De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) o sarampo foi erradicado no Brasil em 2016, quando o país ganhou certificado de eliminação dessa doença. Apenas três anos depois, segundo dados da mesma organização, o cenário já é outro. Entre o início de 2018 e o final do mês de agosto desse ano, o país registrou mais de 10.302 casos da doença e 12 óbitos, o que fez o país perder sua certificação. Somos o segundo país das Américas com mais casos de sarampo registrados no primeiro semestre de 2019, ficando atrás somente dos Estados Unidos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos notificados neste período são os mais elevados desde 2006.
De 2000 a 2017, a vacinação contra o sarampo evitou cerca de 21,1 milhões de mortes, tornando a vacina contra o sarampo um dos melhores investimentos (best buys) em saúde pública. (Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde)
Em 2016, a OPAS/OMS e o Comitê Internacional de Peritos (CIE) para a Eliminação do Sarampo e da Rubéola recomendaram a todos os países das Américas que mantivessem a imunidade da população através da vacinação. “Quando vários países tomam a decisão de não vacinar seus filhos, além dessas crianças correrem risco, a proteção coletiva também passa a ser afetada, permitindo o retorno de doenças e expondo, inclusive, os que não se vacinaram por contraindicações”, aponta Rodrigo Daniel de Souza, chefe do setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente do Hospital Universitário (HU), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Como a vacina funciona
O processo de imunização contra o sarampo ocorre quando o organismo entra em contato com o vírus em sua forma atenuada, ou seja, com suas propriedades virulentas desativadas. Esse contato estimula a produção de anticorpos e ativa células de memória (linfócitos B e T) contra esses germes, o que garante o estabelecimento de imunidade contra o vírus. “Nosso sistema imunológico, ao encontrar um exército fraco, tem tempo para conhecê-lo, criar as melhores estratégias e recrutar mais soldados para combatê-lo, caso voltem mais fortes. A vacina é produzida a partir de um vírus atenuado e os eventos adversos graves são raros. A aquisição é responsabilidade do Ministério da Saúde, que distribui para as Secretarias Estaduais de Saúde e, destas, para os municípios”, explica Souza.
Quem deve se vacinar
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece três tipos de vacina que protegem contra o sarampo; são elas: a dupla viral (protege do vírus do sarampo e da rubéola); a tríplice viral (imunidade do vírus do sarampo, caxumba e rubéola); e a tetra viral (contra o vírus do sarampo, caxumba, rubéola e varicela, também conhecida como catapora).
Segundo o Ministério da Saúde, devido ao aumento de casos de sarampo em alguns estados, todas as crianças de seis meses a menores de um ano devem ser vacinadas (dose extra). Já a primeira dose deve ser administrada para crianças que completarem um ano de idade. A segunda e última dose deve ser tomada aos 15 meses de idade.
Os adultos que comprovam que já tomaram as duas doses da vacina não precisam se vacinar novamente. Já para aqueles que tomaram apenas uma dose até os 29 anos de idade, é recomendado completar o esquema vacinal com a segunda dose.
As pessoas que estão entre 1 e 29 anos e não tomaram nenhuma dose, perderam o cartão de vacinação ou não se lembram se já estão vacinadas precisam tomar as duas doses da vacina. Já para os adultos de 30 a 49 anos, nesta mesma situação, apenas uma dose é necessária. A vacina é contraindicada para gestantes, porque a gravidez abaixa a imunidade da mulher, que fica vulnerável a ação do vírus, mesmo na sua forma atenuada.
Sintomas e transmissão
O sarampo é uma doença altamente contagiosa. Sua transmissão é feita por via aérea, por meio de tosse, espirros, gotículas de saliva expelidas ao falar. Ao contrair a doença, os primeiros sintomas são coriza, tosse, febre alta, irritação nos olhos e mal-estar geral intenso. Com a evolução da doença, podem aparecer marcas vermelhas no corpo, voz rouca, boca inflamada e persistência dos sintomas iniciais. À medida em que o quadro fica mais gravoso, algumas complicações podem ocorrer, como pneumonia, conjuntivite, infecção no ouvido, diarreia e encefalite – sendo que, dependendo da gravidade, podem levar a óbito. A vacinação é a única forma de se prevenir contra a doença.
Fake news e vacinação
Muitos veículos de grande alcance nacional e grupos em redes sociais divulgam e compartilham mentiras, o que provoca muitas dúvidas e temores em relação à vacinação. Um estudo da Fiocruz demonstra que a maior parte das fake news circula em aplicativos de mensagem como o WhatsApp, onde informações são enviadas por pessoas próximas e de confiança, fazendo com que muitos repassem sem verificar as fontes e veracidade daquela notícia.
No início de 2018, muitos boatos circulavam nas redes relacionando vacinação ao autismo. Este mito já foi refutado diversas vezes, por vários estudos. “Infelizmente, o combate às fake news só será efetivo quando responsabilizarmos seus compartilhadores e retomarmos a ideia de aceitar como verdade as informações de sites idôneos e capacitados”, afirma Souza.
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