com os meninos é um desafio”, afirmou Fernanda Venturato.

A ideia de mudar um pouco a rotina desses adolescentes partiu de outro projeto de extensão do campus, o “Ação, Cidadania, Juventude e Comunidade”. Como o principal objetivo da iniciativa é entender as vulnerabilidades do bairro e agir para minimizá-las, a equipe do projeto considerou que o cinema seria uma boa maneira de aproximá-los da universidade e cumprir essa meta, como explica o coordenador Bráulio Magalhães:

“É um momento para esses meninos terem voz, e é importante que a comunidade acadêmica ouça-os. E nada mais legítimo do que os próprios moradores do Turmalina, sobretudo os jovens, falarem das coisas que os incomodam e os estigmas de toda uma questão social pela qual eles são prejudicados com essa desigualdade social. Então foi um ótimo momento de entretenimento para eles se sentirem sujeitos de direitos”, afirmou.

A socióloga Merly Gonçalves Correia é coordenadora do serviço de convivência do Instituto Nosso Lar, que presta assistência aos adolescentes. Segundo ela, a atividade atua como incentivadora do contato deles com novas realidades. “É importante pela oportunidade de não só assistir ao filme, mas de debater, discutir, problematizar, trazer para a realidade deles. Quando eles saem do bairro, estão saindo do isolamento social, pois, na maioria das vezes, não tem cinema e essa oportunidade de debate. Aqui é a oportunidade de fazer isso com pessoas que estão em outros contextos e em outras realidades”, destacou.